A pandemia continua em sua marcha inexorável e, no Brasil, recrudesce, causando lotação completa de UTIs e número de óbitos acima de dois mil por dia. Embora o noticiário amedrontador, mais para o apocalipse, mostre o Brasil com o pior dos quadros, na verdade, a situação é, com ligeiras variações, a mesma em todo o mundo, não escapando disso nem os Estados Unidos, excluindo-se, é claro, o país onde tudo começou. Quanto a isso, o futuro poderá confirmar, o que, no momento, é apenas suspeita!
Tire-se também, do quadro geral, o continente africano, a grande surpresa no contexto geral, embora tenha crescido ali o número de casos, pois dada a situação de pobreza da maioria dos países, esperava-se, ali, a tragédia das tragédias com milhares ou milhões de mortos. Mas, a África surpreende, novamente, desta vez com iniciativa de natureza científica a confrontar com cenário de disputa político-ideológica, em curso no Brasil, acompanhada de campanha midiática tendenciosa, cujos objetivos estão longe de estimular a população à esperança por dias melhores.
Desde final do ano 2020, treze países africanos, Burkina Faso, Camarões, Costa do Marfim, Etiópia, Gana, Guiné, Guiné Equatorial, Mali, Moçambique, Quénia, República Democrática do Congo (RDC), Sudão, Uganda e uma rede internacional de instituições de pesquisa se somaram no lançamento de grande e abrangente ensaio clínico para COVID-19.
Denominado ANTICOV, o estudo pretende identificar, com urgência, tratamentos que possam ser usados, com segurança, em quadros leves e moderados da doença para evitar e reduzir a demanda por hospitalização em massa, que poderia levar os sistemas de saúde africanos à sobrecarga. A rede de pesquisa encarregada da execução do ANTICOV é constituída por 26 instituições, africanas e europeias, com principal financiamento por meio do Ministério Federal Alemão para a Educação e Pesquisa. Entre as opções de tratamento exploradas pelo ANTICOV estão medicamentos utilizados no tratamento da malária, do HIV, da hepatite C, infecções parasitárias e certos tipos de câncer. O objetivo é incluir mais opções de tratamento no ensaio ANTICOV logo ao início. Na primeira fase, o ANTICOV concentrar-se-á em medicamentos sobre os quais estudos clínicos aleatórios, em grande escala, podem fornecer a comprovação de eficácia, ainda faltantes em pacientes, de leves a moderados.
“O ensaio começará a testar, contra um braço de controle, a combinação antirretroviral para HIV lopinavir/ritonavir e o medicamento contra a malária hidroxicloroquina, que é o tratamento padrão para COVID-19 em vários países africanos”. De outra fonte transcrevo, ipsis literis,: “A hidroxicloroquina será uma das drogas a serem estudadas inicialmente, porque ainda não existem grandes estudos em vários países sobre a eficácia da droga para casos leves. HCQ continua sendo o padrão de tratamento para COVID em 16 países africanos, portanto, este ensaio fornecerá evidências importantes para informar as políticas de saúde e as diretrizes nacionais”.
Ficam registrados, entre aspas, o contido nos documentos com relação ao medicamento que, se em boa parte da África é tratamento padrão para a COVID-19, no Brasil, o mesmo medicamento é satanizado, já tendo causado demissão de médicos por terem defendido seu uso contra a doença. Segundo os mesmos documentos, o ensaio clínico ou estudo ANTICOV, calcado em base científica e totalmente despolitizado, terá seus resultados integrados e partilhados, de forma aberta e transparente, para alimentar decisões de saúde pública. Os mesmos ainda garantem que o trabalho será feito com todos os parceiros e que os tratamentos, comprovadamente seguros e eficazes deverão estar disponíveis e acessíveis a todos.
Pelo visto, antes que vacinas se mostrem eficazes, na prática, solução mais promissora, no controle da COVID-19, pode vir da África. De países pretos e pobres pode vir resposta a tapar bocas levianas, que insistem em denegrir e acusar, como se donas da verdade fossem quanto ao tratamento de uma doença, que os próprios cientistas confessam ainda pouco conhecer.