Vimos, anteriormente, como poderão se transformar o sistema de produção e o comércio com a aplicação de novas tecnologias, tudo a partir do computador, da informática, da robótica e da internet, fatores desconhecidos do grande público até trinta anos atrás. É possível que, passados mais trinta anos, a tecnologia esteja distante da atual, tal como esta está do primeiro automóvel, dos primeiros telefones, da calculadora manual e da primitiva televisão.
O ser humano, embora muitas vezes se bestifique, carrega em seu interior a centelha da criação, daí a Bíblia dizer que Deus criou o Homem à Sua imagem e semelhança. Isso faz do ser humano um pequeno colaborador, às vezes um tanto atrapalhado, mas com licença divina para prosseguir na obra, que inclui todas as maravilhas tecnológicas, os avanços da ciência, a revolução nas comunicações, o avanço nas artes e tudo mais, incluindo-se a inspiração para este texto. Em muitos casos, alguns costumes e hábitos humanos esquecidos poderão ressurgir com as novas conquistas. Não serão, está claro, da mesma forma, porém levando aos mesmos resultados. É quando se diz que a história se repete, sempre num patamar acima do anterior.
Muitos dos vovôs e vovós, de hoje, vestiram-se e se calçaram, em sua infância e juventude, visitando o alfaiate, a modista, a costureira e o sapateiro. Antes de surgirem as butiques, grandes lojas de roupas e sapatarias, ou melhor, antes de surgirem as grandes indústrias do setor, as mulheres tinham as modistas e costureiras onde encomendar a confecção de suas roupas, o mesmo fazendo os homens junto aos alfaiates. Os sapateiros eram voltados aos consertos e reparos, mas nada os impedia de também fabricar, dando ao freguês (o cliente de hoje) a possibilidade de escolher o modelo e o material a se empregar na fabricação. Esses profissionais eram encontrados até nos pequenos vilarejos. É interessante observar que, no interior brasileiro, a melhor oportunidade para se renovar o guarda-roupa era por ocasião das festas locais, a festa do padroeiro por exemplo. Nos dois ou três meses antecedentes ao evento, tais profissionais recebiam grande volume de encomendas, ficando a ver navios os que “dormiam no ponto”, deixando para fazê-las nos últimos dias.
Tudo foi por água abaixo com a industrialização do setor. Os profissionais dedicados desapareceram, roupas e calçados passaram a ser comprados prontos, bem dito, quase prontos, porque muitas pessoas tinham de voltar depressa da rua para casa, porque o paletó ou o vestido havia se descosturado. Pagou-se muito mico, até a indústria se acertar, melhorando a qualidade dos produtos. Entretanto, nem todos encontram a roupa ou o calçado que lhes sirva, o que não acontecia quando tudo era feito sob medida.
Pois bem, a possibilidade de o consumidor voltar a se vestir e se calçar, sob medida, é muito grande. Nos “pontos digitais”, que poderão substituir as lojas físicas, poderão ser encontradas cabinas eletrônicas, nas quais o consumidor poderá registrar, automaticamente, as medidas necessárias à confecção. Tal tecnologia já existe, talvez, ainda a necessitar de aprimoramento. Como as lojas físicas tendem a desaparecer, o consumidor fará suas encomendas de roupas e de calçados, por meio digital, e as receberá em sua casa. As lojas desse ramo poderão estar entre as primeiras a desaparecer das ruas, antecedidas pelas livrarias, que poderão ser as primeiras, se considerada a situação atual do mercado editorial.
No caso das livrarias, um livrinho com pouco mais de uma centena de páginas requer, do autor, investimento mínimo de cinco mil reais, sem a certeza de venda. Se conta com edição bancada pelo editor, seu retorno em vendas é de apenas dez por cento sobre o preço de capa. Se no mercado do livro impresso tem tudo contra si, no mundo digital o autor encontra todas as facilidades possíveis; é como sair do enfrentamento de furiosa tempestade, e, abrigar-se em local seguro e confortável. Com base nesse quadro e no fato de os dispositivos eletrônicos, incluindo-se os leitores digitais, serem mais aceitáveis pelas novas gerações, pode-se dizer que as livrarias puxarão a fila do fechamento das lojas físicas. No extremo oposto da fila podem estar supermercados e farmácias que, talvez nunca fechem, assim como cafés, bares e restaurantes que, também passíveis de atualizações, se transformarão em locais com muito mais interação humana.