Façamos coisa diferente desta vez. Em lugar do passado, por vezes saudoso, e do presente, por vezes merecedor do esquecimento, ensaiemos um voo ao futuro nas asas da imaginação. Voltada a atenção para a realidade de trinta anos atrás, verifica-se que então, nem de longe, se imaginava como seria o mundo de hoje. Aproximava-se o fim do século, em contraste surpreendente com o seu início, era também o fim do milênio, em contraste assombroso com o seu limiar, mas, como sempre, um olhar sobre o futuro, ainda que não mui distante, seria mero exercício de adivinhação.
Não se trata de dizer, exatamente como será, porém apontar possibilidades, entre algumas variáveis, a partir de um ponto considerado. Prever possibilidades a partir do que se conhece, na atualidade, não é tão difícil como era há trinta anos. Tudo está a apontar para tendências.
Antes que aloprados acusem que se quer bancar o Júlio Verne do século 21, esclareça-se que acima daquele escritor talentoso estava o iluminado, um ser dotado do poder de ver além do que pode o homem comum, sem qualquer apoio na realidade então conhecida. O que se tenta atualmente é apenas deduzir o que será a partir do que é ou está diante de nós. É questão de apenas seguir as tendências. Quem aprecia um bom livro ou filme policial entende o que se quer dizer. A partir de simples detalhe despercebido por todos, exceto o policial arguto, desenvolve-se uma investigação que leva à elucidação do crime, antes considerado insolúvel. De dedução em dedução chega-se à conclusão!
Neste pequeno ensaio de futurologia é, mais ou menos, a mesma coisa. A partir do que se conhece deduz-se o que poderá vir a ser. Se nos últimos anos houve grande transformação na comunicação, aproximando pessoas de ponto a ponto em qualquer parte do planeta, um pouco à frente, no tempo, a grande virada poderá ser no transporte, especialmente no de pessoas. O motor a explosão deverá ser, gradativamente, deixado de lado. O veículo elétrico começa a ocupar espaço, podendo ser seguido pelo movido a ar comprimido, já existente, porém mantido em suspenso, além de outros em desenvolvimento ou que podem ser criados. Contudo, a atenção à propulsão, questão muito importante diante dos cuidados com o meio ambiente, terá como foco, não menos importante, a questão da segurança da pessoa humana. Finalmente, não somente comodidade e mobilidade, mas também segurança de fato será questão fundamental no desenvolvimento e fabricação dos veículos que, entre outros dispositivos de segurança, serão dotados de um que impeça colisão; detectado um objeto à frente, a velocidade é reduzida, gradativamente, a partir de determinada distância, até parar completamente, atingida a distância mínima. Tal tecnologia já existe; necessita, entretanto, ser adaptada para aplicação em veículos rodoviários. A necessidade do condutor será reduzida, gradativamente, até ser dispensado em definitivo.
Mas, para que se reduza ao mínimo o número de acidentes e, consequentemente, de vítimas, outro fator, no deslocamento, deverá receber cuidados especiais. São as vias de trânsito, especialmente as de maior volume. Elas se tornarão inteligentes, mediante implantação de sistema automatizado de controle, em toda sua extensão, sob a pavimentação ou calçamento e nas laterais. Como consequência, em nome da segurança e da ordem nas grandes cidades, o condutor perderá a autonomia, ficando sujeito ao sistema. Ainda com relação aos mesmos fatores, nas grandes cidades, poderá ser proibido o tráfego de veículos particulares, dividindo-se o transporte público em duas modalidades: o coletivo e o individual (até cinco pessoas), ambos totalmente automatizados e sincronizados com as vias inteligentes. Como não haverá disputa pelo tempo mediante manipulação da velocidade, o cidadão terá que aprender a administrar o próprio tempo, porque uma vez embarcado não terá como fugir ao controle. Se embarcar atrasado, chegará atrasado ao destino. Com autonomia, no trânsito das grandes cidades, somente veículos de serviços essenciais e de urgência como ambulâncias, viaturas policiais e de bombeiros. Veículo particular somente para deslocamento a outra cidade não conectada ao sistema, observando-se que ao trafegar por autovia (via inteligente) de longo percurso estará sujeito ao mesmo controle eletrônico de segurança.
Ressalte-se mais uma vez, que se trabalha com possibilidades entre outras aqui não aventadas, mas sempre com base em conhecimentos e recursos tecnológicos atuais. Só o tempo dirá quanto há de acerto e desacerto nessas especulações!