Nylton Gomes Batista
Culpa é um dos sentimentos mais comuns e, ao mesmo tempo, mais debilitantes, que o ser humano pode experimentar. Ela não escolhe idade, classe social ou grau de instrução. Pode se instalar no coração de uma criança, em’ consequência de uma mentira aos pais, em adulto, por traição à confiança de alguém, em idoso ou velhinho, que reconhece, num semelhante, sofrimento consequente de um erro seu na juventude. E, embora invisível, a culpa pesa. Pesa na alma, pesa no corpo, pesa nas relações humanas. Muitas vezes, pessoas amigas, à volta de si, são procuradas para desabafo e busca de conselho, o que, a depender da pessoa consultada, pode ser positivo. Experiência de vida, vivência de situações semelhantes tornam pessoas em boas orientadoras e, portanto, muito úteis à coletividade.
Contudo, também a depender das circunstâncias o melhor é a consulta a profissional da área ou a um ministro religioso.
Culpa é o sentimento de ter faltado com a responsabilidade ou arrependimento por ter cometido erro e causado danos ou transgredido norma moral, social ou espiritual. É uma acusação do interior de si, proveniente da consciência “Você falhou.” E ela pode ser de vários tipos. É real, quando a pessoa, realmente, cometeu erro, cono mentira danosa, furto, ferimento em alguém. Esse tipo de culpa, legítimo e mais tormentoso, a depender do caráter do autor, requer pedido de desculpas ou perdão à vítima, além de prover alguma forma de compensação; somente depois disso, poderá sua consciência estar mais tranquila. Quanto a outros culpados, não tão conscientes do mal, causado a terceiros, podem eclipsar-se, por algum tempo, enquanto aguardam a baixa da poeira, para então voltar com a mesma cara. Embora nenhuma vítima se mostre como tal, a culpa imaginária pode atormentar seu detentor, a ponto de prejudicar lhe a saúde. A pessoa se sente culpada por algo negativo, que não cometeu ou não seria de sua responsabilidade. Tal tipo de culpa é muito comum em pessoas sob pressão da baixa autoestima ou sob manipuladas emocional. Há ainda outros tipos de culpa, mas estes são os mais frequentes.
Registre-se, na oportunidade, o oposto da culpa imaginária, inexistente ou existente tão somente na mente de alguém, que se supõe culpado. Parece brincadeira, mas existe a culpa sem culpado, ainda que não na cabeça de todos, porém na cabeça de quem deveria assumir a responsabilidade pelo erro cometido. Se o agente do erro, delito ou crime não assume a culpa, a sociedade que se cuide; que se cuide na mesma proporção relativa à posição daquele agente dentro da sociedade. Pessoas com tal perfil consideram suas ações legítimas, embora tudo mostre o contrário, e, por isso, combatem os que se lhes opõem, como se estes fossem os errados. Quando detentoras de poder legal, tais pessoas se sentem superiores a tudo e a todos, não hesitando, portanto, em fazer qualquer coisa para atribuir culpa, fator que não reconhecem em si, àqueles que lhes são contrários. Quando, aqui, foi abordado o tema “vergonha”, viu-se que ela, a vergonha é sentimento inexistente na estrutura psicológica de algumas pessoas. Para elas tudo é normal e não há vergonha, assim como não há senso de culpa na cabeça de “não culpados”. Conclui-se que umas e outras detêm o mesmo perfil, e, a ausência de vergonha é consequência da “ausência” de culp, na cabeça do culpado.
Ser culpado e se reconhecer como tal não é o fim do mundo; mas, ao contrário, um indicativo de que a pessoa faz parte da parcela da humanidade com algum bom senso. Errar, todos erram, uns mais outros menos, alguns com maior gravidade, outros com menor. O que faz a diferença é a forma de encarar o erro, assumindo a culpa, além de, dentro do possível, prover para atenuar danos, compensar, de alguma forma, vítima ou vítimas. O que não se admite é pessoa culpada posar de inocente ou, ainda que tenha reconhecido o erro, deixar de, pelo menos, pedir desculpas a quem com direito. E, cuidado! Na multidão, não grite: que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu culpado!