Por Nylton Gomes Batista
Cachoeira do Campo, neste 21 de abril, estará a comemorar importante marca na linha do tempo de sua História, ou seja, o centenário do mais antigo clube de futebol do município de Ouro Preto: o Cruzeiro do Sul Esporte Clube. São cem anos desde que Antônio Sabino dos Santos, após desentendimento, “no campo da praia’, com outro grupo do antigo Cachoeirense Futebol Clube, rumou com seus seguidores para o campinho, improvisado entre árvores de fruta-de-lobo, lá no alto do cruzeiro, onde se associaram ao grupo de adolescentes, que dominava aquele espaço.
Inspirado pela grande cruz de madeira, aos pés da qual estava o grupo, Sabino declarou estar surgindo o Cruzeiro do Sul, ao qual prometeu se dedicar à formação de novos futebolistas, a começar por aqueles garotos que, naquele local já “tiravam rancas” com bola de meia.
Depois dessas primeiras linhas, imagino alguns a criticar: “quero saber com que propósito esse cara se mete a escrever sobre futebol; ele não gosta!” Têm razão, pois não gosto de futebol e não tenho afinidade com nenhum esporte. Mas, isso não invalida a minha admiração por boas iniciativas bem-sucedidas e nem me desobriga de registrar momento histórico, de relevada importância para comunidade, na qual estou inserido desde o nascimento.
O Homem realiza proezas, muitas, diversos tipos e categorias, sozinho na individualidade ou somado à coletividade, com muito ou com pouco dinheiro, mas as que mais perduram, no tempo, quase sempre são as de iniciativa popular, nascidas da espontaneidade, sem qualquer planejamento ou programação. Os cachoeirenses têm que se orgulhar, pois preserva quatro dessa categoria de entidade entre as mais antigas do município de Ouro Preto: duas bandas de música, cada uma a contar mais de 150 anos e os dois mais antigos clubes de futebol, dos quais o Cruzeiro do Sul é o primeiro a completar um século de existência. Assim como o indivíduo deve se valorizar pelo que sabe e pelo que faz, a comunidade também tem que se valorizar. O potencial da comunidade é medido pela qualidade, abrangência da utilidade e perenidade de suas realizações, ao longo do tempo. Nisso, a comunidade cachoeirense é exemplo dignificante! Fábio Nogueira (que não era cachoeirense), irmão coadjutor salesiano e professor no saudoso Colégio Dom Bosco, repetia sempre que “Deus fez Cachoeira do Campo e, logo em seguida, perdeu a respectiva receita”.
Conforme já informado, foi aberta uma página especial, no site OURO PRETO WORLD, onde a história do CRUZEIRO DO SUL está sendo contada; contada e temperada com mais informações sobre a história recente local, para que não se percam os valores, na maioria das vezes, subestimados pelos que os cultivaram e os que cultivam, mas são potencializados entre os que nos descobrem. Para acessar: digitar Ouro Preto World, no Google, clicando, em seguida, no menu “atualidades”. Solicita-se a quem tem fotos antigas de Cachoeira (mínimo de 50 anos) que envie cópias pelo WhatsApp ou as forneça para se tirarem cópias. Casas já demolidas, condições das ruas, especialmente a Rua Santo Antônio, cenas de festas, procissões e tudo mais de natureza pública. Publicar todo o conteúdo em veículo impresso é, praticamente inviável, mas em ambiente digital, o espaço disponível vai ao infinito. Por isso, não se deixem perder oportunidades de registro dos fatos mais importantes de uma comunidade. Entre infinitas outras possibilidades, a internet está aí para isso! A página do centenário do Cruzeiro do Sul é a oportunidade de se conhecer um pouco do passado local.
Embora expulso da banda, não pela instituição, mas por alguns oportunistas mais a colaboração de grupo indisciplinado, que acabou por se evadir, sinto-me com o dever de registrar, para o conhecimento de todos e a posteridade, alguns dos fatos ligados ao Cruzeiro do Sul que, agora, atinge o centenário. A S. M. União Social o apoiou desde a fundação, acolheu-o como seu departamento esportivo e garantiu sua existência até que, adquirida personalidade jurídica própria, decidiu caminhar com suas próprias pernas. Na simplicidade inicial, não se vislumbrou o que ocasionaria o gesto do Antônio Sabino, assim como, resguardadas as devidas proporções, a princesa egípcia, ao salvar o bebê das águas do rio Nilo, não imaginou que do seu gesto surgiria toda a civilização judaico-cristã.