Por Nylton Gomes Batista
Talvez poucos tenham notado, no corre-corre do dia a dia, mas à margem esquerda do ribeirão Maracujá, à jusante da ponte, limites da Praça Coronel Ramos, havia, e não há muito tempo, uma touceira de bambu amarelo, assim como, no lado oposto, ainda há. Alguém já indagou o que foi feito daquele bambual? Onde foi ele parar? Quem fez e como se fez a erradicação? Para alguns pode parecer uma questão tola e ridículas lhes parecerão as perguntas aqui feitas. Entretanto não são.
Em tempos de prisão para quem recorta pedaço de casca de árvore, para preparo de remédio caseiro, o desaparecimento daquela moita de bambu, assim sem mais nem menos, deveria ser alvo de investigação, uma vez que bambu plantado, certamente há mais de século, não se erradica assim como se arranca um pé de alface! Entretanto, a coisa foi feita, sorrateiramente e, de quem deveria partir providências, voz não se ouve, camuflada que está sob o silêncio da população mantida à parte do que seja uma touceira de bambu, na barranca de um rio. Vegetação não se roça, não se corta às margens de cursos d’água, mui menos bambu que, certamente, não nasceu ali, de graça, espontaneamente, como é o que orla o Maracujá em seu trecho urbano. O bambu que margeia o Maracujá entre o casario cachoeirense não está ali para enfeitar, como pode parecer a alguns, pois tem finalidade mais nobre.
Recentemente, discorreu-se aqui sobre a Rua Santo Antônio, ocasião em que foi lembrada a curiosa característica dos degraus, cuja finalidade precípua seria evitar maior erosão, provocada pelo ímpeto das volumosas enxurradas, além do alívio proporcionado à aclividade. Novamente, a erosão entra em cena, ou melhor, pretende-se não a ter em ação, desta vez, contida pela resistência do bambu crescido às margens do Maracujá. Desde os primórdios de Cachoeira, pela iniciativa silenciosa e sem o foco de holofotes, o bambu segura barrancos do Maracujá, então verdadeiramente rio, caudaloso e manso nas estiagens, gigante e voluntarioso nos períodos chuvosos. Serviu a outras finalidades, entre as quais o fornecimento de matéria-prima à construção de primorosas cercas, bem como galinheiros para abrigar o que seria almoço nos domingos, sob habilidade de mãos que assim ganhavam o sustento seu e de suas famílias. Como não podia deixar de ser, as frágeis cercas tinham o objetivo de apenas delimitar espaços, cuja inviolabilidade e segurança ainda tinham por base o respeito entre confrontantes e à propriedade alheia.
O desaparecimento daquela touceira junto à ponte central dá o que pensar, porque mesmo o fogo só consegue extinguir o bambu plantado, temporariamente, ressurgindo a touceira, algum tempo depois, tão viva como antes. Não poucas vezes, ateado por mãos irresponsáveis, o fogo tem sido visto a devorar plantação de bambu, mas, eis que, não passado muito tempo, a touceira verde está de pé novamente! Não se sabe quanto, mas certamente, o bambu está presente às margens do Maracujá há mais de cem anos e, pelo que se sabe, esta é a primeira touceira a desaparecer. Há que não se omitir, como em outros casos, em que a coisa pública foi prejudicada, impunemente, e investigar o que aconteceu. Já nos basta a poluição severa a que chegou o Rio Maracujá; degradação que se espera ser combatida com a implementação da nova política de saneamento básico em curso.
Se providências não forem tomadas quanto à touceira desaparecida, esta pode ser a primeira e ao cabo de algum tempo o bambu terá desaparecido em toda extensão urbana do Maracujá. Aparentemente, o ladrão arrasta tão somente uma corda; mas esta está amarrada a um burro carregado de coisas valiosas que, por sua vez, está atrelado a outro burro, igualmente carregado, que está atrelado a outro, mais outro, mais outro e, enfim, uma tropa inteira atrelada!