Por Nylton Gomes Batista
No texto anterior, minha opinião pessoal sobre o café, como alimento, foi negativa, embora especialistas vejam nele o contrário, hoje teço considerações positivas sobre outras plantas, desconhecidas por muita gente e que, quando conhecidas, são fortemente desdenhadas. Falo das PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) que, nos últimos nos, vêm despertando a atenção de estudiosos, surgidos até mesmo da curiosidade.
Sabe-se que a culinária brasileira é conhecida, apreciada e elogiada por todos que a conhecem ao redor do mundo. Entretanto, ela teria muito mais destaque, se utilizados os demais recursos de que dispõe a flora brasileira. Como folhas comestíveis são mais conhecidas: couve, alface, almeirão, mostarda, brócolis, espinafre, agrião. cebolinha, salsa e algumas outras. Mas, há muito mais! No vasto reino das plantas, existe um conjunto de tesouros culinários, ainda pouco explorados e conhecidos: as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). Estas são verdadeiras joias da natureza, muitas vezes esquecidas ou ignoradas, mas que carregam consigo uma promessa notável para a melhoria e barateamento da dieta dos brasileiros, a preservação do meio ambiente e a diversificação sustentável dos alimentos. Por que essas plantas foram relegadas ao esquecimento? Em parte, a resposta reside, na tradição. Com o passar dos séculos, o povo se acostumou a consumir apenas um conjunto limitado de alimentos, aqueles que se tornaram convencionais em sua dieta. As PANCs foram deixadas de lado, muitas vezes consideradas como “ervas daninhas”, simplesmente esquecidas ou desconhecidas para a maioria, quando não desdenhadas à vista de outros pratos, considerados “chiques e civilizados”, por terem origem estrangeira. No entanto, as PANCs oferecem um amplo leque de benefícios. Entre as mais importantes estão o “ora pro nobis”, o jambu, a bertalha, a taioba, a capuchinha e tantas outras. Elas crescem, espontaneamente, em diversos ambientes, desde quintais até terrenos baldios e, muitas vezes, são mais resistentes a pragas e condições climáticas adversas do que plantas convencionais. Elas não são apenas uma opção saudável, mas também sustentável. Muitas delas são ricas em nutrientes essenciais, apresentando teores surpreendentes de vitaminas, minerais e compostos antioxidantes. Além disso, seu cultivo requer menos insumos químicos e água do que muitas culturas convencionais, o que pode contribuir significativamente para a preservação do meio ambiente.
Minas, especialmente na região de Ouro Preto, destaca-se o “ora pro nobis”, incluso no cardápio de alguns restaurantes e objeto de festival específico. Em seguida vem taioba, serralha, maria arnica, dente-de-leão, malvarisco (um tanto desaparecido), muchoco (também desaparecido), broto de samambaia do campo e cansanção como as PANCs mais conhecidas e consumidas. E o umbigo de banana, em outras regiões denominado coração de bananeira? Durante algum tempo ficou esquecido, mas, agora, retornou com força total, estando presente até em restaurantes bem frequentados. Há quem diga ter sido feito, do umbigo de banana, o recheio original do pastel de angu, destacada iguaria da culinária itabiritense. É possível que tenha sido pois, no passado, bananeiras eram sempre presentes em quintais da Região dos inconfidentes.
Como tornar essas plantas mais conhecidas e consumidas pela população? Educação e conscientização são fundamentais. Iniciativas que promovam a divulgação e o ensino sobre as PANCs em escolas, centros comunitários e meios de comunicação podem despertar o interesse e aumentar o conhecimento sobre esses recursos naturais valiosos. Além disso, políticas públicas que incentivem o cultivo e a comercialização de PANCs, bem como a inclusão delas em cardápios de restaurantes e merendas escolares, podem ampliar sua presença no quotidiano das pessoas. As Plantas Alimentícias Não Convencionais são um convite à descoberta de novos sabores, à ampliação da diversidade alimentar e à promoção de uma dieta mais rica e saudável. Mediante o resgate e valorização dessas plantas, não apenas se enriquecem as refeições, mas também se dá forte contribuição para preservação do meio ambiente e promoção de uma alimentação mais acessível e sustentável para todos.