Segundo dados estatísticos mais recentes, o Brasil está a envelhecer a passos largos, invertendo assim a posição de país jovem, considerada há apenas poucas décadas. O fenômeno é resultante de dois fatores, entrados quase simultaneamente em cena: de um lado, a redução do número de nascimentos (de 5 a 8 filhos por casal) para a média de 2; do outro, a longevidade ampliada graças a melhores condições de vida e avanços da medicina que impedem maior número de mortes antes da velhice.
Se bom para os indivíduos, que conseguem viver mais que seus avós, para a administração pública é uma dor de cabeça a mais. Não é à toa que se trava caloroso debate pró reforma da Previdência, pois diante da expansão da faixa etária acima dos 60, só quem não quer ver defende a intocabilidade do sistema, que padece do caos há muito tempo, mas resiste a mudanças graças à política matreira dos que ganham com o pior, sem falar na corrupção, das mais antigas dentro dos órgãos de governo. Se se quiser implantar um sistema declarado de injustiça, pode-se ter certeza que o modelo ideal está na atual Previdência Social brasileira!
Mas, a situação não seria essa se, no passado, outra mentalidade tivesse formado a cultura brasileira; se não tivesse sido supervalorizado o assistencialismo, a embalar uma nação de coitadinhos, de cabeça baixa e pronta para lamber os pés dos seus ditos “benfeitores”. A verdade é que o brasileiro ainda não aprendeu a andar com as próprias pernas e, enquanto jovem, não lhe é dada nenhuma orientação quanto às perspectivas para a velhice. Seu sonho é ter um emprego bem remunerado, de preferência público, para ter direito às benesses da vida e, um dia, aposentar-se para mais nada fazer. Assim embalado, até consegue realizar alguns projetos como constituição de família, aquisição de algum patrimônio sem, contudo, muito pensar no futuro para si, após aposentadoria. Chegada a velhice, muitos se dão conta de que não estão preparados para ela, seja no sentido material, sem como superar a dependência ao sistema previdenciário, seja no sentido psicológico, sob baixa autoestima, sentimento de inutilidade e renúncia à autonomia em suas decisões de vida.
Preparar-se para a vida após os sessenta anos, não é o que, comumente, se pensa: garantir a aposentadoria proporcionada pela Previdência Social e ter algum patrimônio. Libertar-se da rotina do emprego, do cumprimento de horário – muitas vezes rígido demais – das imposições e animosidades do chefe é o que todos querem. Só não sabem que depois de algum tempo de liberdade vem um grande vazio, se a pessoa não tem outra atividade com a qual preencher o tempo, anteriormente preenchido pelas tarefas quotidianas no emprego. O ócio é muito bom e altamente recomendável como tempero às atividades diárias, mas absoluto e contínuo pode ser a porta para a infelicidade, o mau humor, a depressão e outras doenças. Se esse quadro negativo se prolonga, é quase certo que a morte não demora.
A mente deve estar sempre ocupada com algo útil para si ou para outrem. Não é à toa que se diz: “mente vazia é a oficina do diabo”. Os mais afetados pela condição da velhice vazia, destituída de encantos, são aqueles que, durante o período ativo, sempre fizeram a mesma coisa e não aprenderam trabalhar com algo diferente. Quem, na fábrica, executa trabalho repetitivo, por longo tempo, e não desenvolve alguma habilidade diferente, ao se aposentar fica perdido, como um zumbi entre os familiares ocupados com seus afazeres diários. Quando não se torna fator de atrito doméstico com interferências indesejadas, pode mergulhar na indolência, com baixa autoestima, sentimento de inutilidade. Daí à perda da autonomia é um passo, quando os circunstantes assumem o controle de sua vida, agravando-lhe o sentimento de inutilidade. Para evitar tudo isso e ter uma velhice prazerosa, o caminho é habilitar-se em outra atividade com a qual possa preencher o tempo, que sobra depois da aposentadoria. Felizmente, para os que se aposentam agora, sem saber executar qualquer outro trabalho, há o recurso da internet, onde se pode aprender de quase tudo, além do prazer por ela proporcionado. É preciso conscientizar-se que aposentadoria não significa inatividade absoluta, porém liberdade em relação ao que fazer, quando e quanto fazer, não tendo que responder a quem quer que seja por seu trabalho. Interessante observar que essas palavras dificilmente se aplicam a mulheres, somente a homens. Por, quase sempre, exercerem também atividades domésticas, ao se aposentarem no emprego, as mulheres estão livres do tédio por nada fazer. Aposentadoria não é deixar de trabalhar e ficar de barriga pro ar! E velhice não é deixar de viver!