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Ponto de Vista do Batista
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Ainda a mentira

Por Nylton Gomes Batista
Não há muito tempo, maio deste ano, foram publicados três artigos sobre o tema, mas não resisto ao impulso de voltar a ele, pois a mentira continua em cena, em alta como nunca esteve e, em sendo uma característica inerente à natureza humana, sempre estará. Em terras tupiniquins, rotulam as de determinada categoria com nome estranho à língua do povo, talvez para que este seja levado a pensar tratar-se de algo novo, um crime imperdoável (?), mais graves que os já conhecidos e banalizados. Isso é outra mentira!
Conforme já dito, a mentira, infelizmente, faz parte da natureza humana. Desde tempos imemoriais, o ser humano faz uso dela como ferramenta para enganar, manipular e ocultar a verdade. A mentira pode ser definida como declaração falsa ou distorção da verdade com o objetivo de enganar pessoas ou o público em geral, podendo ser dividida em diferentes categorias. “Mentira branca” seriam pequenas inverdades ou exageros que não causam grandes danos e, geralmente, são usadas para evitar conflitos ou proteger sentimentos alheios; o grupo da “mentira piedosa”, “caridosa” ou “benevolente” integraria omissões da verdade cruel ou manutenção da inverdade junto a pessoas em situação de risco emocional ou psicologicamente fracas;  “Mentira manipulativa”, esta, sim, é séria e pode ser grave, a depender do que ela visa e pode ocasionar, destacando-se  aqui que é empregada em, praticamente, toda a convivência da sociedade humana; “mentira compulsiva” é o grupo de mentiras produzidas de forma constante, muitas vezes sem razão, por pessoas de perfil psicológico alterado, que deságuam na mitomania.
Mente-se por motivos diversos: por covardia ou medo de consequências, ainda que as próprias pessoas sejam causadoras do indesejado, mente-se para obtenção de benefícios pessoais, como recursos financeiros, obtenção de emprego, conquista de posição no meio social e tudo o mais que possa trazer vantagem de alguma espécie; mente-se para satisfação do próprio ego, para proteger sua autoimagem narcisista, ocultando falhas, erros ou comportamento inadequado; mente-se para manipular, influenciar ações e opinião pública, controlar e dominar, em todos os sentidos.
Com o surgimento da internet, área de comunicação aberta a todos, ampliaram-se também oportunidades para a prática da mentira, o que vem a suscitar discussões em torno de seu controle, para coibir inverdades na comunicação. O que deveria ser lembrado, mas ninguém se lembra é que, no passado, o público ouviu mentiras e, por não haver como conferir, nelas acreditava; o falso ficava como verdadeiro e ponto final. O rádio, mediante transmissão da fala, no tempo e espaço exatos do fato, possibilitou comparação com a notícia impressa, permitindo então a constatação de divergências entre um e outro relato. Mas o rádio também fazia das suas e a televisão veio para confirmar a enganação, pois ela própria costuma narrar uma coisa e mostrar outra: o repórter diz que o local é de “difícil acesso” em meio a “mata fechada”, enquanto a câmera mostra todos a se locomover, facilmente, num mato rasteiro, que mal cobre um gatinho. Quem nunca viu isso? Ouvi certa vez, pela televisão, que parte da laje de um prédio público havia desabado, para constatar, posteriormente, pelo mesmo canal, que não era laje, mas pedaço do gesso aplicado no teto. Isso é o mínimo, aberto a quem queira conferir e criticar, mas e o que não chega ao público?
Pois bem; tudo isso acontece do lado de lá e o grande público, ainda assim, sempre a defender a liberdade de imprensa, como deve ser. Por que então, quando o público tem a oportunidade de, pela internet, também se comunicar, interagir, discutir e criticar os fatos, querem lhe podar o direito? Pura hipocrisia! A mentira comanda o mundo e de dentro de sua linha de frente, falsa moral se levanta contra quem tenta desarticulá-la.
Felizmente, gente, a mentira não é só danos e males! Tem também seu lado construtivo, alegre, estimulante, pois, da mentira se vale a literatura com tudo que relata, a partir da imaginação humana, transpondo-se ainda para o teatro, cinema e televisão. O que é ficção científica, senão mentira, até que, muitas vezes, o imaginado se transforme em realidade?

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