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Ponto de Vista do Batista
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A carne na berlinda

Nylton Gomes Batista
Ao falar em alimento, primeira imagem a se abrir na mente do brasileiro é a da carne, embora nem todos dela comam, mas o fato é que a grande maioria não passa, ou não gosta de passar sem ela; segunda hipótese bem mais frequente na atualidade, marcada por altos preços, na carne bovina, o tipo mais consumido. Os que não comem preferem a dieta vegetariana, por um ou outro motivo, incluindo-se o de saúde. Alguns podem alegar proibição religiosa, o que é falso dentro das tradições judaico-cristãs, pois, no Antigo e no Novo Testamento, lá estão o cordeiro e o peixe, regados a vinho, este negado por alguns, mas, suco de uva em seu lugar, embora o texto cite vinho.
Descontada a abstinência espontânea, deixadas à parte bobas e fracas polêmicas, o fato é que a carne é importante e, de modo geral, não pode faltar na alimentação humana. Falem o que quiserem, mas a carninha, ainda que bem pouca, tem que estar à vista no canto do prato, até o momento de ser devorada, como diria a vovó, naqueles tempos difíceis! Gosto de carne, não significando isso que a como em demasia. Gosto muito, porém não de muita carne!
Hoje, o mercado da carne, sob controle de tão poucos, não poderia ter, no primeiro momento, consequência diferente dos altos preços, seguindo-se prejuízos em cadeia, na indústria, no comércio, no mercado de trabalho e… na dieta alimentar! O momento vivido no setor nos remonta a um período bem anterior, na História brasileira, mais especificamente em Minas, no início de sua colonização, início do século dezoito, quando o mercado da carne era, rigidamente, controlado por Manuel Nunes Viana; nenhum bovino era sacrificado e comercializado, sem que nessas ações houvesse participação do Nunes Viana. E tal quem era? Assim como parece não ter havido fiscalização do então colonizador sobre seu comércio abusivo, o que pode ter-lhe mais alimentado a cobiça, registros históricos não dão muita importância a essas atividades. Entretanto, por volta de 1708 Manuel Nunes Viana entende que o mercado de carne não é suficiente para satisfazer sua gula de poder. A frente de um grande número de aventureiros, bem armados, lança-se a tomar para si a mineração do ouro, que cresce na região do Itacolomi e em outros pontos da capitania. É a guerra dos emboabas, cujo chefe é o Nunes Viana! Vence os paulistas, expulsa-os e ainda é “sagrado” governador das Minas Gerais. Onde? Na então pequena ermida coberta de sapé, matriz da paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, a primeira criada distante da Sé, em Mariana. Os emboabas ganharam, mas não levaram, porque a coroa portuguesa interveio, declarou o feito por não feito, assumindo o controle e criando Vila Rica, pouco depois convertida em capital da capitania.
Falava-se de carne, não era? Falava-se e dela continuamos a falar! Alguém já se perguntou sobre a possibilidade de não mais se poder comer carne? Veio-me à mente tal hipótese, depois ver relato de fato insólito. Um homem criava um leitãozinho, desde o nascimento, destinado a futuro almoço festivo com a família e participação de amigos mais chegados. Ele mesmo tratava do animal, acompanhando seu crescimento e engorda, cuidando para que não faltasse carne e gordura, no futuro porco assado no rolete. Chegava o dia! O “tués” estava no ponto e convidados confirmados. À véspera o dono foi levar a última refeição, antes do sacrifício, mas o insuspeitável aconteceu. O pacífico “tués” atacou seu tratador, até deixá-lo inerte e envolto em sangue. Socorrido, não resistiu, e, o que seria festa virou velório!
Se acontecido, conforme narrado, a coisa dá o que pensar. Imagine-se todo animal, na hora de virar comida, rebelar-se contra seu algoz! Seria um pandemônio, digno de filme de ficção cientifica! Rebelião geral dos animais pode ser ficção, mas dúvida também não se pode pôr em possível cardápio sem carne, por motivo diferente de aguçado instinto animal, considerando-se estranhas ideias, que se esboçam perante incautos, aqui e ali, sob argumento de preservação planetária. Nas mãos de tão poucos, a carne bovina pode ser convertida em artigo de luxo, tão rara e cara como o caviar. Quem viver, verá!

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