O Liberal
Ouro Preto
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Paróquias rechaçam manifestações na confecção dos tapetes da Semana Santa de Ouro Preto

Paróquias rechaçam manifestações na confecção dos tapetes da Semana Santa de Ouro Preto

GM atendeu a recomendação das Paróquias de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Pilar e removeu tapetes em homenagem a Marielle Franco e Igor Mendes, vítimas de violência

A confecção dos tapetes de serragem na Semana Santa de Ouro Preto é um momento de muita animação e trabalho em equipe, quando moradores e turistas abusam da criatividade para enfeitar as ruas da cidade para a procissão da Ressurreição, no domingo de Páscoa. Mas este ano, uma ação da Guarda Municipal proibiu um grupo de pessoas de homenagearem a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco e de Ígor Mendes, jovem ouropretano, ambos vítimas de violência. A restrição dividiu opiniões na cidade. A Guarda afirma que estava cumprindo um pedido das paróquias organizadoras, de que os tapetes tivessem apenas cunho religioso. O executivo apoiou o pedido, e algumas pessoas apontaram contradição, tomando por base o tema da Campanha da Fraternidade 2018.

O fato ocorreu na noite do sábado (31) quando um grupo de pessoas confeccionava um tapete na Praça Tiradentes em homenagem à vereadora Marielle, assassinada no Rio de Janeiro e também a Igor Mendes, jovem morto em Ouro Preto durante abordagem questionável da polícia militar, em setembro do ano passado. Um vídeo nas redes sociais mostra guardas removendo os tapetes om os pés. No tapete estava escrito “Marielle Vive”, com o rosto de uma mulher negra. Um dos autores das homenagem garante que a intervenção da Guarda foi abusiva. “As imagens comprovam. Não houve diálogo. Já chegaram impondo a nossa saída e desmanchando os tapetes”, revela. Outro manifestante cita o tema da Campanha da Fraternidade ‘Fraternidade e superação da violência, com o Lema ‘Em Cristo somos todos irmãos’. “Dizem que é um pedido da igreja, que faz campanha de enfrentamento à violência. Essa ação da guarda vai contra tudo isso. Está faltando justamente a fraternidade”, pontua. Um tapete em homenagem ao jovem Igor Mendes, assassinado em Ouro Preto por um policial militar em setembro do ano passado, também foi removido.

Em sua palavra livre, o vereador Geraldo Mendes também abordou o tema na reunião da terça-feira (3). “O tema da campanha é muito oportuno ao que está acontecendo no país. Em outras cidades vizinhas, a confecção dos tapetes fica a cargo de artistas, mas Ouro Preto optou por fazer de forma mais democrática, e isso deveria ser respeitado. Essa ação atrapalhada e despreparada da GM e da Polícia Militar na Praça, demonstra o desarranjo para quem está a frente da Guarda”, ressalta o vereador Geraldo Mendes.

O Prefeito Júlio Pimenta defendeu que as manifestações são legítimas, mas deve-se ter lugar para tal. “Os tapetes pertencem a nossa tradição, é um bem imaterial do município, que tem que ser respeitado. Entendemos que as manifestações são legítimas e bem vindas, mas não são apropriadas para os tapetes da procissão. Temos muitos problemas no país que precisam ser discutidos, episódios que não podem cair no esquecimento para que sejam apurados e os culpados responsabilizados. Mas que isso não seja motivo de desrespeitos das tradições da nossa cidade”, defendeu o prefeito, que ainda enfatizou que a GM “atua sempre de forma ordeira e respeitosa, cumprindo a lei, mesmo que isso desagrade alguns, a lei é pra todos e aqui no município tem ordem e lei”.

A medida foi um pedido das Paróquias de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Pilar, organizadoras da Semana Santa na cidade. De acordo com nota de divulgação, explicou-se que os tapetes remontam à Festa do Triunfo Eucarístico de 1733 e que se direcionam, única e exclusivamente, para o Santíssimo Sacramento que é levado, solenemente, em Procissão. A igreja reafirmou que agiu junto com a Prefeitura e a guarda municipal. “Deliberamos para que se mantivesse esta tradição em respeito à finalidade primeira dos tapetes”. As paróquias ainda argumentaram que respeitam o direito de manifestação, contudo, “entendendo que os tapetes, por sua motivação religiosa, são inapropriados para manifestações político-partidárias, ideológicas e de homenagens a pessoas”.

Já a Guarda Municipal, informou que tentou negociar a retirada dos tapetes, mas sem sucesso.

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