Imagens: Marcos Delamore
Por: Marcos Delamore
No último fim de semana, a Casa da Ópera, em Ouro Preto, completou 255 anos de legado histórico na Cidade Patrimônio Mundial e nas Américas. Em celebração a esse marco, dois encontros musicais comemorativos foram apresentados para a população ouropretana.
O teatro mais antigo em funcionamento das Américas recebeu a dupla Gustavo Fechus e André Vitorino, que apresentou obras de compositores importantes para a música latino-americana, e uma brilhante homenagem de Luciano Luppi e Bruna Guimarães a um dos poetas mais ilustres do modernismo e um dos maiores expoentes da língua portuguesa, o português Fernando Pessoa.
O musicista André Vitorino, que, ao lado de Gustavo Fechus, apresentou “Sangue Latino”, destacou a emoção de se apresentar no espaço que preserva a memória e o legado cultural brasileiro.
“Tenho a honra de participar do aniversário da Casa da Ópera, esse local maravilhoso que completa 255 anos. Me sinto honrado de fazer o que eu mais gosto na vida, que é tocar. Estou muito grato pelo convite e feliz em espalhar as minhas notinhas musicais”, revelou o artista.
Em sua segunda participação no aniversário do Teatro Municipal de Ouro Preto, André comentou sobre sua relação com o espaço. “A Casa da Ópera sempre foi um cantinho prazeroso de executar músicas. Tive muita sorte de manifestar a música aqui. É muito mágico tocar na casa mais antiga das Américas”, disse.
Durante o segundo dia de celebrações, a produtora cultural, Carminha Guerra, agradeceu o convite da Casa da Ópera e parabenizou os artistas por abrilhantar a noite do público. “Agradeço demais ao Roberto Sussuca, que teve a gentileza de fazer esse convite para estar nesse teatro que representa tanta memória e história. O teatro é um templo, o palco é o altar e o público é a vida do teatro. Agradeço aos artistas e ao Fernando Pessoa por nos dar essa inspiração”, expressou Carminha.
O ator e dramaturgo, Luciano Luppi, apresentou, junto à musicista Bruna Guimarães, o espetáculo “Cenas Poéticas Fernando Pessoa”. Para ele, “é uma oportunidade incrível estarmos aqui. Estou muito bem acompanhado, além de Fernando Pessoa, de três mulheres. Uma produzindo (Carminha Guerra), outra dirigindo (Izabella Parreira) e outra atuando comigo (Bruna Gomes)”, informou.
Casa da Ópera
A Casa da Ópera, edificada em 1769 e inaugurada em 6 de junho de 1770, é o mais antigo teatro em funcionamento das Américas. Idealizado por João de Souza Lisboa, o atual Teatro Municipal de Ouro Preto teve, em seu marco histórico inaugural, o aniversário do Rei Don José I, e representa a arte, as tradições do município e o papel de vanguarda para o cenário musical brasileiro.
O diretor da Casa da Ópera de Ouro Preto, Roberto Sussuca, explicou a história do local e celebrou a importância do teatro para a cidade mineira. “Essa é a mais antiga casa de ópera das Américas em funcionamento, pelo fato de ser o único exemplar sobrevivente do século XVIII. Foi um dos primeiros palcos a subir mulheres para se apresentar. Costumo dizer que o teatro tem uma importância maior pelo fato de existir o artista e o público. Do contrário, tudo isso seria apenas uma caixa cênica cheia de histórias”, contou o diretor.
A Casa da Ópera tem capacidade para receber cerca de 300 espectadores, que podem se alocar em 4 pavimentos do espaço internos como: plateia, frisas, camarotes e galerias. O camarote principal era destinado ao governador. Já os camarotes laterais, eram os mais caros, Cenas Poéticas Fernando Pessoa, uma vez que dava status para as famílias que se apresentavam no teatro. O ambiente, marcado pela arquitetura surpreendente e magnífica, preserva um dos patrimônios mais importantes para o país.
Para Vicente Gomes, técnico do Teatro Municipal de Ouro Preto e responsável pela montagem de palco de espetáculos há mais de 40 anos, a Casa da Ópera é símbolo da arte e da cultura do país. “A história do teatro é muito importante para Ouro Preto, para o Brasil e para o mundo. É um teatro aberto para a visitação e recebemos visitantes e personalidades de todos os países. Os espetáculos atraem o público e são destinados para todas as pessoas. O teatro está sempre cheio e cerca de 99% dos espetáculos são gratuitos. A Prefeitura busca trazer a população, em geral, para assistir às atrações na Casa da Ópera”, afirmou Vicente.
Parte da paisagem artística e cultural de Ouro Preto, a Casa da Ópera, desde o período barroco, se revela como um espaço apropriado para a exibição de espetáculos que ressaltam aspectos singulares da sociedade setecentista ouropretana. O local é um dos monumentos mais visitados na cidade. Vicente ainda mencionou os cuidados para a preservação e perpetuação do funcionamento do teatro ao longo dos anos. “O prédio histórico é tombado pelo Iphan e recebe muitos espetáculos. Precisamos ter cuidado com as nossas instalações e evitamos receber eventos com materiais que possam causar danos ao local”, expôs.
O Teatro Municipal de Ouro Preto recebeu, entre os anos de 2022 e 2023, uma reforma estrutural e de pintura, além da implantação de um novo sistema elétrico, de iluminação e de combate a incêndios.
Visitante da Casa da Ópera, Davi Lacerda, exaltou o espetáculo e demonstrou emoção em contemplar a arte no teatro. “Foi a minha primeira experiência e meu primeiro evento aqui na Casa da Ópera. Foi muito legal. Confesso que nunca fui a muitos concertos de violino e piano, mas gostei muito dessa primeira experiência. Para mim, está sendo muito enriquecedor morar em uma cidade recheada de história e cultura, como Ouro Preto. Viver essa experiência, aqui na Casa da Ópera, um lugar com mais de 200 anos, pode ter certeza que foi muito especial pra mim”, relatou.
Os 255 anos da Casa da Ópera a retratam como símbolo da preservação da história e das tradições culturais brasileiras. Ademais, é uma oportunidade de observar e pensar sobre a valorização e reconhecimento do teatro para o desenvolvimento da memória coletiva e para a democratização do acesso à arte e à cultura nacional e internacionalmente.
A Casa da Ópera recebe visitantes, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h. O prédio está situado na Rua Brigadeiro Musqueira, nº 68, no Centro Histórico de Ouro Preto. O teatro busca promover o acesso a um dos patrimônios culturais mais relevantes do Brasil.