Imagem: Marcos Delamore
Ato foi mobilizado em favor da liberdade de manifestação e reivindicação do direito de lutar em prol da comunidade
Por: Marcos Delamore
Na terça-feira, dia 04 de fevereiro, os atingidos e atingidas pelas atividades mineradoras em Antônio Pereira, em conjunto com coletivos sociais, realizaram, no Fórum de Ouro Preto, uma manifestação de solidariedade e resistência pela comunidade do distrito para assegurar a liberdade de expressão e viabilizar a luta por direitos frente à acusação de criminalização das vítimas pela Vale. Enquanto acontecia o ato, sucedia uma audiência movida pela Vale contra as mulheres de Antônio Pereira.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é um movimento social cujo objetivo é estruturar e coordenar os atingidos para defender os direitos da população. Letícia Oliveira, coordenadora do MAB, ressalta que a luta dos populares da região do Alto do Rio Doce não irá parar. “A luta dessas pessoas é apenas para garantir o direito básico. As pessoas são atingidas, elas querem moradia, indenização, vida digna e o seu território livre para suas atividades. A empresa Vale não garante os direitos. Na verdade, viola mais direitos, criminalizando os indivíduos”, destaca Oliveira.
Ao Jornal O Liberal Inconfidentes, Sandra Faria, moradora de Antônio Pereira há 20 anos e integrante do Movimento Socioambiental, Cultural e Patrimonial da Saúde Mental do distrito, retratou o cenário de luta pela localidade. “A gente sempre viveu lutando por um lugar melhor, por qualidade de vida. A gente só quer arte, cultura. A gente não pede muito não. Isso não é nada, é o básico que a gente pede. E tem muita coisa em Antônio Pereira, que são coisas básicas, que a gente não tem ainda. A gente fica lutando pelo básico”, explicou Faria.
Outra entidade presente no ato foi a Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa-MG), que atua no contexto da luta social na mineração. Kathiuça Bertollo, integrante da FLAMa-MG, revelou a expectativa para o resultado da audiência. “Justiça! Nós esperamos que esse processo absolutamente seja favorável, o desfecho dele, a favor das mulheres de Antônio Pereira.”, apontou Bertollo. A professora ainda salientou que a pauta é um direito constitucional. “As mulheres têm uma pauta legítima, elas não cometeram atos infracionais. Era uma livre manifestação e mobilização. O direito de lutar é um direito garantido por nós enquanto sociedade brasileira e é descabido esse processo que a Vale vem movendo contra elas”.
Apoiado em múltiplas causas socioambientais e em benefício da luta pela revitalização da Bacia do Rio das Velhas, o Instituto Guaicuy, por meio da Assistência Técnica Independente (ATI) de Antônio Pereira, possibilita a formação de condições necessárias para participação e atuação das comunidades atingidas por barragens nos processos de reparação de desastres de grandes impactos socioambientais. Para Ronald Guerra, coordenador da ATI de Antônio Pereira e vice-presidente do Instituto Guaicuy, o ato é legítimo.
“De fato, é uma luta que as mulheres têm que consolidar, porque cercear a liberdade de expressão é algo muito grave. Isso aconteceu ainda quando a ATI não estava no território de Antônio Pereira, justamente pela luta delas de terem seus direitos atendidos, terem a reparação integral dos danos pelo descomissionamento da Barragem do Doutor e, principalmente, pelas lutas que fizeram naquele tempo para que tivessem assessoria técnica no território”, disse Guerra.
As questões acerca de meio ambiente, da crise de emergências climáticas e do extrativismo mineral foram debatidas no 43º Congresso Nacional do Andes. A Associação dos Docentes da UFOP (ADUFOP), representante do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), desempenha papel nas lutas por direitos. Marlon Garcia, professor do curso de Serviço Social e membro da associação, revela as motivações e o poder da manifestação conjunta.
“Tudo isso foi discutido em âmbito nacional e a ADUFOP, enquanto seção sindical do Andes aqui na região, tem também travado as lutas. Assinou a nota junto da FLAMa, ressaltando a importância da articulação desse conjunto de entidades, para colocar também limites, para se colocar alinhadamente à luta dessas mulheres e de todas as atingidas, atingidos na mineração. A gente espera que, nesses embates, todos, o Ministério Público e o Judiciário, como mediações políticas, entendam que tem essa resistência, que tem essas lutas articuladas”, afirmou Garcia.
Durante o ato, o vereador Wemerson Titão, do Partido dos Trabalhadores (PT) de Ouro Preto, colocou o seu gabinete à disposição para defender os direitos das comunidades do distrito e ressaltou que a acusação e criminalização das mulheres de Antônio Pereira será discutida em Reunião Ordinária na Câmara Municipal de Ouro Preto. “As pessoas não estão tendo o direito de ir e vir, de se pronunciar contra a mineração”, reforçou o representante.
A ação realizada também contou com o presidente do Partido dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Ouro Preto, José Eustáquio “Taquinho”, que expressou que o partido continuará participando e dando suporte para os movimentos sociais. “Eles querem calar todas as lideranças, calar todas as pessoas que participam de movimentos sociais e que buscam justiça social. Quem deveria estar sendo julgada e condenada, neste momento, é a Vale, e não as nossas companheiras de luta, que simplesmente estavam buscando direitos”, declarou.
Prestando solidariedade e apoio às mulheres de Antônio Pereira, Bruno Teixeira, vice-presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes, destacou os riscos e danos da mineração no país. “Muita força, companheiras e guerreiras de Antônio Pereira”, reforçou.
O Jornal O Liberal Inconfidentes entrou em contato com a assessoria de imprensa institucional da mineradora Vale, que até o momento do fechamento dessa matéria não respondeu.