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Evento da UFOP gera notas de repúdio sobre cerceamento de ideias e reflexões críticas sobre barragens

Evento da UFOP gera notas de repúdio sobre cerceamento de ideias e reflexões críticas sobre barragens

Imagem: FLAMa-MG/Divulgação

Pedido de patrocinadores do evento gera reações negativas sobre orientações para evitar comentários sobre os acidentes dos rompimentos das barragens de mineradoras

Por: Marcos Delamore

A comissão organizadora do evento “XXII Semana de Estudos da Escola de Minas (SEEM)”, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), foi motivo de críticas sobre as razões que levaram a recomendar aos participantes da mesa-redonda “Diversidade, Inclusão e Dignidade Humana: Avanços e Desafios para a Igualdade” a não comentarem sobre o rompimento de barragens. Essa orientação gerou mobilização das comunidades acadêmicas e de coletivos sociais para reivindicação de espaços para discussões a respeito dos impactos sociais e ambientais dos acontecimentos de 2015 e de 2019.

O Jornal O Liberal Inconfidentes conversou com a professora do curso de Serviço Social da UFOP e integrante do coletivo Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa-MG), Kathiuça Bertollo, sobre as recomendações dadas pela organização do evento aos participantes das mesas de debates. “A gente espera que a comissão se retrate com uma nota na página do evento, que nos ceda um espaço e mesa para darmos voz para os atingidos e atingidas, movimentos sociais e assessorias técnicas independentes”, afirmou Bertollo.

O congresso, cujo tema é “Construindo Pontes para Inclusão, Diversidade, Desenvolvimento Sustentável e Inovação na Era da Tecnologia”, foi organizado por entidades estudantis dos cursos de Engenharia e Arquitetura de uma das unidades acadêmicas da UFOP. A realização do seminário tem por objetivo proporcionar um ambiente para troca de experiências, conhecimentos, complementação de estudos e o fortalecimento de competências técnicas. O diretor da Escola de Minas, José Alberto Naves Cocota Júnior, elucidou a justificativa do evento: “É a oportunidade de reduzir a distância do mercado de trabalho para nossos estudantes. A realização de eventos como este, que neste caso é organizado por nossos estudantes, contribui na economia local, no turismo e na contratação de prestadores de serviços”, afirmou.   

Posicionamento da FLAMa-MG

A Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa-MG) expressou, por meio de nota de repúdio à comissão organizadora do evento, que o acontecimento repercutiu e gerou aversão aos atingidos pelos rompimentos das barragens de mineradoras.

“Conclamamos aos representantes dos projetos convidados para 3ª Mesa Redonda do Evento, que em suas falas não sucumbam ao cerceamento das ideias e reflexões críticas, ao impedimento da liberdade de cátedra, e que como forma de demonstrarem que estão do lado certo da história, problematizem acerca das questões acima apontadas, pois suas importantes pautas e projetos, vinculados e oriundos da universidade pública, carecem deste tipo de atuação neste território e região que é cotidianamente destruída e dominada pelas mineradoras”.

Nota da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

A repercussão negativa e as reações dos movimentos estudantis e dos coletivos sociais, fizeram com que a reitoria da UFOP emitisse nota de preocupação, na qual reafirmou o compromisso da Universidade em ser um espaço democrático, aberto ao diálogo e ao desenvolvimento coletivo.

“A retificação dessas orientações foi um passo necessário, e vemos nisso uma oportunidade de aprendizado. Acreditamos que temas complexos, como os impactos socioambientais decorrentes de rompimentos em barragens, caso venham a surgir nas discussões, não só enriquecem o debate, mas também nos ajudam a encontrar caminhos mais inclusivos e sustentáveis para o futuro”, destaca a nota assinada pela reitora Cláudia Marliére.

Posicionamento da Escola de Minas

José Alberto Naves Cocota Júnior, diretor da Escola de Minas e Presidente do Conselho da Escola de Minas, e Cláudio Eduardo Lana, vice-diretor da Escola de Minas, no dia 04 de fevereiro, divulgaram nota reafirmando o compromisso de apoiar as comissões organizadoras das próximas edições do evento Semana de Estudos e na busca por estudar os fatores que suscitaram o incidente e rever as falhas.

“A diretoria e o Conselho da Escola de Minas não foram consultados sobre essa orientação e, em nenhum momento, receberam qualquer sugestão nesse sentido. Entretanto, reconhecemos que o evento leva o nome da Unidade e que falhas como essas não podem ocorrer, sobretudo quando envolvem temáticas tão relevantes. Isso evidencia a necessidade de reforçarmos ações que eduquem nossa comunidade, abrindo cada vez mais espaço para os coletivos relacionados às pautas identitárias em nossos eventos acadêmicos”, diz a nota.

Ainda, a diretoria da Escola de Minas ressaltou que, em face de uma justa reivindicação constante da nota de repúdio enviada pela Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa – MG), prontamente contatou a comissão organizadora, solicitando a disponibilização de espaço em sua programação para que representantes da FLAMa componham uma mesa e tenham poder de voz. A reunião entre a FLAMa e a referida comissão estava agendada para o dia 05/02/2025*.

Por fim, a nota destaca que o incidente evidenciou a necessidade de melhorias nas atividades administrativas, comunicacionais e acadêmicas da Escola de Minas e que pretendem estudar a fundo os fatores que motivaram tal incidente para identificar e corrigir suas falhas.

“A Escola de Minas tem entre seus valores o compromisso com a responsabilidade social, a ética, a democracia, a liberdade e o respeito. Rejeitamos qualquer associação da nossa Unidade com práticas de censura ou exclusão e destacamos a importância do diálogo aberto e multilateral para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática”, finaliza a nota.

Organizadores da SEEM 2025

A comissão organizadora do evento, em nota, explicou que o objetivo era de dar maior atenção ao tema previamente acordado. No entanto, assumiu a responsabilidade pela orientação e o presidente da comissão organizadora formalizou um pedido de desculpas na cerimônia de abertura do evento.

*A presença da FLAMa-MG no evento foi remarcada para o dia 06/02/2025, às 08h.

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