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Procissão das Almas: cultura e tradição pelas ruas marianenses

Procissão das Almas: cultura e tradição pelas ruas marianenses

Ao som da marcha fúnebre, matraca e correntes, dezenas de marianenses saem pelas ruas históricas da Primeira Capital de Minas vestidos com longas túnicas brancas, carregando velas e ossos, para realizar a Procissão das Almas, tradição que se mantém viva há mais de 30 anos na cidade.O evento é organizado pelo Movimento Renovador de Mariana e pela Casa de Cultura Academia Marianense de Letras nos primeiros minutos do Sábado de Aleluia, ainda de madrugada, e percorre as principais ruas do centro histórico encantando turista e até mesmo marianenses como a aposentada Regina dos Passos. “Assisto a procissão todos os anos como se fosse a primeira vez. É tudo muito bem preparado e nos passa uma mensagem muito boa, que é a união da população para manter viva algo que representa a cidade”, destaca.

O cortejo tem como objetivo contribuir para a preservação do patrimônio material e imaterial da Mariana. “A procissão é parte da memória marianense, é importante para as pessoas conhecerem a história da nossa cidade, contada pelo povo. É uma forma de educação popular”, explica a integrante do movimento e uma das coordenadoras da Procissão das Almas, a professora emérita da Universidade Federal de Ouro Preto, Hebe Rola.

Duas lendas – Existem duas lendas que justificam a Procissão das Almas Diz. A primeira lenda é de uma senhora chamada Maricota que passava seus dias na janela, fiscalizando a vida alheia. Como já estava com má fama devido ao seu comportamento, decidiu mudar de bairro e também alterou seus hábitos. Ao invés de ficar na janela durante o dia, Maricota passou a ser vigilante noturna. Uma noite de Sexta-Feira Santa, viu uma procissão se aproximar, mas as pessoas escondiam o rosto dentro do capuz. Ela ouvia lamúrias, som de bumbo, correntes arrastando e uma canção: “Reza mais, reza mais, reza mais uma oração; reza mais, reza mais, pra alma que morreu sem confissão”. Como ela não conseguia identificar quem estava ali, começou a ficar intrigada sobre o cortejo que até então desconhecia. De repente, um dos integrantes veio em sua direção dizendo que a noite é dos mortos e pediu para que ela guardasse a sua vela que mais tarde voltaria para buscar. Quando a procissão voltou, a mesma figura novamente lhe procurou. Ela então foi buscar a vela, que surpreendentemente havia se transformado em um osso de perna de defunto. Maricota, então, morreu de susto e passou a integrar anualmente a procissão dos mortos.

A segunda lenda se remete a uma senhora classificada como “barata de igreja” que é, na linguagem local, a mulher que está sempre bajulando o padre. Com a contratação de uma jovem moça para ajudar nas escrituras da paróquia, essa senhora fica muito enciumada. Ela, então, começou a espalhar o boato de que a nova funcionária era namorada do padre. Com o escândalo, a jovem perdeu o noivo, foi expulsa de casa pelos pais e virou andarilha. Um dia, ela retornou bem maltrapilha e bateu à porta de uma casa solicitando água. Enquanto a moradora atendia ao seu pedido, a moça caiu morta. O enterro foi organizado e toda a cidade, curiosa, compareceu para ver a falecida. Quando a “barata de igreja” chegou, o defunto sentou no caixão e disse “está aqui quem me caluniou”. Assustada, a mulher saiu correndo e decidiu que era hora de confessar seus pecados e pedir perdão ao padre. Como castigo, ficou incumbida de juntar, em balaios, todas as penas das aves mortas na região. Feito isso, deveria levá-las ao alto de um morro e, de lá, soltá-las ao vento para, em seguida, começar novamente todo o processo. Assim foi até sua morte que veio sem que ela terminasse de recolher todas as penas espalhadas. Conta a lenda que ela continua juntando.

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