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Após três denúncias de racismo envolvendo estudantes no último mês, UFOP discute a criação de uma “Ouvidoria Racial”

Após três denúncias de racismo envolvendo estudantes no último mês, UFOP discute a criação de uma “Ouvidoria Racial”

Reunião entre Reitoria UFOP e membros do NEABI. Imagem: Divulgação/UFOP

Por: Amanda de Paula

Em um curto período, estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), no campus de Mariana, registraram três denúncias de racismo. O primeiro caso foi divulgado nas redes sociais por uma aluna de Jornalismo do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), que relatou uma série de situações de preconceito vividas em uma república feminina onde residia. Pouco depois, uma estudante de História do mesmo instituto denunciou que uma professora a usou como exemplo em uma discussão sobre racismo, proferindo palavras ofensivas e criminosas. O episódio mais recente ocorreu durante a “II Exposição do Projeto Resistências e (Re)Existência”, no hall do ICSA, quando o caderno de presença do evento foi vandalizado com a frase: “Um monte de lixo pendurado”.

Diante das denúncias, estudantes, movimentos discentes e docentes se mobilizaram contra o racismo e cobraram a criação de uma Ouvidoria Racial. Em resposta, a Reitoria da UFOP recebeu, no início deste mês, representantes do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) e servidoras indicadas para compor a futura Ouvidoria. Na reunião, foram discutidas medidas para apurar e encaminhar casos de discriminação racial, além de estratégias para promover relações mais igualitárias na universidade.

Entre as propostas discutidas, o grupo tratou sobre o encaminhamento de solicitação para que o Conselho Universitário (Cuni) avalie a possibilidade de criação de uma instância especializada em questões raciais vinculada à estrutura da Ouvidoria e que atue em diálogo com o Neabi.

Na ocasião, o reitor da UFOP, Luciano Campos, reforçou que a criação desse espaço funcionaria como um canal que envolve tanto críticas e elogios como denúncias. “A Ouvidoria é fundamental na medida em que o racismo é estrutural e institucional. É preciso pessoas que tenham um letramento racial e que sejam capazes de compreender essa denúncia para fazer uma apuração dos fatos”, afirmou. O Reitor destacou também que a medida é uma maneira de garantir não apenas o acesso à educação superior, mas também garantir a permanência de forma qualificada e sem discriminação nos espaços da Universidade.

Outro ponto debatido na reunião foi a necessidade de desenvolver estratégias educativas para conscientizar a comunidade acadêmica sobre questões raciais, incluindo manifestações culturais e religiosas da população negra.

O coordenador do Neabi, Clézio Gonçalves, destaca que o Programa de Incentivo à Diversidade e Convivência (Pidic), que lança editais anuais para financiar projetos de inclusão e valorização da diversidade, é uma maneira de desenvolver estratégias educativas para conscientizar a comunidade acadêmica sobre questões raciais, incluindo manifestações culturais e religiosas da população negra. “Essa é uma das iniciativas que deve ser aprimorada e intensificada para que a diversidade e a convivência no ambiente universitário possam se tornar algo mais leve e humano”, reforçou. Na oportunidade, o professor destacou que é necessário “um investimento institucional para que os professores e técnicos passem por um momento de formação para poder lidar com questões étnico-raciais”, afirmou.

Outro ponto debatido, referiu-se à necessidade da UFOP fortalecer os laços de diálogo com a comunidade, focando na orientação sobre as possibilidades de acesso à Instituição e ampliando o conhecimento sobre o caráter público da Universidade e as políticas de ações afirmativas, garantindo maior inclusão de estudantes negros e indígenas no ensino superior. Como destacou o representante externo do Neabi, William Adeodato, o Núcleo tem assumido com muita competência a função de mostrar que a UFOP para a comunidade: “Ao instituir uma coordenação adjunta para um representante da comunidade externa, a Universidade se posiciona como uma instância disposta a dialogar com o diferente. É uma ação inclusiva que deveria servir de exemplo”, finalizou.

Os encaminhamentos da reunião foram repassados para apreciação na próxima reunião do Cuni.

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, ICSA. Imagem: Divulgação/UFOP

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