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Audiência pública debate impactos de decreto sobre horário especial de servidores com deficiência ou com dependentes nessa condição em Itabirito

Audiência pública debate impactos de decreto sobre horário especial de servidores com deficiência ou com dependentes nessa condição em Itabirito

Imagem: Câmara Municipal de Itabirito / Victória Oliveira

A Câmara Municipal de Itabirito realizou, na última sexta-feira (19), uma audiência pública para debater os impactos da Lei Municipal nº 4.179/2025, que altera dispositivos da Lei nº 3.881/2023, responsável por regulamentar o horário especial de trabalho para servidores municipais com deficiência ou que possuam cônjuge, filho ou dependente nessa condição.

O debate girou em torno do direito à redução da carga horária sem prejuízo salarial. Embora a lei, sancionada em fevereiro de 2025, tenha ampliado esse direito, a regulamentação posterior por meio de decreto passou a gerar insegurança, restrições e mobilização entre os servidores, que apontam dificuldades práticas para acessar o benefício.

A audiência foi promovida pela Comissão de Serviços Públicos Municipais e aconteceu no Plenário da Câmara. Os trabalhos foram conduzidos pelo presidente da comissão, vereador Lucas do Zé Maria (MDB), com a vice-presidência do vereador Danilo Grilo (Cidadania). A iniciativa atendeu ao Requerimento nº 321/2025, que destacou que as mudanças na legislação e na sua regulamentação impactam diretamente a vida funcional e familiar de servidores que convivem diariamente com a deficiência.

Representantes de órgãos e entidades, vereadores e integrantes da sociedade civil participaram do encontro. O vereador Márcio Juninho (Cidadania) ressaltou que a audiência pública é um instrumento democrático fundamental para ouvir quem é diretamente impactado pelas decisões do poder público.

Mães ocupam a Tribuna e relatam a rotina do cuidado

Um dos momentos mais marcantes da audiência foi a participação de mães de pessoas com deficiência, que ocuparam a Tribuna para relatar os desafios do cuidado integral e a importância do tempo garantido pelo horário especial de trabalho.

As falas trouxeram dados e exemplos que extrapolam a realidade local, evidenciando que, em todo o Brasil, o cuidado com pessoas com deficiência ainda recai majoritariamente sobre as mulheres. Além da jornada profissional, elas acumulam responsabilidades domésticas e o acompanhamento constante de tratamentos, terapias e consultas médicas.

Os relatos reforçam que o horário especial não deve ser compreendido como um benefício opcional, mas como uma condição necessária para assegurar o cuidado adequado, a saúde física e emocional das famílias e a permanência dessas mulheres no serviço público.

Sindicato critica ausência do Executivo e alerta para perda de direitos

O presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Itabirito (Sindsemi), Thiago Toledo, também fez uso da Tribuna. Ele lamentou a ausência de representantes da gestão municipal na audiência pública e afirmou que o debate exige escuta direta por parte de quem detém o poder de decisão.

Segundo o dirigente sindical, a ausência do Executivo demonstra falta de respeito tanto com a Casa Legislativa quanto com os servidores. Para ele, a audiência deveria ser um espaço de diálogo, construção de consensos e esclarecimentos, sobretudo diante de decisões que impactam diretamente a vida dos trabalhadores.

Thiago Toledo foi enfático ao afirmar que o horário especial não representa privilégio ou luxo. “Não estamos falando de benefício no sentido de lazer ou conforto. Estamos falando de prejuízo real quando esse direito não é garantido”, afirmou. Ele destacou ainda que, embora exista impacto na organização administrativa e financeira do município, a dimensão técnica não pode se sobrepor à questão humana e social.

Para o sindicato, o decreto acaba criando obstáculos que impedem que muitos servidores usufruam de um direito já assegurado em lei, o que fere não apenas a legislação municipal, mas também entendimentos consolidados em âmbito estadual e federal.

Entenda o histórico

A Lei Municipal nº 4.179/2025, sancionada em fevereiro deste ano, alterou o horário especial de trabalho ao ampliar a possibilidade de redução da carga horária de “até 30%” para “de 30% a 50%”, além de reduzir o cumprimento mínimo semanal de 28 para 20 horas. A norma manteve a proibição de redução salarial e a dispensa da compensação das horas.

O projeto foi de autoria do vereador Renê Butekus (PSD), que justificou a proposta com base em decisões do Supremo Tribunal Federal que garantem a servidores públicos responsáveis por pessoas com deficiência o direito à jornada reduzida.

No entanto, conforme apontado durante a audiência, a regulamentação posterior tem restringido o acesso ao direito, gerando insegurança jurídica, mobilização dos servidores e a necessidade de revisão dos critérios adotados.

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