Bira e Vanessa junto a professores e alunos, durante atividade na tarde de terça-feira (06). Imagem: Victória Oliveira
Por: Victória Oliveira
Tudo começou com uma busca por referências para trabalho nas redes sociais. Vanessa Teodoro, professora de Artes da Escola Estadual Padre Afonso de Lemos, queria desenvolver com seus alunos atividades utilizando tampas de garrafas PET. Foi assim que conheceu o Projeto Tampart e seu idealizador, Ubiratan Fernandes — mais conhecido como Bira.
Em conversas entre Vanessa e Bira, surgiu a ideia de implantar o Tampart na escola de Cachoeira do Campo. Desde agosto de 2024, com o apoio do diretor Anderson Freitas e da vice-diretora Mardelene Ferreira, Vanessa passou a coordenar a iniciativa no distrito. O projeto une sustentabilidade e educação ambiental, promovendo o engajamento escolar em torno da reciclagem e da arte com material reaproveitável.
Nos últimos meses, foram realizadas diversas ações: reuniões virtuais com gestores e professores, videoconferências entre Bira e os estudantes, campanhas de conscientização, oficinas com tampinhas, pesquisas sobre meio ambiente, confecção de cartazes, instalação de pontos de coleta e parceria com catadores de materiais recicláveis da região. Mas ainda faltava um passo importante: a presença física de Bira para estreitar os laços com os alunos e com a comunidade, e avançar nas ações práticas.
Foi assim que o artista plástico decidiu sair do Rio Grande do Sul rumo a Ouro Preto. O projeto já havia sido realizado em cidades da Argentina, Uruguai, Colômbia e em diversos estados do Brasil, mas nunca antes em Minas Gerais. “Me senti verdadeiramente desafiado a me aproximar dessa realidade, mesmo sem recursos”, contou Bira. A vinda do artista ao município contou, então, com o apoio da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, que viabilizou financeiramente as passagens e a hospedagem.
Programação em Cachoeira do Campo
Desde que chegou, no domingo (04), Bira, acompanhando de Vanessa, tem conduzido uma intensa programação com oficinas educativas sobre reciclagem, reaproveitamento e alternativas sustentáveis, além de intervenções artísticas. As atividades envolvem diretamente cerca de mil alunos, do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, e também impactam familiares e a comunidade em geral.
As atividades com tampinhas mobilizaram a criatividade e a consciência ambiental dos estudantes. O pequeno Hugo Cabral, aluno do 6º ano, durante uma oficina de criação, projetou uma grande vila com montanhas, rios, gramados e casas. “Essa escultura representa uma lembrança que eu tenho de quando era mais novo”, contou o estudante. Já Maria Luiza e suas amigas representaram flores, arco-íris e a figura de Nossa Senhora Aparecida. “Sustentabilidade significa que se a gente reciclar, vamos sustentar nosso planeta”, concluiu a menina.
Alunos mostram vila construída com diversos tipos de tampinhas. Imagem: Victória Oliveira
Gustavo Viana, também aluno da turma, também refletiu sobre a reciclagem: “A gente poderia reciclar mais vezes do que a gente recicla, porque aí esses materiais não vão para os oceanos e nem ficam nos aterros produzindo gás carbônico. Isso é importante porque daqui a poucos anos, se não protegermos nosso planeta, a gente pode nem estar mais aqui”. Ao ver os trabalhos produzidos pelos anos, Vanessa resumiu de forma simples seu sentimento: “É um projeto apaixonante!”.
O artista explica que o objetivo não é apenas promover conscientização sobre os impactos ambientais e a preservação da natureza, mas provocar mudanças reais no sistema pedagógico. “Quando tu dás a chance de eles libertarem o pensamento, e quando encorajamos eles a isso, a gente vai vendo o que eles podem fazer na Matemática, no Português, na Biologia, são muitas mudanças, então a ideia é fazer com que a escola se transforme num campo vivo e pulsante”, afirmou Bira.
A vice-diretora Mardelene Ferreira, concorda que o projeto tem um impacto transformador. “A importância é muito grande porque é uma forma da gente envolver toda a comunidade escolar num tema que é muito atual e muito necessário, que é a preservação do meio ambiente, que é a sustentabilidade. Então quando a gente envolve as crianças e os adolescentes da nossa escola, a gente tem certeza que é uma ideia que vai perdurar e são eles os maiores interessados. Quando a gente envolve a criança e o adolescente a gente também envolve o pai, a mãe, os tios, os vizinhos e com isso a gente forma toda uma comunidade mais sensibilizada com o assunto, mais atuante”, comentou.
Parceria com a UFOP
Outro passo importante da vinda de Bira foi o contato direto com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Um bate-papo foi realizado na última segunda-feira (05) para avançar nas tratativas de inserção do Tampart como projeto de extensão do curso de Engenharia Metalúrgica. A proposta busca dialogar com a formação acadêmica, que envolve o desenvolvimento de métodos para separar, purificar e reutilizar materiais, além de tornar os processos de reciclagem mais eficientes, sustentáveis e economicamente viáveis.
A ideia é que, no próximo encontro, mais professores estejam envolvidos e que, com ajuda do possível projeto de extensão, novas ações sejam desenvolvidas. Bira pretende introduzir, inclusive, discussões sobre o uso da inteligência artificial como aliada da sustentabilidade. O retorno de Bira está previsto para outubro.
Bira comenta trabalho desenvolvido. Imagem: Victória Oliveira