Imagem: Câmara Municipal de Itabirito via Youtube / Por: Victória Oliveira
Sessão da Câmara foi marcada pelo tema, após episódio registrado em vídeo que envolveu o Pastor Anderson (PL) e foi publicado nas redes sociais
Um acidente entre uma motocicleta e um carro, registrado na noite de sexta-feira (22), no bairro São José, em Itabirito, terminou em confusão durante o atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e gerou forte repercussão local e nacional. O tumulto aconteceu após o vereador Pastor Anderson do Sou Notícia (PL), que também atua como comunicador, gravar vídeos criticando a equipe de socorristas durante o momento, afirmando que houve demora no atendimento, e dizer a um dos profissionais que parecia reclamar de suas falas: “Faz o seu serviço e fala menos, atende, calado!”.
Segundo testemunhas, a moto foi arremessada e atingiu uma pedestre que passava pela calçada. A equipe do SAMU demorou cerca de 20 minutos para chegar, e atenderia outra ocorrência previamente. Durante o resgate, o parlamentar filmou e publicou os vídeos em suas redes sociais, onde critica o socorrista, o que gerou uma onda de indignação de internautas e de figuras públicas.
No domingo (24), Anderson voltou a acompanhar outra ocorrência grave envolvendo duas motocicletas no bairro Cardoso. Segundo ele, a ambulância do SAMU teve que ser deslocada de Ouro Preto, demorando cerca de 1h10 para chegar. Em vídeo, o vereador criticou novamente a estrutura de atendimento e afirmou que o consórcio que gerencia o serviço é custeado com recursos do município, cobrando melhorias.
Presença do SAMU na Câmara Municipal
Na segunda-feira (25), a reunião ordinária da Câmara foi marcada pela presença de profissionais do SAMU, que o registro do vídeo como ofensivo. A maior parte da sessão foi dedicada ao tema, com manifestações de vereadores.
O próprio vereador Anderson usou a tribuna para justificar sua reação, relatando que foi motivado pelo sofrimento das vítimas e por um trauma pessoal: sua mãe foi atropelada em 1997, fato que, segundo ele, o sensibiliza fortemente em casos de acidentes. Ele pediu desculpas ao profissional envolvido e reforçou que foi autor de uma indicação, em 2022, para a instalação de uma base do SAMU em Itabirito.
O vereador Ézio Pimenta (Solidariedade) destacou que a crítica deve ser direcionada à estrutura do serviço, e não aos servidores, defendendo que o respeito deve nortear a atuação política. “Nós, vereadores, temos a função de fiscalizar, sim. Cobrar, propor melhorias para a nossa cidade, essa é a essência do nosso mandato. Mas não podemos esquecer que a forma como exercemos essa função é tão importante como a função em si”, disse Ézio.
Manoel da Autoescola (PT) explicou que o SAMU segue um modelo nacional e atende a microrregião de Ouro Preto, Itabirito e Mariana. O vereador acrescentou que, ao investigar a demora no atendimento de sexta-feira, apurou que as equipes da Brigada Municipal estavam atuando em ocorrências distintas – um acidente na BR-040 e o combate a um incêndio – enquanto a ambulância do SAMU estava envolvida em um atendimento de parto. A informação, no entanto, foi apresentada por ele sem confirmação oficial.
Já o vereador Dr. Edson (Republicanos) apontou falhas na integração entre SAMU e Brigada Municipal. Segundo ele, apesar de ter sido dito, na chegada do SAMU à cidade, que os serviços não seriam concorrentes, na prática há sobreposição de funções e falta de articulação, o que comprometeria a eficiência.
Rose da Saúde (PSB) também reforçou que a crítica é institucional e não deve recair sobre os trabalhadores, mas defendeu a compreensão sobre a fala alterada do vereador Anderson. Para ela, problemas como demora e burocracia precisam ser enfrentados de forma mais séria.
O vereador Renê Butekus (PSD) relatou experiências pessoais que marcaram sua percepção sobre o serviço. Ele contou ter enfrentado a perda de familiares em situações em que o SAMU foi acionado: uma tia que sofreu hemorragia e um irmão vítima de infarto. Apesar das dificuldades, ele ressaltou que nunca partiu para ofensas pessoais contra profissionais, defendendo que a crítica deve se concentrar na gestão. “São ruins de serviço, a gestão está manchando a imagem de um órgão do governo federal que funciona em outras cidades e só não funciona em Itabirito”, disse o vereador, que completou sua fala afirmando que a secretária municipal de Saúde, Cleusa Claudino, precisa “botar a cara”, isto é, assumir maior responsabilidade sobre as dificuldades enfrentadas atualmente nos serviços de saúde em Itabirito.
Imagem: Câmara Municipal de Itabirito via Youtube
A última fala da noite foi do presidente da casa legislativa, Márcio Juninho (Cidadania), que parabenizou os profissionais, disse estar à disposição para cobranças ao executivo e, por fim, parabenizou o pastor por reconhecer seus erros. A reunião foi transmitida pelo YouTube, como acontece toda semana, e os comentários na página permaneceram negativos e críticos ao ocorrido.
SAMU e Brigada: quem faz o quê e como podem atuar juntos
O SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) é um programa federal, estruturado em consórcios regionais, responsável por atendimentos de maior complexidade. Ele conta com centrais de regulação, onde médicos avaliam os casos e decidem se é preciso enviar ambulância. Cerca de 20% dos chamados são resolvidos ainda nessa etapa. Quando a ambulância é acionada, os socorristas têm protocolos específicos que permitem levar pacientes diretamente para hospitais de referência.
A Brigada Municipal, por sua vez, é um serviço local. Ela atua principalmente em primeiros socorros, combate a incêndios e apoio em acidentes, podendo estabilizar a vítima até a chegada de uma unidade avançada. Em casos graves, leva o paciente para a UPA ou hospitais, de onde ele pode ser transferido posteriormente.
Apesar de diferenças, especialistas apontam que os dois serviços podem atuar de forma complementar. A Brigada pode garantir resposta rápida e imediata no território, enquanto o SAMU assegura a continuidade do cuidado e o encaminhamento direto a centros de referência. Na prática, isso exige protocolos claros de integração, comunicação permanente entre as centrais e definição de papéis para evitar sobreposição.
Esse foi um dos pontos levantados na reunião da Câmara: a percepção de que, embora oficialmente SAMU e Brigada não sejam concorrentes, na prática há falhas de articulação. Os vereadores defenderam a construção de um modelo de cooperação mais eficiente, que garanta que a população não fique desassistida em situações de emergência. A sessão não deliberou nenhuma medida concreta, mas vereadores indicaram a intenção de buscar melhorias na gestão da saúde e ampliar o diálogo com os serviços de emergência