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Casa do Artesão é espaço de tradição, afeto e criatividade na JuliFest 2025

Casa do Artesão é espaço de tradição, afeto e criatividade na JuliFest 2025

Mulheres da Associação Itabiritense de Artistas e Artesãos. Imagem: Victória Oliveira / Por: Victória Oliveira

A Casa do Artesão já se tornou tradição na JuliFest, um dos maiores arraiás de Minas Gerais, realizado anualmente em Itabirito, que aconteceu no último fim de semana. Integrado à Casa dos Doces, o espaço é gerido pela Associação Itabiritense de Artistas e Artesãos, que seleciona, a cada edição, uma variedade de produtos individuais e coletivos para compor a vitrine do artesanato local.

Quem passa por lá encontra desde lembrancinhas temáticas, como chaveiros a partir de R$10, até verdadeiras obras de arte, como uma peseira para cama confeccionada por várias mãos, o item mais caro da loja, vendido por R$600. A figura do pastel de angu, iguaria que é Patrimônio Imaterial de Itabirito, é destaque nas produções e aparece em diversos itens. Mas a criatividade do grupo vai muito além: a cada ano, os artesãos se inspiram na temática da festa para criar novas peças.

“As coleções que desenvolvemos são todas feitas a várias mãos. Quando alguém compra um produto aqui, está levando o trabalho de várias artesãs ao mesmo tempo. Somos um grupo majoritariamente feminino, e cada uma contribui com sua técnica, buscando referências na história e na cultura de Itabirito”, explica Gislaine Muniz, presidente da Associação. Em 2025, o tema “Da JuliFest para o mundo” incentivou o grupo a pesquisar técnicas manuais de diferentes países, mesclando essas referências às raízes culturais de Itabirito.

Trabalho com arquitetura de outros países desenvolvido por Vilma Sabino. Imagem: Victória Oliveira

A preparação para a festa começa com muita antecedência. “Passamos o ano inteiro pesquisando, estudando cores, criando. Quando termina uma edição, tiramos só uns 15 dias de folga e já começamos a pensar na próxima. Produzimos peças coletivas, fazemos estoques”, conta Gislaine. Quando o tema é anunciado – o que costuma acontecer cerca de dois meses antes da festa- ele é incorporado às criações, tanto com o desenvolvimento de novas peças quanto com a adaptação de produtos já confeccionados.

Esse diálogo com o mundo, proposto para esta edição, também se refletiu nas produções individuais. Uma das artistas, Vilma Sabino, conhecida por criar miniaturas de casas e igrejas de Minas Gerais, resgatando memórias afetivas e identidades locais, decidiu se inspirar nos 20 países sorteados para representar as associações de bairro nas barraquinhas da festa. Ela pesquisou aspectos da arquitetura de cada um desses países, como tipo de telha, cores, formatos de portas e janelas e estilo das edificações, para criar miniaturas de casas típicas de lugares como Áustria, África do Sul, China, entre outros.

Os artesãos participam da JuliFest desde sua primeira edição, inicialmente ocupando barraquinhas de gastronomia. Com o tempo, conquistaram seu próprio espaço, à medida que as barracas gastronômicas passaram a ser destinadas exclusivamente às associações de bairro.

A Casa do Artesão funciona durante todo o horário oficial da JuliFest. A rotina intensa do evento é compensada pelo carinho do público e pelo reconhecimento do trabalho. “Na sexta-feira, fomos para casa às quatro da manhã e no sábado já estávamos de volta às onze”, relata Gislaine. Para além do esforço, ela destaca o impacto positivo da festa na continuidade da Associação. Segundo ela, além de se sentirem valorizadas e com a autoestima elevada por serem reconhecidas tanto pelos turistas quanto pela comunidade itabiritense, os lucros das vendas são fundamentais para gerar renda às associadas por meio da economia criativa, renda que, em alguns casos, equivale a meses, ou até a um ano inteiro de trabalho.

Outro ponto que atrai os visitantes é a Casa dos Doces. Todos os produtos são feitos de forma artesanal, com ingredientes locais. Durante o evento, os doces são vendidos por R$6 e organizados em cestas por categoria, facilitando a escolha. Há opções como arroz-doce, alfajor, pipoca doce, amendoim caramelizado,trufas, palha italiana, entre outras delícias.

Telma Bárbara, itabiritense, escolhendo seus doces na Casa dos Doces. Imagem: Victória Oliveira

Conheça mais sobre o grupo

Em 2025, a Associação chegou à JuliFest com 22 artesãs, incluindo seis de São Gonçalo do Bação, com quem foi firmada uma parceria específica para o evento. Ao longo do ano, esse número pode variar. Gislaine, que é turismóloga por formação, entrou para o grupo em 2018 com a proposta de valorizar a identidade das associadas em suas produções. “Percebi que muitas produziam apenas o que aprenderam em revistas ou cursos. Faltava um olhar mais autoral. Começamos a incentivá-las a se inspirarem em suas próprias vivências. Por exemplo, uma delas disse que tinha um vizinho com um jardim muito bonito. E aí a gente incentivou: ‘Por que você não coloca essas flores nas suas peças?’ Aos poucos, elas foram entendendo que cada criação pode carregar um pedaço da sua história”.

Esse olhar mais sensível transformou não só as peças, mas também a relação das artesãs com o próprio trabalho. “Hoje, elas entendem que não estão aqui apenas para replicar algo aprendido, mas para criar algo único, que represente quem elas são”.

A ação é apoiada pelas Secretarias Municipais de Desenvolvimento Social e de Cultura, que oferecem uma subvenção no valor de R$10 mil, além de emendas impositivas de vereadores. O recurso é utilizado para adquirir tecidos, linhas, máquinas de costura e outros insumos que garantem o funcionamento da Associação.

“Nosso próximo passo é ampliar o alcance da Casa do Artesão. Queremos, além de vender, promover oficinas para compartilhar esse conhecimento com a comunidade e fortalecer ainda mais a cultura local”, finaliza Gislaine.

Imagem: Victória Oliveira

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