Mauro Werkema
A cada dia nos surpreendemos com novidades, algumas extraordinárias, ora positivas outras ruins. E, em geral, abrangentes, capazes de mudar a vida de países e de pessoas, em todo canto do mundo. Bastaria citar o tarifaço do Donald Trump e as tentativas de ampliar e retomar o domínio político e econômico mundial. Surpreende-nos, também, a cada dia, o extraordinário avanço da Inteligência Artificial que muda a vida de todos, em seus mais variados aspectos, como também das atividades empresariais e econômicas e da produção, conformação e divulgação culturais. Ou mesmo dos modos de vida, do “saber viver”. O fato é que as mudanças e transformações, que todos assistimos, nos convida a lembrar, mais uma vez, a famosa indagação do filme de 1956, “Assim caminha a Humanidade”, que já antevia tempos surpreendentes, mas que, no momento, aumenta a perplexidade e até temores.
Tudo indica que estamos no limiar de um novo mundo em que o liberalismo clássico parece em extinção nas relações entre as nações e que outrora gerou a Organização das Nações Unidas a partir das novas democracias com a derrota do nazifascismo na Segunda Guerra Mundial. Hoje os interesses nacionais criam barreiras econômicas, aceleram a corrida armamentista e guerras de domínio territorial e político. Nos interesses nacionais criam barreiras econômicas e a “economia de mercado” cede lugar a interesses hegemônicos e criam restrições ao livre comércio. O intercâmbio cultural, a cooperação no campo do conhecimento vai também se limitando a limites ideológicos. A democracia liberal se restringe.
Como fica o Brasil nesta nova realidade? Cabe a indagação e não só em função do conflito tarifário que nos impõe os EUA sob a temerária gestão Trump. Como ficará o Brasil no comércio internacional que sustenta setores importantes da nossa economia? As barreiras protecionistas se expandem além dos EUA, como nos mostram também os países europeus. E até onde o bom diálogo com a China e sua nova economias de mercado, e com os países do Brics, Rússia, Índia e os árabes, representarão efetivos e sustentáveis mercados para a exportação brasileira, tão importante na economia nacional?
Questão maior, imediata e grave, mas que também representa vetor importante no futuro próximo brasileiro é a divisão político-ideológica, que também perturba a Humanidade. Este debate não permite, neste momento, um aprofundamento maior das clássicas e graves questões brasileiras. Então, é preciso constatar, que o debate político brasileiro é pobre, imediatista, sem visão de futuro ou nem mesmo alcança questões básicas deste imenso e desigual Brasil, como reduzir as desigualdades sociais, reduzir privilégios injustos e construir novos tempos de desenvolvimento econômico e social compatíveis com nossas imensas riquezas naturais.
O Brasil não dispõe de um plano estratégico que o permita orientar-se neste novo mundo, onde dominam as incertezas como também oportunidades neste rearranjo internacional. O Congresso Brasileiro não tem aptidão ou nem mesmo vontade política para debater o Brasil na sua atualidade e caminhos futuros. Ao contrário, é hoje instituição perdida nas suas brigas ideológicas que, ao final, paralisam o país mesmo em questões essenciais e urgentes para a vida nacional. Os partidos políticos, em geral, cuidam da reeleição e sobrevivência entre outras questões imediatistas. O interesse nacional não é prioridade.
E Minas Gerais? Vive a crise orçamentária, condicionada por uma dívida elevada que pouco sobra para investimentos. E vê a principal riqueza de seu solo, os minérios, serem exportados sem pagar imposto devido à Lei Kandir que isentou os produtos minerais do ICMS. E agora, um novo desafio, imenso, urgente e grave, apresentado pelos minerais raros, incluindo as tão cobiçadas “terras raras”, de que Minas Gerais é grande possuidora, hoje cobiçadas por todo o mundo. Temos o lítio, cobra, nióbio, cobalto, níquel, grafite, tântalo, césio e ouros ainda mais raros, fundamentais para novas ligas metálicas, baterias, imãs, altas tecnologias, mobilidade elétrica, indústria aeronáutica, armamentista, eletrônica. Todos minerais valiosos neste novo e surpreendente mundo.
Minas Gerais tem um programa para esta nova realidade mineral, que será objeto de cobiça mundial? Poderá recuperar-se financeiramente e sustentar um novo e arrojado programa de desenvolvimento face a esta nova demanda mineral? É importante lembrar que já entregou a capitais estrangeiros duas jazidas do lítio do Vale do Jequitinhonha. E também outra jazida de césio-urânio em Poços de Caldas. E que, assim como ocorre com o minério de ferro, não pagarão o imposto de exportação. Enfim, são realidades muito atuais, batendo |à nossa porta, as exigir posições defensivas e nacionalistas em defesa da nossa realidade.