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Carta aos Tempos
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Recuperação econômica com cuidados necessários

O Brasil é um país de contradições e paradoxos. Em meio à pandemia que não para de provocar muitas mortes e que não demonstra, por enquanto, curva descendente, até porque a vacinação continua em ritmo insuficiente, observa-se nos últimos dias uma intensa movimentação popular. Cidades históricas e destinos turísticos receberam fluxo inusitado de visitantes. Restaurantes tiveram lotação plena. Estradas, como a BR-356, tiveram um fluxo intenso de veículos, como se estivéssemos já livres da epidemia e não precisássemos do distanciamento social para evitar a disseminação do vírus. Mas, infelizmente, tais movimentações farão crescer o número de doentes se não forem observados os cuidados necessários.

Mas também não podemos deixar de celebrar a retomada econômica, que ocorre em vários setores, a ponto de as previsões para o crescimento do PIB este ano ser superior a 4%. A sensação é que a contenção de investimentos, causada pela epidemia, estaria superada e os recursos represados finalmente estão sendo liberados, provocando o retorno pleno de muitas atividades e até a retomada de empregos. Se o incremento de atividades econômicas não representar redução dos cuidados que ainda devemos ter com a epidemia, será muito bem-vinda. Mas a situação que vivemos ainda exige cuidados e comedimentos.

Fica a sensação de que a economia se descolou dos governos e vai adquirindo força própria. A verdade é que o panorama político não estimula otimismos. E nem assistimos ações, na frente econômica, iniciativas que poderiam provocar mudança radical da realidade. Pelo contrário, não vemos no Poder Legislativo nenhum avanço nas reformas sempre anunciadas e não realizadas, como a tributária, a administrativa ou programas que possam reduzir a pesada carga tributária com novos estímulos fiscais, incentivar a criação de empregos, a melhoria das condições de crédito. É claro que o auxílio emergencial ajuda na recuperação, mas não representa estímulo verdadeiro à recuperação econômica.

Alguns incentivos fiscais para o pagamento de dívidas e redução de multas tem algum efeito, sobretudo no comércio e nos compromissos com os serviços públicos. Mas os indicadores da depressão econômica de vários setores começam a mostrar que o retorno de atividades, inclusive de empresas paralisadas, necessitará de muito mais apoio. São extraordinários os números de estabelecimentos fechados, em quase todos os segmentos, mas, e especialmente, na prestação de serviços ligados ao turismo, como bares, restaurantes, hotéis, transportadores, agências de viagem. Milhares de empregos foram perdidos e sua recuperação dependerá ainda de um retorno maior das atividades econômicas. 

Mas a recuperação econômica plena depende do avanço no controle da epidemia e seu único meio eficaz, que é a vacinação em massa. Infelizmente não ultrapassamos ainda os 15% de vacinados com a segunda dose, percentual muito baixo para conferir à população brasileira uma imunidade mais segura, com redução das contaminações. E ainda falta, segundo a opinião de dirigentes das entidades empresariais, um programa especial para salvar os setores mais impactados com a pandemia, permitindo o início de sua recuperação. Com suas receitas dizimadas, estes setores precisam de algum apoio especial para o seu retorno.

É salutar lembrar que a economia é também essencial para a vida das pessoas, garantindo seu emprego, sua renda, sua capacidade de ter vida normal. Este é o grande dilema no enfrentamento da epidemia: não é possível paralisar inteiramente a vida econômica, mas também é preciso conter aglomerações e proximidades pessoais para evitar a propagação do vírus. O que é essencial, neste momento, é que a recuperação econômica e empresarial que se inicia se faça com os cuidados indispensáveis preventivos, sem o que corremos o risco de ter que voltar a medidas mais restritivas para todos.

*Jornalista (mauro.werkema@gmail.com)

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