Mauro Werkema
Com objetividade e firmeza, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, hoje autoridade internacional na questão ambiental, nas suas últimas falas, traçou o dilema que o mundo se encontra perante as questões climáticas. O “novo normal” será com aumento das ocorrências de catástrofes climáticas pela alteração da natureza operada pelo uso indevido, abusivo e inapropriado do próprio mundo em que vivemos e que é a casa de todos nós. Mas cuja intervenção, pela mão do homem, transformadora e destruidora, tem limites e altera uma ordem natural do clima e dos muitos fatores que permitiram o surgimento da vida e sua permanência no planeta. E não faltaram advertências, previsões catastróficas, a ocorrência de muitas catástrofes. E lembrou as inúmeras conferências internacionais que trataram da questão climática, a começar pela Rio-92, no Brasil, que já advertia o mundo dos graves riscos que corre.
Marina lista as inúmeras agressões que o mundo atual, e seu modelo de desenvolvimento, exploratório da natureza, vítima da ganância humana, estão destruindo o equilíbrio climático. A começar pela destruição da câmara de ozônio, pelos desmatamentos, pela destruição das matas ciliares, a ocupação desordenada e perigosa de regiões de proteção dos cursos d’água naturais, a alteração dos regimes naturais climáticos do mundo, das estações climáticas.O uso indiscriminado e destrutivo de recursos naturais. E muito mais intervenções que destroem a ordem natural climática, conforme vem sendo sobejamente anunciado pela pesquisa científica, em sucessivos encontros internacionais com muitos discursos e pouco resultados práticos.
No Brasil, diz a ministra, o negacionismo obtuso do último governo federal, mas também com a incúria de governos estaduais, atrasou em muito o combate às intervenções ambientais. E lembra a quase destruição do Ibama, do ICMBio, o descaso oficial com relação a quaisquer políticas públicas de combate à poluição e uso indevido de solos, a exploração inadequada de solos e dos recursos minerais, a falta de programas públicos de proteção de leitos de rios, a construção de casas em regiões de aclividade e geologia instáveis. E muito mais, que a ciência humana conhece e aponta, mas que a ordem econômica e política não respeita numa sociedade cada vez mais perdulária e obsessiva pelas vantagens imediatas.
E, agora, dramaticamente, começa a pagar alto preço, em vidas, destruição de casas, milhares de desobrigados. E, acrescenta a ministra Mariana: mesmo que o mundo acorde para a questão climática, mesmo que opere transformações nas relações com a natureza, serão necessários pelo menos 30 anos de transformações e um extraordinário volume de recursos financeiros que não estão disponíveis. Precisamos de alterações de condutas governamentais, de novas definição e novas prioridades, novos parâmetros orçamentários, espírito público, uma classe política efetivamente comprometida com o país. Mas também um novo modelo de desenvolvimento industrial, menos poluente e menos exploratório da natureza. E teremos que mudar o padrão de uso e ocupação dos solos, rurais e urbanos.
Há um novo padrão climático no mundo. Esta é a conclusão que as ocorrências no Rio Grande do Sul, entre muitas outras, nos mostram. Eventos climáticos extremos continuarão a ocorrer, com chuvas intensas, transbordamentos de rios, alterações climáticas que poderão incluir até na produtividade agrícola. São amplas e coincidentes estas previsões de todos os institutos científicos que, em todo o mundo, se ocupam em estudar as alterações climáticas. O Brasil procura acompanhar este debate, retomando presença mundial e incentiva estudos científicos. Não faltam diagnósticos, estudos, relatórios, com a retomada de organismos que acompanham as diversas ocorrências, no país e no mundo. Mas a dimensão geográfica brasileira, as desigualdades sociais que levam a ocupações desordenadas, vão exigir intervenções de alto custo e muito trabalho. Não há escapatória.
Tragicamente, a tragédia do Rio Grande do Sul nos deixa muitas e graves advertências. Os graves aspectos dos desastres gaúchos falam por sí. Expressam e demonstram, nas diversas e graves ocorrências, que vivemos um novo tempo na questão climática, um novo momento na História Universal que já vem sendo anunciado há bastante tempo. E que revela que o mundo se encontra numa encruzilhada, grave, que pode condicionar a presença da vida humana em grande parte do território, se o mundo, unido e solidário, não for capaz de atuar colaborativamente, em esforços globais capazes de interromper os extremismos climáticos. Eis os grandes desafios que se apresentam à Humanidade neste terceiro milênio.
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