Mauro Werkema
Enquanto os dias de Carnaval não chegam, é oportuno lembrar de algumas questões que afligem os brasileiros: o custo de vida e, muito especialmente, os preços da alimentação e dos medicamentos, que pesam muito nos orçamentos de todos e vem passando por elevações nos últimos tempos. Este é o aspecto mais aparente e mais penoso que aflige a todos e que é apontado como a causa mais preponderante, e aparente, da queda de popularidade do governo federal. Os alimentos básicos, que frequentam diariamente a mesa dos brasileiros, com o arroz e o feijão , e de modo especial, o café, tiveram elevações extraordinária nos últimos tempos, mesmo sendo produtos produzidos no Brasil e em larga escala, sem que os fatores condicionantes das lavouras e da produção tivessem sofrido revezes climáticos ou de outra natureza, gerando notícias de que grande parte dos preços decorrem de especulações gananciosas de toda a cadeia econômica, dos custos de produção ao transporte e os comerciantes.
Ocorre que o bem-estar do brasileiro tem na alimentação e na farmácia condições básicas de vida. A inflação oficial fechou em 4,83%, acima da meta, mas os preços da alimentação subiram muito mais. O café, um exemplo gritante, dobrou de preços mesmo sendo Minas Gerais o maior produto® do mundo. E não sabemos de alteração nas condições de plantio e colheita. O “grupo alimentação e bebidas” foi o que teve ao maior impacto sobre a inflação no ano passado, com alta de 7,69%. Mas alguns itens básicos chegaram a elevar-se mais de 30%. A promessa presidencial da “picanha e da cervejinha ruiu. O preço da comida passou a ser o principal fator do “mau humor” da população, como avaliaram os institutos de pesquisa. E não se pode explicar os preços altos apenas com a alta do dólar.
O governo federal tenta reagir com estímulos à produção de itens da cesta básica. Mas são complexos e de resposta mais lenta. Na verdade, o combate à especulação é também questão complexa. E antiga. O congelamento de preços não funciona. E não se pode combater a inflação por decreto. E o povo, já sofrido, acaba sendo a vítima pois é obrigado a reduzir suas compras, limitado pelo seu poder aquisitivo. E verifica-se que outros preços, inclusive de serviços, surfam na onda altista, inclusive os do gás, energia elétrica, transporte, vestuário. De há muito sabe-se que as ondas altistas são oportunistas e aproveitadoras, um dos males históricos do Brasil.
Aumentar a produção de alimentos gasta um ano para ser alcançada mesmo com incentivos poderosos. O ramo de hortifrutigrandeiros tem resposta mais rápida e está na mira do governo. E situa-se na “agricultura familiar”, que consome menos recursos públicos e tem reflexos sociais elevados. Já devia, há muito tempo, ter apoio específico dos governos até pelos seus impactos benéficos em vários outros setores, como a produção de leite e queijos. O governo gasta fortunas anuais com o plano de safra do agronegócio brasileiro, mesmo para o plantio de soja, destinada à exportação e que tem enriquecido muitos. Mas o pequeno e médio produtor rural não tem incentivos, de recursos, de assistência técnica, apoio na comercialização. São verdades que ajudam a explicar os preços altos da alimentação no Brasil.
A insatisfação popular se explica também pelo custo dos remédios. É uma questão antiga. O setor é dominado por fabricantes que tem no lucro sua motivação e interesse. E é um setor cartelizado, como todos sabem. Combinam os preços e impedem a competição. O Brasil não tem buscado a fabricação de medicamentos de maior uso pela população. E a farmácia popular atende a poucos segmentos. Os preços de determinados medicamentos, mesmo os de uso contínuo e essenciais à saúde e à vida, tem preços absurdos. E com aumentos continuados. O Brasil tem conhecimentos científicos hoje para produzir vários medicamentos, inclusive com quebra de patentes estrangeiras. E não o faz. Remédios caros afligem hoje a população brasileira e está a merecer ação mais enérgica e transformadora do governo brasileiro.
O Brasil vive o “plano emprego”. Falta mão de obra disponível nos mercados. O IBGE estipula um crescimento do PIB para até 3,56% em 2024. A massa salarial cresceu. Alguns serviços públicos melhoraram e os programas assistenciais estão ativos e ampliados. Mas faltam ações concretas e com resultados palpáveis de apoio à correção de ações e condutas tanto na oferta de alimentação como na oferta de medicamentos, apontados como os dois fatores da insatisfação popular verificada nas pesquisas de opinião.
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