Por Mauro Werkema
O Brasil possui credenciais diplomáticas, históricas e políticas para atuar no conflito Israel-Hamas em busca de uma cessação dos assassinatos de populações civis. E, sobretudo, encontrar solução duradoura para a região que vive em guerra praticamente desde 1948, quando ocorreu a definição territorial da antiga Palestina, por decisão da ONU, para abrigar Israel, dando pátria aos chamados “judeus errantes”, vindos de várias partes do mundo e, especialmente, os sobreviventes do holocausto nazista. Desde então, pelo movimento chamado “sionista”, que luta para um território para os judeus, Israel cresce com vinda de emigrantes de todo o mundo. É bom lembrar que o presidente do Brasil é reconhecido, mundialmente, como por sua habilidade mediadora.
O Brasil já atuou, com forças de paz, em Suez, no Líbano e no Haiti. Mas, infelizmente, como presidente temporário do Conselho de Segurança da ONU, não conseguiu sua proposta de paz, recusada por voto único dos Estados Unidos, após concordância de 12 dos 15 países do Conselho. Os Estados Unidos, ciosos de sua posição hegemônica, se colocaram, na prática, pela continuidade da Guerra, em apoio incondicional à posição de Israel, sob o pretexto de que a proposta não expressava o direito de Israel de autodefesa. Ou seja, na prática, de bombardear a Faixa de Gaza sob o pretexto de eliminar o Hamas. Mas, na verdade, sua intenção é aniquilar os árabes da Faixa de Gaza.
O mundo assiste, entre perplexo e assustado, a agressividade do conflito, que ultrapassa todos os limites de qualquer civilidade, quando mata crianças, mulheres, velhos e populações inocentes. Na terceira década do século XXI, a cruel guerra Israel-Hamas, como também o conflito Rússia-Ucrânia, ofendem todos os preceitos civilizatórios que esperávamos já terem sido alcançados e respeitados pelo mundo. E revela a inutilidade da ONU que não consegue votar uma resolução de paz, tornando obvia a necessidade de revisão de regulamentos e compromissos dos seus signatários com o diálogo e a paz entre paz, expressos no seu documento fundador e na famosa Declaração Universal dos Direitos Humanos em dezembro de 1948.
A criação de Israel ocorre pelo fim da Segunda Guerra Mundial e do domínio da Inglaterra no Oriente Médio, em 14 de maio de 1948. Ocupou território partilhado da antiga Palestina, também ocupado por árabes. Os povos árabes originários ficaram com 45% do território. Os conflitos, bíblicos, de origem religiosa e racial, são antigos e geraram vários confrontos. Israel sempre procurou ampliar seu território e acabou por isolar os palestinos na restrita Faixa de Gaza e passou a ocupar também área da Cisjordânia, com novos colonos,”kibuts” e fazendas. Para sobreviver tornou-se altamente militarizado, com apoio dos EUA e Inglaterra. O terrorismo árabe, sobretudo da Faixa de Gaza, surge, em grande causa, pela resistência dos palestinos ao expansionismo israelense.
A busca de uma convivência pacífica é extremamente difícil. E complexa pelos muitos fatores que causaram o ódio e os conflitos. Mesmo uma solução de força é difícil devido às dificuldades de definição de territórios e pela ação de radicalismos extremados e terroristas, de ambos os lados. Como também pela ação dos apoiadores, de um lado os EUA e Inglaterra, em irrestrito apoio a Israel, e os países árabes amigos dos palestinos, como o Iran, parte da Síria, Líbano e vários outros. E Israel, pelos seus radicais, prega hoje a aniquilação total da Faixa de Gaza.
A criação de um Estado independente da Palestina seria a solução, mas que precisa também ser aceita pela comunidade internacional. E que acaba de ser proposta pela China e pelo Brasil. Mas exigiria complexo diálogo internacional. Grande parte das terras da Palestina, já estabelecidas por acordos anteriores, estão hoje ocupadas por Israel. Enfim, todo o mundo aguarda e anseia pela cessação dos sangrentos conflitos, que ofendem a Humanidade e afrontam os mais caros princípios da convivência humanizada. Não pode o mundo conviver mais com situação como esta, extremamente constrangedora, como também o é a guerra Ucrânia-Rússsia.
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