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O desastre no RGS gera perplexidade ambiental

Mauro Werkema

Perplexidade é o sentimento que melhor se aplica aos acontecimentos no Rio Grande do Sul face à magnitude do desastre ecológico, que matou e desapareceu com mais de duas centenas de pessoas, destruiu milhares de residências, provocou milhares de desobrigados e arrasou a capital, Porto Alegre e mais duas dezenas de cidades gaúchas. Perplexidade também com o futuro destas cidades e suas populações e com a imensidade de iniciativas, providência e ações restauradoras da vida normal nestas cidades que, em grande proporção, terão que ser reconstruídas. E indaga-se: quando é que os moradores poderão retornar para suas antigas moradias, se é que o poderão fazer em segurança?

Além das iniciativas urgentes para salvar vidas, o mais importante, no momento, é estudar com profundidade o fenômeno ambiental no Rio Grande do Sul, suas causas e indícios de que poderão ocorrer novos desastres, uma vez que este é terceiro de grandes proporções, o primeiro em 1941 e o segundo há poucos meses. Dá para continuar vivendo nestas cidades, sem que intervenções preventivas extraordinárias sejam feitas e imediatamente? E com que recursos, volumosos, extraordinários e como estará a população até a reconstrução? Indagações fundamentais que começam a ser feitas e são inadiáveis e indispensáveis, mesmo em meio às ações de salvamento.

Nos EUA o Furação Katrina arrasou Nova Orleans, que foi reconstruída e adotadas várias obras de grande vulto para conter as enchentes. Muros de contenção, limpeza dos cursos d’agua, proteção de suas margens e várias outras iniciativas, adoção de novos modelos construtivos, inclusive instalação de bombas extraordinárias para escoamento das inundações. Há que perguntar se o Rio Grande do Sul, mesmo com a solidariedade de todo o Brasil, terá condições de realizar tais obras e garantir tranquilidade aos moradores? E terá condições de amparar a tantos moradores que perderam tudo e estão hoje abrigados em espaços emergenciais?

O debate sobre a questão climática no Rio Grande do Sul é questão urgente e imprescindível. Várias respostas são necessárias e aguardam informações. O que fazer preventivamente? Novas inundações virão? É possível sobreviver nestas regiões planas e de altimetria baixa, cortadas por grandes rios e lagoas? E com instabilidade climática? Será efetivamente possível que obras de contenção das águas garantam segurança para as populações continuarem vivendo nestas regiões, quando existe a opinião científica de que a crise ambiental e climática deverá provocar novas situações extremas? São indagações urgentes.

Há que se pesquisar também responsabilidades, do governo estadual e prefeituras, quando existem denúncias de que foram inoperantes quanto a iniciativas de contenção de enchentes e até revogaram, nos últimos anos, legislações de proteção ambiental para dar lugar a novas lavouras, especialmente a soja. O negacionismo sobre a crise ambiental, embora seja tão discutida e anunciada, em todo o mundo, é uma verdade e perpassa também pelo extremismo ideológico que persiste no Brasil. A campanha destrutiva de fake-news é parte desta questão.

O mundo vive a crise ambiental, que já é sentida no Brasil: enchentes, desmoronamentos de construções em áreas de risco, seca em várias regiões, calor excessivo. E as causas imediatas são conhecidas: desmatamentos extraordinários, destruição de matas ciliares dos cursos d’água, poluição atmosférica. Advertências não faltam em vários encontros internacionais, o primeiro deles no Rio, em 1992. Agora, o dramático desastre do Rio Grande do Sul é o exemplo extremo e que, esperamos, mude condutas.

mauro werkema@gmail.com

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