Mauro Werkema
Em ampla unanimidade e expansão, o Carnaval toma conta do Brasil. Festa popular, universal, democrática, aberta e participativa, permite ao brasileiro, de todas as origens e idades, aderir às manifestações de todos os tipos e organizações, em que demonstram seu gosto pelo lúdico, pelo canto, pela dança, pelo espírito festivo e celebrações, com suas alegorias, fantasias, ironias e críticas, aproveitando a liberalidade da grande festa, em cortejo ou únicos. E o Brasil, inteiro, celebra a alegria, sai às ruas, livre, esquecido das agruras da vida, o preço dos alimentos e dos remédios, até a polarização ideológica e adere ao convívio da alegria, transmuda-se em folião, celebra a sensualidade, em celebração ao Rei Momo, de todos e para todos.
Festa muito antiga e primitiva, de gregos e romanos, adquire expressão maior, monumentalizada nos ibéricos, portugueses e espanhóis, expande-se nas Américas, supera condenações bíblicas, é o “carnis-levale”, pagão, retira a carne preparando-se para a Quaresma, com seu jejum e recolhimento, quando se recomenda renunciar aos prazeres mundanos, no calendário do catolicismo medieval. E celebra-se também o fim do Inverno, do frio. O Carnaval liberta, permite que a alegria e sentimentos aflorem, por isto sua liberdade permissiva, a ironia e crítica, perdoadas, impera o Rei Momo, a alegria, o extravasamento.
Neste 2025 o Carnaval amplia-se extraordinariamente. Alcança a todos, territórios, cidades, grupos sociais. E torna-se fenômeno brasileiro até inusitado pela sua dimensão, que atinge a todos e a tudo, centraliza a vida, adquire monumentalidade e altera vidas, negócios, condutas. E realmente demonstra sua excepcionalidade neste imenso Brasil, em explosão da alegria, em que o canto e a dança, o lúdico, tomam conta a demonstrar traços interessantes da personalidade do brasileiro, que realiza um dos maiores Carnavais do mundo, pela participação popular, pelos famosos, luxuosos e ricos desfiles de Escolas de Samba do Rio e São Paulo, os mais famosos e belos do mundo.
É claro que interessa a todos, governos e ampla rede de prestadores de serviços, é rendoso, estimula o consumo e amplia rendas e até empregos. E recarrega energias. Este ano amplia suas multidões e abrangências territoriais, torna-se festa unânime. Em BH, que tinha o “Entrudo”, trazido pelos Italianos dos primeiros construtores, já não teve Carnaval por vários anos. Mas a festa renasceu extraordinariamente a partir de 2011/12, transmudou-se e hoje atrai foliões, com a característica de propiciar um imenso Carnaval de ruas, com mais de 400 blocos, organizados espontaneamente, alguns com até 150 mil pessoas, em festa que não mais se limita aos três dias do chamado “tríduo momesco”, mas que começa e antes e prossegue depois, a cidade vive a festa em toda a sua extensão, em proporções extraordinárias e surpreendentes.
É importante lembrar, especialmente para as cidades históricas, que o Carnaval é festa barroca, multicolorida e multifacetada, e que já se manifesta nos tempos iniciais da ocupação territorial. Já em 1733, com o Triunfo Eucarístico, festa que inaugurou a Igreja do Pilar, demonstrou-se o barroquismo da sociedade nascente, que o esplendor artístico de todo o século XVIII demonstrará. Dança, canto, alegorias, desfiles, um carnaval precursor, por três dias, percorre as ruas de Vila Rica, explosão de vida e das condições da sociedade colonial e opressora. Mas sempre libertária, irredentista, que marcará a sociedade colonial mineira, em Vila Rica e outras cidades do Ciclo do Ouro e até posteriormente.
Resta a todos nós aproveitar a grande festa popular, traço da alegria do brasileiro, mesmo em meio às dificuldades da vida e esperar que se renovam as energias para a retomada da realidade e o enfrentamento das múltiplas questões que afligem este imenso país. Mas sua maior riqueza é sua alegria, sua capacidade de ser alegre, dançar e cantar. E que aproveite a festa, que é de todos.