Por Mauro Werkema
Festa maior da cristandade, o Natal traz muitas lições, significados e símbolos muito atuais para o mundo carente de solidariedade e com muitos conflitos, assim como para o nosso Brasil atual. A reflexão em torno dos significados natalinos, a que se junta a expectativa de um novo ano, convida a que os espíritos abertos se renovem para a prática da vida, independentemente de qualquer motivação de fundo religioso ou ideológico. O Natal, pelos sentimentos que inspira, e que refletem expressivos e valiosos ensinamentos da doutrina cristã, exalta vários valores essenciais para a conduta humana, da vida em família e na sociedade, a partir de patamares éticos e morais essenciais para todos que desejem ser felizes e cumprir bem seu tempo neste mundo.
A primeira lição é a da humildade. Jesus nasce num presépio, que significa estábulo, numa manjedoura, em meio aos animais, sem pompa ou riquezas. Será esta, a partir do Século XII, a principal mensagem dos franciscanos, a ordem da penitência e do voto de pobreza, criada e inspirada por Francisco Bernardoni, o nosso São Francisco de Assis, e que pregou o próprio despojamento da Igreja de Roma. E cria, com imensa força espiritual, embora simples, sua mensagem de despojamento das riquezas, ambições e vaidade deste mundo, transformada em um poderoso movimento universal. Humildade é condição de sabedoria, abertura para o conhecimento e a mudança. Evita a arrogância e o preconceito, é essencial à convivência produtiva, ao diálogo, à cooperação. E tudo isto passa pela tolerância. Eis o primeiro ensinamento natalino.
O Natal torna Intenso, para o espírito humano, o sentimento de renovação da esperança, essencial a que se mantenha acessa a chama da vida. Esperança de dias melhores, esperança de vida eterna para os que nela creem, esperança de paz e de prosperidade, que permitam o bem viver. Sem esperança, esvai-se o ânimo da vida, o alento à renovação, não há a paz. Na confraternização do Natal, na reunião de pessoas em uma só mesa, no encontro na ceia e no ato de presentear, na abertura da alma a partir da humildade cristológica, no prenúncio do Ano Novo, renasce o sentimento da esperança, fundamental para a vida humana. Dante, na sua Divina Comédia, lê na porta do Inferno, estágio final de sua peregrinação, punição absoluta e infinita, a frase terrível: “Deixai, a vós que entrai, toda a esperança”. A punição maior é a perda da esperança.
Na noite do Natal a confraternização se expressa nos atos de dar e receber, de presentear, de nos sentarmos juntos, comermos e celebrarmos, de abertura à renovação geral da vida, das amizades, das relações, das condutas. É momento de encontro e reencontro, de plena abertura ao diálogo e à cooperação, de aceitação pela compreensão da imensa diversidade deste mundo dos homens e das mulheres, da natureza, e que nos convida ao fraterno convívio com as diferenças e os diferentes. Irmanados na mesma mesa, partilhando da mesma ceia, tornam-se pessoas de boa vontade, perplexas pelo mistério da vida mas também pela alegria de viver, em intensa espiritualidade, estágio superior da condição humana, alimentado pelo sentimento de paz, de solidariedade, de fraternidade, de bondade e boa vontade. E pelo natural emoção de estarmos juntos, contemplamos o mundo e a nós mesmos, integrados nos mesmos sentimentos de paz, amor e bem.
O nascimento de Cristo, exaltado e reconhecido pelos Três Reis Magos, é a Boa Nova, a chegada do Messias, o Salvador, que traz a possibilidade de um novo mundo, renascimento de um novo tempo, com correção de rumos e construção de um novo futuro. É momento de renovação e reconstrução. Com humildade, esperança, verdade e sentimentos genuínos que despertam a ânsia de viver um novo tempo, com todos e para todos. Feliz Natal.
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