Mauro Werkema*
Para onde caminha o mundo? Mesmo nas eleições municipais a indagação é pertinente para o cidadão consciente que vota para escolher seus novos dirigentes. E renova esperança de cidades melhores. É pertinente ainda quando comparamos o clima com que se comemorou a passagem para o terceiro milênio e o mundo de hoje, quando já estamos na terceira década do Século XXI. Na passagem do ano 2000 o mundo renovou esperanças por um futuro melhor: globalizado, ampliava conhecimento e cooperação; a Internet abria laços mundiais e pessoais que aumentavam a comunicação e a cooperação internacionais; a medicina avançaria ainda mais nos diagnósticos e na terapêutica e prolongaria a vida; o maior acesso à educação e à cultura prenunciavam um novo mundo; terminara a Guerra Fria e caíra o Muro de Berlim; os direitos humanos pareciam prevalecer sobre o racismo e impunham o reconhecimento da diversidade; ampliava-se a consciência de que preservar a natureza era tarefa de todos e o combate às misérias sociais era preocupação básica de um novo humanismo.
Previu-se, com visão otimista, que a cooperação internacional poderia remover os bolsões de miséria, de doenças e as guerras. E que a bipolaridade ideológica abriria o diálogo internacional e unificaria o conhecimento, que se tornaria universal. Pregou-se a paz entre os homens de boa vontade, para que homens e governos, num novo patamar de boa vontade e cooperação, pudessem convergir para novos e amplos programas de desenvolvimento humano, social e econômico.
Infelizmente, no entanto, o mundo de hoje nos mostra que pioramos e poucos e isolados são os avanços que registramos. Temos guerras na Ucrânia, nos massacres de Gaza e no Líbano, com o uso de armas de ampliado potencial destruidor, com as ameaças de uso de bombas nucleares, morte e expulsão de populações de seus territórios. E vemos um mundo polarizado, mais do que tivemos ao término da Segunda Guerra Mundial e que levou à criação da Organização das Nações Unidades numa tentativa de uma governança global. Retorna a Guerra como meio de impor poderes e ampliar territórios. A radicalização ideológica se tornou também religiosa e produziu incompreensíveis conflitos e radicalismos. Ataques, invasões, bombardeios, guerra química, genocídios, ditaduras militaristas, tudo isto gerando milhões de refugiados, obrigados a deixar sua terra para fugir de guerras. Retoma-se a corrida armamentista e os arsenais nucleares permanecem.
A milenar civilização árabe virou região conflagrada. A guerra motiva por Israel com seus inimigos árabes assusta o mundo por sua ferocidade e genocídios, afronta todo humanismo e revela a incapacidade do diálogo entre nações. Populações africanas ainda enfrentam a morte para fugir da pobreza. Novos surtos epidêmicos continuam a ameaçar o mundo. E, o que é grave, é que um olhar para o futuro próximo não permite antever melhores tempos nem a médio prazo. Um novo humanismo, tão pregado pelos pensadores e pacifistas, parece afastado das previsões atuais.
Distanciam-se os valores proclamados pelo humanismo dos valores vividos. Os ideais de fraternidade e de justiça social da Revolução Francesa de 1789, o Iluminismo do Século XIX, que derrubou o Absolutismo e exaltou a Ilustração para a prevalência da razão e do estado democrático de direito e da República, a Declaração Universal dos Direitos Universais do Homem da ONU, de 1948, os indicadores da ONU/Unesco para o milênio, parecem esquecidos. O extraordinário avanço científico parece não encontrar correspondência nas Ciências Humanas, na Sociologia, na Ciência Política.
A política, como exercício de busca de consensos e caminhos, parece também corrompida. Já Sigmund Freud, conhecedor da alma humana, pessimista sobre o homem que desvendou, no seu “Mal-estar na civilização”, de 1930, acertou no prognóstico de que a Humanidade muito ainda terá que caminhar e sofrer.
*Jornalista (mwerkema@uol.com.br)