Mauro Werkema*
Afinal, podemos ser otimistas ou pessimistas quanto ao Brasil e seu futuro próximo? A resposta não é fácil devido aos inúmeros vetores que se colocam na avaliação do momento político, econômico e epidêmico do Brasil de hoje. Afinal, a epidemia poderá será contida em quanto tempo? Há previsões de que o pico será em meados deste mês de junho mas não há confirmação segura. Os números de infectados e mortos crescem. E as flexibilizações da quarentena, que já ocorrem em quase todo o País? Facilitam a propagação do vírus, com certeza mas permitem que muitos recuperem seus negócios e salvam-se muito empregos e salários, questão também urgente e dramática, que já atinge milhares de pessoas, sobretudo os assalariados do setor privado, os mais pobres, os que não tem atividade permanente ou empregatícia.
Impõe-se também a divisão: crise política versus crise econômica, ligadas e interdependentes. O Brasil avança no conflito político, com risco até para o regime democrático, distanciam-se do diálogo os poderes da República. Como construir e aprovar, neste clima, as reformas política, tributária, do serviço público e muitas outras que a Nação espera e que a realidade sócio-econômica do Brasil mostra que são urgentes, sem o que o País se mantém estagnado. E o mais grave: como recuperar a economia, o emprego, a atividade empresarial neste pós epidemia, em meio a este conflito político?
Está difícil, portanto, visualizar o futuro, mesmo o mais próximo. Não há dúvida de que o caminho está difícil e que não há luz nítida neste quadro, independentemente das visões ideológicas. O governo federal claudica, as reformas do ministro Paulo Guedes parece que saíram da pauta em meio ao corona vírus e o conflito político, o PIB de 2020 poderá cair a menos 9%, o déficit público poderá superar os R$ 500 milhões, a recuperação de empregos e do consumo é incerta, o desempenho de alguns setores governamentais, com poucas exceções, parece alimentar mais conflitos. Estados e municípios, também em crise, com raras exceções, não tem meios de amenizar a crise econômica, investir para retomar o crescimento ou gerar empregos.
Sem equilíbrio e ponderação será difícil construir caminho mais seguro, que permita alimentar a esperança de um novo tempo, mesmo em horizonte bem além de 2020. E os conflitos alcançam, cada vez mais, as rua e praças, com o acirramento das divergências ideológicas, cada vez mais radicalizadas. E, o que mais grave, envolvem hoje os Poderes Legislativo e Judiciário, que poderiam praticar o equilíbrio que é de sua missão constitucional. Não se vê, também, por parte do presidente da República a moderação indispensável: ao contrário, alimenta ódios, com palavras, gestos e apoios presenciais a manifestações que só aumentam conflitos e dissidências. Enfim, temos epidemia e o pandemônio, eis nossa triste realidade.
*Jornalista (mwerkema@uol.com.br)