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Carta aos Tempos
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Epidemia, conflitos e esperanças

Estados e municípios seguem orientações própria, na ausência de normas e protocolos que se aplicariam a todo o imenso Brasil. No centro do debate estão o uso da cloroquina, condenada por uns e recomendada por outros, embora sem estudos científicos respeitáveis e de segura comprovação, e a flexibilização do isolamento social, também motivos de debates, dividindo opiniões. Neste tempo, as estatísticas mostram diariamente que o covid-19 está presente em todo o território brasileiro, tem grande poder de infectar pessoas de diferentes idades, o tratamento é complexo por exigir centros médicos com capacitação para UTI’s e CTI’s e atenção médica especializada, no que o Brasil é carente na maioria das cidades, sobretudo as mais distantes dos maiores centros.

Com perplexidade os brasileiros assistem as mudanças no Ministério da Saúde. Em plena epidemia dois ministros já passaram pelo Ministério, o primeiro convidado a retirar-se pelo presidente da República e o segundo por iniciativa própria, por evidente discordância de palavras e gestos do Palácio do Planalto. A controvérsia, que ganha os debates que dominam a questão, certamente faz mal ao Brasil e à população e aumenta o temor de todos de serem infectados. De resto, falta no combate ao vírus orientações mais claras, objetivas, protocolos claros de conduta médica e hospitalar, ação dos organismos públicos, garantindo a todos a esperança de breve superação dos riscos e de retorno à normalidade.

É fácil entender que a flexibilização rigorosamente controlada, com critérios que possam reduzir riscos, pode ser perfeitamente adotada. O desemprego, a falência de empresas, sobretudo do comércio, é uma penosa realidade que pode ser minimizada nos seus efeitos negativos com critérios de abertura, que devem ser rigorosamente obedecidos. E exige fiscalização, acompanhamento, avaliação de impactos na proliferação do vírus, conduta da população. Evitar aglomerações desnecessárias ainda é uma providência que deve ser tomada e obedecida. Os estabelecimentos abertos devem obedecer rigorosamente as normas de prevenção.

É claro ainda que cada município tem suas peculiaridades, com maior ou menor risco de proliferação da epidemia. A observação rigorosa destas peculiaridades é essencial na prevenção e na prática da abertura do comércio ou de instituições públicas. A questão é particularmente importante em cidades turísticas, como Ouro Preto, que recebia visitantes de todo o mundo. O controle, em varias cidades, inclusive Belo Horizonte, está sendo feito na entrada, rodovias e aeroportos. Cidade de economia terciária, prestadora de serviços, próprios do turismo, centro universitário, Ouro Preto seguramente exige medidas de maior rigor, que devem ser implementadas desde já, até para garantir que a flexibilização não represente risco maior à sua população.

O Brasil precisa de paz, de diálogo, de entendimento, de integração de esforços e iniciativas. Não é possível a permanência de conflitos, que são alimentados pelo próprio governo federal, com posições dúbias, como é exemplo maior o próprio Ministério da Saúde. Desestruturou-se uma equipe técnica, segundo depoimentos insuspeitos, com perda de observância de critérios e conhecimentos científicos, da Medicina e da Infectologia. Somos hoje, pela estatística, o segundo país no mundo no número de infectados mas a falta de testes e dados confiáveis parece mostrar que a realidade é bem mais dramática.

E assim vamos retardando o término das quarentenas, do controle da propagação do vírus e do retorno á normalidade, o que todos queremos e necessitamos. E que comecemos, desde já, a planejar o futuro, a superação da crise, a retomada da economia e do emprego. Não será fácil.

*Jornalista e historiador (mwerkema@uol.com.br)

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