Mauro Werkema
É hora de construir um novo tempo de governança, de exercício da boa política, de visão futurista, de redução das graves desigualdades brasileiras, de avançar no desenvolvimento econômico, na geração de emprego e renda. Para isto, é preciso que homens e mulheres de boa vontade desarmem os espíritos, desmontem os palanques e acabem com o discurso extremista, antidemocrático e golpista, de grupos que ainda acham que estamos no período eleitoral. O Brasil precisará de diálogo, democrático, verdadeiro e com viés construtivo, imprescindível à construção de uma paz política e social. É possível o diálogo de contrários, desde que com espírito aberto e o compromisso patriótico de contribuir para um futuro melhor.
Muitos são os problemas. E que exigem do governo eleito ações rápidas para o retorno à normalidade de vários setores da vida nacional. É preciso cuidar da saúde públicas com ações rápidas, eficazes. É preciso consolidar a ajuda aos mais pobres, em caráter emergencial. É essencial abrir caminhos para um novo ciclo de desenvolvimento econômico. Há que se restabelecer funções públicas essenciais na educação, na ciência, na cultura, na defesa da Amazônia, nas políticas sociais mais urgentes que permitam aos mais pobres uma vida mais digna, no retorno às produtivas relações internacionais.
Não é fácil. Justamente por isto exige compreensão e participação de todas as forças vivas da sociedade brasileira. Forças Armadas, o agronegócio, os parlamentares do Congresso, Senado e Câmara, governadores, empresários, a imprensa, precisam construir consensos mínimos, sem que tal integração signifique extinção de pensamentos, ideologias, posturas divergentes. Mas é essencial que haja compreensão de que foi eleito um novo governo e que o Brasil precisa avançar, e muito, para cumprir um novo e possível destino.
Luís Inácio Lula da Silva confirma a prioridade para os mais pobres, para reduzir e eliminar a fome. Não há como contestar tal prioridade confiando em que virá com medidas realistas, exequíveis, moral e eticamente inquestionáveis, mas que não podem desestruturar o equilíbrio fiscal, o orçamento público, essencial a que tenhamos recursos para investimento no desenvolvimento global e na recuperação de setores e instituições deprimidos. O chamado mercado, as organizações financeiras que sustentam o jogo especulativo da moeda, precisam enxergar mais além dos próprios ganhos, sobretudo quando não geram emprego ou investimentos produtivos.
O presidente eleito procura um conhecimento efetivo do Brasil com uma extensa equipe de transição. Terá diagnóstico e relatórios de todos os setores da vida nacional. O déficit orçamentário herdado do atual governo é imenso. Alguns setores essenciais não têm recursos. O desmonte de instituições e atividades, por razões ideológicas e má gestão, deixou inúmeras dificuldades, descontinuidades, falências. Não será possível recuperação plena de imediato. Esta é uma compreensão que precisa ser feita, condição para construção de convergências e apoios indispensáveis para um novo tempo de normalidade governamental, política, econômica.
A polarização política e ideológica, que sustenta a radicalização, não constrói. Ao contrário, impede e inibe ações construtivas. A derrota eleitoral é fato da democracia. Mas neste regime, democrático-republicano, não cabem posturas destrutivas, golpistas, alimentadas por visões de um conservadorismo míope, herdados de regimes autoritários e valores ultrapassados, que o mundo contemporâneo renega e condena. Infelizmente, estas mensagens ainda se fazem necessárias no Brasil. As eleições, limpas, incontestáveis, trouxeram um resultado que demonstra seu compromisso democrático e de montar um governo que manterá diálogo, aberturas políticas, busca de compreensão e solidariedade para uma nova etapa da vida brasileira.
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