Mauro Werkema
Festa maior do povo brasileiro, o Carnaval (carnis levale) libera energias e alegrias e há que ser celebrada e bem curtida, na exaltação da vida, do bem viver, na convivência fraterna e pública, no cantar e dançar, em todo lugar, com todos. Momento de fantasias, no vestir, no cantar, ironizar, no celebrar a vida e as amizades, na liberalidade da festa momesca, liberada e convivente, com uma alegre e permissiva subversão. Mas, como tudo nas comemorações e exaltações humanas, com os limites que exige de cada um, para o bem de todos e a alegria da grande festa.
Muito antiga, expandida no mundo grego-romano, crítica, liberada, sensual, livre nas brincadeiras, na expressividade das fantasias, nas músicas, nas danças e cortejos, a grande festa popular brasileira bem expressa a índole do povo brasileira, sua festiva e alegre, mesmo em meio as dificuldades da vida, da sobrevivência, do trabalho e das vivências de todos nos labores inerentes à vida em sociedade.
Afinal, é Carnaval, da alegria, em que a manifestação é livre, na celebração da vida, das amizades, nas expressões da criatividade de cada um, na liberação das ironias e críticas políticas e sociais, na participação livre nos blocos de ruas, nos bailes carnavalescos, nas fantasias, irônicas e críticas, com a graça que a festa popular permite, por força da tradição e do próprio espírito do Carnaval, festa de todos, para todos, liberalizante, para curtir e festejar, liberalizante das agruras da vida cotidiana.
E, dentro do possível, ao som dos enredos musicais, na contemplação convivente e permissiva dos que festejam, fantasiam e cantam. Esquecer por três dias das dificuldades naturais da vida, das lutas no estudo, no trabalho, na sobrevivência, nem sempre fácil, a exigir, de todos e cada um, persistência e esforço, essenciais à vida e à sociedade, com as responsabilidades inerentes à boa sobrevivência em sociedade nem sempre igualitária e facilitadora.
Mas o Carnaval é vida, é alegria, é momento de liberação, esquecimento das dificuldades de cada um, das lutas e embates, que a grande festa permite e exalta, na sua origem, na sua motivação lúdica, nas suas músicas e suas letras, nos bailes, cortejos e desfiles, bandas, blocos. Muito antigo, celebrado já na Antiguidade, com ritos e costumes pagãos, tolerado em parte pela Igreja Católica, liberado para a liberdade de expressão e movimento, ocorre entre por três dias antes da Quarta Feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma, quando a Igreja católica recomenda o jejum, o recolhimento, o silêncio.
Festa universal, ajuda a todos liberar sentimentos e criticas, a princípio chamado “entrudo”, trazido pelos portugueses, mais pacato. Mas a alma brasileira, latina e africana, mais libre e espontânea, brincalhona, deu à festa a dimensão e os festejos expressões mais alegres, espontâneas, lúdicas, espalhou-se por todo o Brasil e tornou-se múltiplo nas suas manifestações e brincadeiras, organizou-se em escolas de samba e blocos de multidões. No Rio e na Bahia, a festa tem reconhecimento mundial e atrai multidões de visitantes de todo o mundo. E sustenta uma imensa cadeia socioeconômica, bordadeiras e figurinistas, carpinteiros, músicos, mestres da coreografia, favorece a hotelaria e a gastronomia, tornando-se um grande negócio que até extrapola os dias carnavalescos, também aumentados na sua duração.
Nas cidades históricas, cenários naturais para as festas populares, o Carnaval encontra imensa receptividade e realiza grandes festas. Ouro Preto realizou grandes carnavais, com escolas de samba, blocos populares e estudantis, atraindo multidões até perigosas e preocupantes para a cidade tricentenária, de ruas estreitas e casarões centenários. E BH, desde os anos de 2012 até a epidemia, protagonizou fenômenos de surgimento de um grande carnaval e a cidade renasceu, até na sua personalidade festiva, nesta grande festa, desfazendo reputação anterior de frieza e afastamento. Hoje, BH reúne 400 blocos de ruas, escolas e mobiliza milhões que procuram o seu novo Carnaval.
Para todos, o Carnaval é a festa maior, livre, democrática, alegre, participativa, que aproveitem exaltando a vida e o bem viver. É de todos, para todos, mostra o Brasil e seu povo alegre.
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