Quem transita regularmente pela Br-356, a Rodovia dos Inconfidentes, no trecho de 110 km, do entroncamento com a Br-040, no Alphaville, até Mariana, constata o crescimento extraordinário do trânsito de veículos de todo tipo. Carros de passeio, vans de turismo, ônibus intermunicipais, caminhões pesados, alguns chamados bi-trens e, nos últimos meses, frota inteiras de caminhões de minério de ferro, ocupam a rodovia a ponto de começar a ter estrangulamentos, lentidão de viagem e o aumento de acidentes. Por isto a notícia de que está nos planos do setor rodoviário do Governo do Estado a sua duplicação é muito auspiciosa. Mas é preciso esperar para ver se acontecerá mesmo.
A Rodovia dos Inconfidentes, no trecho do Alphaville até Ouro Preto, foi implantada em 1952 por decisão do então governador Juscelino Kubistchek, que procurou com esta, e outras iniciativas, valorizar Ouro Preto como destino turístico. Posteriormente, foi implantada a rodovia ligando do trevo de entrada de Ouro Preto a Mariana, que recebeu o nome de Rodrigo Melo Franco de Andrade, mineiro de BH e primeiro presidente do IPHAN, criado em 1937 por Getúlio Vargas. A rodovia contornava Ouro Preto e evitava o trânsito difícil pela estrada das Lages. O professor Antônio Calais, matemático e geômetra, professor da Escola de Minas e também engenheiro do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Estado, foi o planejador e executor da rodovia.
Hoje, o acúmulo de tráfego, que se acelerou muito nesta quase pós-epidemia, tornou o trecho citado bastante congestionado, em qualquer horário. É que atende não só as cidades turísticas como Ouro Preto e Mariana, mas os inúmeros distritos e povoados da Região dos Inconfidentes. E também Itabirito, polo empresarial e comercial que também cresceu muito nos últimos anos e vive momento econômico muito forte. E atende também a inúmeros empreendimentos industriais, como as minerações. E recebe também grande parte do tráfego que vai para Ponte Nova e daí ao Espírito Santo, fugindo da Br-381 que, no trecho de BH a Rio Piracicaba, está com obras inacabadas. E que tem a fama de ser a “rodovia das mortes”, tamanho o número de acidentes.
O incremento do trânsito deve-se também ao surpreendente crescimento dos veículos de turistas e de moradores de casas de campo que, com a epidemia, constituíram uma segunda residência. Nos últimos poucos anos instalaram-se na região, especialmente no entorno de Cachoeira do Campo, Glaura, Santo Antônio do Leite e Acuruí, pelo menos 50 novas pousadas. E, pelo menos dez novos condomínios residências estão em lançamento. A valorização turística de toda esta região é uma tendência irreversível devido à sua natural vocação para atividades de laser, de fruição cultural das cidades históricas e do diversos atrativos do turismo que busca a natureza. E a proximidade de Belo Horizonte, maior centro emissor de visitantes do Estado, garante esta demanda e o fluxo de turistas e de pessoas que fogem da grande cidade. Fluxo que tende a aumentar com o retorno da normalidade econômica.
A promessa de duplicação foi feita mas resta saber da origem dos recursos para obra de grande dimensão. O trecho da Serra do Itabirito é particularmente difícil, montanhoso, íngreme, demandando intervenção volumosa e cara. E mesmo o alargamento da pista, com uma terceira via, é também muito difícil. Uma outra dificuldade é o trânsito de veículos pesados, especialmente da mineração, que é outra vocação da região. Mariana, Ouro Preto e Itabirito, e seus distritos, para não falar na próxima Ouro Branco, possuem minerações de grande porte e é intenso o tráfego de caminhões transportando minério de ferro, em número acelerado este ano, constituindo um perigoso uso da rodovia.
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