Começamos este texto com uma coisa bem grande que afeta a toda a humanidade e terminaremos numa coisa bem intima, poética e que, espero eu, tocará o coração de cada leitor.
Hoje em dia, a sigla BRIC significa “Brasil, Rússia, Índia e China”, isto é, quatro países que querem ser organizados e grandes. E não é por falta de espaço físico nem de população. Os três últimos desta lista têm um pouco mais de 2.5 bilhões de habitantes e o Brasil tem um pouco mais de 200 milhões. Na atual pandemia eles tiveram, juntos, menos mortos do que nossa pátria. Eles também lançam foguetes e satélites interplanetários, enquanto nós cedemos nossa base de lançamento de foguetes no Maranhão para os Estados Unidos… Grátis! Portanto, parece que, infelizmente, só nós não conseguimos ainda descobrir o caminho… Aliás, nem Ministro da Saúde nem Ministro da Educação conseguimos ter!
Mas, antigamente, BRIC vinha da expressão “Bric-a-Brac” que significava uma coisa desorganizada. Como eram algumas lojas e que eram assim referenciadas: “Vá comprar isto na Loja da Maria. Aquilo é um Bric-a-Brac, mas tem tudo lá…”. Voltando há 65 anos atrás, quando eu era jovem, meu pai, um gaúcho que adorava Minas Gerais e principalmente Ouro Preto, assinava o Jornal “Correio do Povo” que circula até hoje no Rio Grande do Sul. O jornal chegava à nossa casa pelo Correio, toda semana. Na edição das segundas feiras, o poeta Mário Quintana escrevia uma coluna com o título deste artigo, onde escrevia frases poéticas, pequenos artigos, visões pessoais sobre acontecimentos, etc. Ou seja, um verdadeiro Bric-a-Brac. Eu recortava esta coluna e guardei-as por muitos anos. Quando você faz isto quando jovem, você nunca mais esquece. Talvez meu espírito romântico e apreciador de poesia tenha resultado disto. Anos depois passei a apreciar Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, nossos poetas maiores. Aliás, CDA escreveu muitas coisas sobre Ouro Preto e o Pico do Itabirito. Voltarei a este assunto oportunamente.
Hoje, com a Internet, tudo é mais fácil. Basta digitar o nome de um dos dois poetas de minha formação (ou de outros bons poetas brasileiros) e você descobre muitas coisas bonitas e que lhe tocarão o coração. E isto, em tempos de pandemia, com tantas mortes de brasileiros, será um alívio para o seu coração. E você, tendo que ficar em isolamento, terá momentos de reflexão. Aproveito este texto para lhe mandar alguns exemplos do que Mário Quintana escreveu, entre eles um sobre o Ano Novo:
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas e todas as buzinas,
Todos os reco-recos tocarem,atira-se.… e — Ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…
Amor
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo
Do amoroso esquecimento
Eu, agora – que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
(*) Rodolfo Koeppel mora em Glaura onde está construindo a Pousada e Café de Glaura e onde espera receber os leitores de O LIBERAL quando terminar a pandemia. Na entrada do Café de Glaura existe uma frase do Alvarenga Peixoto, retirada do livro “Glaura – poemas eróticos” escrito em 1789 e que serve de lema para o Café de Glaura: “Se queres ter ventura, à bela Glaura enternecer procura”. Se você gosta de poesia, entre em contato com rodolfo.koeppel@gmail.com. Se quisar saber mais sobre o Café de Glaura, entre no site (ainda em construção) www.trilhasdecultura.com.br