Neste tempo em que vivemos as mais diversas e variadas problemáticas, em que o direito pessoal ou de grupos superam o direito da coletividade, em que as necessidades individuais se tornam mais relevantes que as necessidades do todo, as polarizações são incentivadas, a política se torna o caminho mais do jogo político do que o bem público, muitas vezes escuso, do que a busca do bem comum, encaramos a necessidade de retorno aos fundamentos, a fim de entendermos a origem para seguirmos com um norte, capaz de apresentar valores essenciais. E por isso, que neste artigo, quero trazer a seguinte reflexão: como nasceu a política?
A política está ligada à pólis, que em grego significa cidade, o cuidado com ela e com os cidadãos. Nascida e fortalecida entre os gregos e os romanos, a organização política estabeleceu normas entre autoridade e poder.
O poder político se pauta, sobretudo, pela coletividade e estabelece distinções bem claras a fim de que a política se torne um exercício saudável.
Entre gregos e romanos iniciou-se a separação entre a autoridade pessoal e a autoridade política. Os postos de governo deixaram de ser hereditários e passaram a ser escolhidos pelos cidadãos. Houve a distinção entre autoridade militar e poder civil, sendo que para uma ação militar (guerra) deveria ser aprovada pela autoridade política e os chefes militares já não ocupavam suas funções por tempo indeterminado. No âmbito religioso, deixou de existir a divinização do governante, que buscava a proteção do sagrado; mas não se colocava como divino. Surgiram neste ambiente as leis como expressão da vontade coletiva e pública, impedindo assim de que a ação do governante confundisse com sua vontade pessoal e com isso houve a criação das instituições públicas para a aplicação e garantia dos direitos e para o funcionamento delas, criou-se os fundos públicos por meio de taxas, impostos e tributos. As decisões deixaram de ser monocráticas (de uma pessoa) ou oligárquicas (grupos específicos) e passou a serem tomadas pelo povo. Daí veio a escolha de cidadãos que representassem o povo nos espaços públicos, a assembleia grega e o senado romano, que deveriam fazer com que a população soubesse do que estava sendo discutido e quais as decisões tomadas, isto é, tornar público.
Surge assim a política, que é o encontro entre as questões surgidas e as soluções como resposta a elas. Em lugar de usar a força para reprimir os conflitos, a política aparece como o trabalho de diálogo e minimização do conflito a partir do bem comum e do legítimo peso entre direitos e deveres.
*Padre da Arquidiocese de Mariana (MG), pároco em Guaraciaba (MG), graduado em filosofia pela FAM e teologia pelo ITSJ. (pensarparalelo@gmail.com)