Mauro Werkema
Os trágicos acontecimentos de Brasília impõem a todas os brasileiros conscientes, comprometidos com a ordem democrática e o estado de direito, cidadãos de bem, que a pacificação do país e a extinção dos discursos de ódio constituem uma imperiosa e urgente necessidade. O Brasil precisa de encontrar caminhos que viabilizem, acima das paixões ideológicas que obnubilam consciências e percepções, as ações governamentais objetivas e operacionais em favor da retomada do crescimento econômico. Este é o caminho, muito acima das divergências, essencial à remoção das gritantes desigualdades sociais brasileiras, à criação de empregos e de trabalho, que permita retirar mais de 30 milhões de brasileiros da extrema miséria e alcançarem condições de vida digna.
É preciso respeitar e reconhecer, num primeiro passo, que houve uma eleição democrática no Brasil, que Luís Inácio Lula da Silva foi eleito e que precisa governar. E reconhecer que são graves e complexos os problemas brasileiros que precisam ser enfrentados com firmeza, com apoio das instituições e dos representantes do povo, para a construção de um amplo programa de governabilidade, com metas concretas e viáveis, a partir das imensas potencialidades naturais, econômicas humanas deste imenso Brasil. Não há mais tempo a perder.
Fora disto é a barbárie ou o retorno à ditadura, ao rompimento da ordem democrática, à ruptura da ordem institucional, em retrocesso que inviabilizaria o Brasil interna e externamente. Seria a derrota da indispensável normalidade política e institucional, da vigência do regime constitucional, pilar normativo da ordem política e econômica e de condições essenciais e propícias ao desenvolvimento de que tanto necessitados. Não será com o golpismo, com a barbárie, com o terrorismo, invasões e depredações, com a destruição dos valores e pilares éticos do ordenamento jurídico, que o Brasil poderá voltar a uma situação de normalidade essencial para enfrentar e resolver as inúmeras questões que estão a exigir ação governamental urgente.
A democracia pressupõe a convivência de opiniões contrárias, à tolerância de pensamento adversos, desde que expressos nos limites da ordem democrática e da Constituição Cidadã de 1988. Além disto, consensos mínimos são essenciais às transformações desejadas, que podem ser alcançadas com o debate salutar, patriótico, de conteúdo, com um nacionalismo sadio e o indispensável sentimento de nacionalidade. Não há como negar que o presidente eleito, democraticamente, nos discursos da diplomação e da posse, exaltou o diálogo, o respeito aos adversários. E demonstra ter consciência de que fora da normalidade constitucional e institucional não há futuro para o Brasil.
Os atos terroristas, o ataque golpista contra o Supremo Tribunal, o Congresso Nacional e as sedes do governo federal ficarão registrados na História do Brasil como tristes, condenáveis e lamentáveis episódios, que degradam a democracia e questionam a ordem institucional. É preciso punir responsáveis pelos desatinos e desvios radicais, para que não se repitam em meio aos embates políticos, naturais e até desejáveis se exercidos com respeito às diferenças e aos diferentes.
Afinal, é prioritário que Brasil retome, com urgência, ao esforço de desenvolvimento, que estimule as organizações empresariais, a expansão industrial, a criação de emprego e trabalho e, essencialmente, investir na saúde, na educação, na oferta de moradias, no transporte público, na proteção ambiental e nas reservas naturais, numa nova ordem política, econômica e social, compatível com a dimensão do seu imenso e rico território, com a urgência necessária e possível. É o que desejamos ou, mais do que isto, precisamos e para o que temos as condições básicas. Paz, concórdia, diálogo, convivência, integração construtiva, convergências, é o que precisamos. E esperemos que o trágico e grave acontecimento de Brasília nos sirva de lição.
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