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Carta aos Tempos
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Brasil precisa de um novo pacto pelo seu progresso

Mauro Werkema

Um olhar mais criterioso sobre o mundo nos indica várias incertezas: ainda sentimos algumas consequências da epidemia de covid-19, temos a guerra na Ucrânia que pode desencadear conflitos maiores, persiste e choca todo o mundo a brutalidade contra o povo palestino, o conflito ideológico que se radicaliza em todo o mundo, a bipolaridade entre EUA e o bloco Rússia e China, a crise na democracia que ameaça os EUA com um presidente de extrema direita, assim como na Argentina, o surgimento da emergência climática com desastres ambientais ainda sem controle e previsões de seus dramáticos limites, a dificuldade de grande parte do mundo chamado civilizado de reduzir desigualdades sociais, evitar guerras e eliminar bolsões de miséria e doenças em grande parte do mundo.

Tudo isto gera incertezas sobre o futuro da humanidade e a impossibilidade, no atual quadro ideológico bi-polar radicalizado, de construção de solidariedades e caminhos cooperativos, gerando vulnerabilidades no presente e para o futuro, não havendo, no horizonte atual, a possibilidade de construção de uma nova ordem internacional cooperativa, com atuação solidária contra as desigualdades, eliminação de guerras e permitir avanços civilizatórios. Neste quadro atual, polarizado, marcado por tensões globais e regionais, fica difícil construir uma nova ordem civilizatória e democrática internacional. 

Esta crise política e estrutural é mundial. Vejam as mudanças na Inglaterra e na França, a incapacidade da ONU de impor soluções pacifistas e evitar conflitos, as tentativas de golpes, de que são exemplos próximos o Brasil e a Bolívia, o surgimento de regimes estranhos e radicais como na Argentina, as sucessivas crises institucionais e ideológicas na América latina. E o acirramento ideológico mundial, com os dois blocos de poder que se digladiam na Guerra da Ucrânia e que sustenta um crescimento armamentista que não afasta o uso de artefatos nucleares.

No Brasil, a política interna, seja a partidária ou a governamental, repete o panorama mundial. Bipolaridade ideológica, sem possibilidade de construção de consensos mesmo quando está em jogo o interesse nacional. O conflito entre os poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário reflete esta dissonância. E temas importantes tornam-se debates ideológicos que tornam caros, difíceis e lentas, decisões, como é o caso da Reforma Fiscal e Tributária, do maior interesse nacional. Mas que é lenta na tramitação, e cara, movida a liberação de emendas parlamentares, do chamado “orçamento secreto” em que parlamentares ganham recursos vultosos sem maior controle de seu uso. São mazelas do Brasil atual, penosas, mas que precisam ser contadas. E perde-se a objetividade no debate quando submetido a interesses pessoais em detrimento do público.

O Brasil é rico, de terras produtivas e agricultáveis, com subsolos minerais de alto valor, dimensão geográfica entre as maiores do mundo, imensa costa marítima, já com setores industriais, tecnológicos e acadêmicos de primeiro mundo. Mas não consegue superar o debate político ainda muito primário, como a votação da reforma fiscal, a proteção contra o uso das mídias sociais e as fake-news, a questão do aborto, já bem encaminhada em vários países, o uso da canabis, um plano de desenvolvimento econômico exequível e sustentável, a questão da inflação que ainda vive o debate entre a Selic em 10.5% e as divergências com o Banco Central, a gestão financeira dos governos, com imensos déficits, a imensa dívidas pública, dívidas e perda de governabilidade. E muito mais. 

O Brasil precisa acelerar a transição energética para não perder a condição econômica e preparar-se para o novo mundo. Precisa equalizar as despesas e as receitas públicas, reduzindo o déficit público atual. Reduzir privilégios, isenções, gastos supérfluos, conter despesas, aplicar mais em infraestruturas, conter o endividamento absurdo, trazer o Banco Central para os esforços governamentais, implementar, com racionalidade e gestão, apoios aos mais pobres com os programas sociais, garantindo recursos para a saúde e a educação. 

O Brasil precisa, enfim, fortalecer a democracia com um diálogo sobre o futuro do país, seu papel e seu lugar no mundo. E precisa de uma nova pactuação política sobre a nossa identidade nacional, como povo e o que queremos para o Brasil. E elaborar um necessário e possível “Projeto Brasil”, realista, mas com visão patriótica e que supere, em precisar de eliminá-las, as diferentes posições políticas. Será possível, enfim, construir caminhos solidários para o futuro, em nome do bem-estar de todos e em favor das aspirações e urgências nacionais. É possível, no horizonte atual, se houver diálogo entre os homens de boa fé?

Jornalista e historiador (maurowerkema@gmail.com)

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