Mauro Werkema
A duplicação e modernização da Br-356 apresenta-se hoje como uma das mais importantes e urgentes obra rodoviária do Estado e do Brasil. O extraordinário fluxo de tráfego, extraordinariamente aumentado nos últimos dois anos, indica um pré-colapso da famosa Rodovia dos Inconfidentes, que liga a Br-040 a três grandes centros urbanos, Itabirito, Ouro Preto e Mariana e a mais de 30 distritos, densamente povoados. O trecho da Br-40, de BH até o trevo com a Br-356, também está cada vez mais difícil, com acúmulo de veículos, automóveis e caminhões de todo tipo, alguma dobrados no seu tamanho. O resultado é que são muitos, semanais, com perdas de vidas, os acidentes, quase sempre envolvendo caminhões e carretas de descomunal tamanho para rodovia antiga.
Anuncia-se obra com recursos do Governo do Estado e parte da indenização pelo desastre de Mariana, num montante de R$ 6 bilhões, já considerado insuficiente por alguns tamanha a intervenção exigida para que a Br-356 se torne segura, permita maiores velocidades e maior capacidade de seu extremado volume de veículos. Anuncia-se que já existe anteprojeto para a duplicação e para alguns trajetos dos novos leitos rodoviários, obra que resultará de ação coordenada pelo DNIT e o DER, do governo estadual. Mas teme-se que seja obra longa e difícil devido à Serra do Itabirito, que apresenta trechos montanhosos, a exigir desmonte de elevações volumosas. E fala-se que a construção de um anel rodoviário para evitar o centro de Cachoeira do Campo é obra cara e difícil, a exigir desapropriações sempre demoradas.
O Traçado atual foi construído em 1952, por obra do então governador de Minas, Juscelino Kubitschek, especialmente para facilitar o turismo para Ouro Preto. JK, apaixonado por Ouro Preto, passou a celebrar o 21 de abril em 1921, em homenagem aos inconfidentes de 1789, dia em que transferia a capital para a antiga Vila Rica, tombada desde 1938 pelo IPHAN Desde então não se fizeram grande intervenções na rodovia a não ser para pequenos trechos de alargamento e uma terceira pista. A obra de JK era essencial porque a antiga estrada de BH a Ouro Preto, Itabirito e Mariana, passava por Nova Lima e Rio Acima, chegando a Itabirito, trechos também muito montanhosos, contornando a Serra do Espinhaço e seguindo o curso do Rio das Velhas.
Agrava ainda mais o colapso da Rodovia dos Inconfidentes o grande número de caminhões pesados e lentos, transportadores de minério de ferro, que atuam sem qualquer normatização ou limitação do DNIT. São caminhões que levam minério de ferro de várias jazidas menores de minério de ferro, existentes na região, para abastecer a vale, em Itabirito ou no Alto da Serra e, agora, na região de Acuruí. No alto da Serra, existe usina de “pellets” da Vale, pequenas pelotas de ferro já com redução primária com retiradas de terra e areia, embarcada pelo ramal ferroviário construído para a antiga Via do Minério, hoje também pertencente à Vale. É significativo lembrar que com a tonelada do minério de ferro acima de US$ a 120 dólares, o transporte por caminhões é muito lucrativo. E todas as mineradoras entreguem o minério para a Vale, que tem as ferrovias, portos de embarque e o transporte marítimo.
Discutem todas as instituições envolvidas, Prefeituras e empresas, a possibilidade de um ramal rodoviário próprio para as mineradoras, a partir de Itabirito, do qual já se desenhou um possível traçado. Mas não se tem notícia de qualquer evolução da proposta nem quem pagará a obra ou mesmo se as mineradoras estariam dispostas a custear o investimento. Ou mesmo se o DNIT, que tem responsabilidade para com as Br-356 e Br-340, pois são trechos federais e sob sua supervisão, concorda plenamente com esta solução ou está, efetivamente, empenhado na busca de uma solução viável. Algumas reuniões foram feitas, concordaram todos com a necessidade de que alguma coisa deve ser feita, e que a situação é grave, mas até agora nada foi encaminhado objetivamente.
E persiste a grave situação, cada dia mais complicada pois vivemos um visível e surpreendente aumento do número de veículos nas cidades e nas rodovias. E o Brasil não tem mais as ferrovias para o transporte pesado, ou mesmo passageiros, com poucas exceções, o que é também outra grave anomalia da economia brasileira, que encarece produtos e mercadorias. Em 1986 o Brasil extinguiu a Rede Ferroviária Nacional e, no caso mineiro, a quase totalidade das ferrovias dedicam-se hoje a transporte de minéri exceção da Vitória a Minas, da Vale e alguns trajetos turísticos.
Região turística, com demanda crescente, convivem perigosamente na Br-356 carros de passeio, ônibus e caminhões, em crescente elevação, com altos riscos e aumento do tempo de viagem, para não falar nos repetidos acidentes, com mortes. Não será obra fácil, nem de tempo breve e desde já há que se pensar em como propiciar que o trânsito não seja impedido ao tempo das intervenções. Tal situação exige que seja obra rápida, como os tempos modernos permitem.