O que é o auxílio emergencial, todo mundo já sabe. É notícia em todos os canais de televisão, rádios, redes sociais… No país das maravilhas, todos afetados financeiramente pela pandemia que vivenciamos, seja aquela pessoa desempregada ou trabalhadora informal, autônoma ou microempreendedor individual, cuja renda familiar mensal é de até três salários mínimos, é beneficiada pelo repasse do Governo Federal de três parcelas de R$ 600,00 ou R$ 1.200,00.
Nesse conto de fadas um detalhe, que na verdade é o mais importante, parece ter passado despercebido, como receber o auxílio emergencial? Fácil, quem já está “cadastrado no Cadastro Único ou recebe Bolsa Família, receberá automaticamente” diz o site da Caixa Econômica Federal. E para quem não se enquadra nesses requisitos a página ainda deixa a dica: “poderão se cadastrar no aplicativo ou site do Auxílio Emergencial”.
Contudo, no Brasil brasileiro, existem pessoas analfabetas, moradores de rua, desabrigados, marginalizados, população de longínquas zonas rurais. Sem contar que o acesso à internet é limitado, muitos não têm computador em casa, outro tanto não tem celular. E ainda assim, alguns que possuem, precisariam de um dicionário para entender que aplicativo significa muito além de algo é que aplicável. A situação real se agrava quando nos lembramos que diversos centros de atendimento aos cidadãos, que comumente fornecem essa ajuda tecnológica, estão fechados em virtude do isolamento social.
Nessa história de fatos reais, o procedimento para ter em mãos a ajuda do Governo, parece estar noutra língua: “será gerado um código que deverá ser utilizado para acesso a sua Conta Poupança Social pelo aplicativo Caixa TEM”.
Continuamos longe de um final feliz. Mais uma vez, parcela da população, a mais vulnerável, é alijada, esquecida. O risco iminente é que as pessoas que mais precisam de amparo, pessoas que têm fome, sejam as mais distantes desse auxílio. E a fome tem pressa, enquanto esse auxílio, pela burocracia tecnológica, não demonstra ser tão emergencial assim.
*Advogada (Instagram: @garantaseusdireitos)