Mauro Werkema
A guerra entre Israel e Iran refletem um sintoma grave do mundo contemporâneo que busca no confronto armado a solução de antigas divergências, como nos revelava também a guerra entre Rússia e Ucrânia. Incorporam a esta nova realidade os conflitos com os grupos armados do Hamas, do Hezbolláh e os ataques destrutivos ao Líbano e Síria. E não se pode afastam a possibilidade de a ampliação destes conflitos para outros países, do Oriente Médio ou mesmo mais distantes, envolvendo os EUA, Inglaterra e mesmo Rússia e China, mesmo com confrontantes não diretamente envolvidos territorialmente. O importante, perante esta nova realidade, é que estamos diante de uma anova realidade em que ficam em segundo plano o diálogo a cooperação internacionais, o enfrentando de questões urgentes e importantes como a crise climática ou a ajuda internacional para o combate à fome e às desigualdades.
Surgido na segunda metade do século XIX, o movimento sionista pregava a autodeterminação do povo judeu e a criação de um país ou região que abrigasse e preservasse a identidade e a cultura judaicas. Mas Israel só foi criado em maio de 1948 por uma assembleia geral da ONU, presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha. A ONU fora em 1945 logo após o término da Segunda Guerra Mundial. A ONU decidiu pela ocupação do território até então sob domínio britânico na Palestina. O líder do movimento, David Bem-Gurion, primeiro dirigente do novo país, liderou caravanas de judeus, de vários países e, especialmente, os sobreviventes dos campos de concentração do nazismo alemão, surgindo então Israel. Mas, desde os primeiros tempos de sua ocupação Israel encontrou resistência severa de nações árabes, de diferentes e antigas religiões. Desde então foram muitos os conflitos. Para sua sobrevivência, Israel tornou-se um país armado com apoio dos EUA.
Esta nova e dramática realidade nos impõe consequências e reflexões importantes neste novo cenário mundial. A ONU já não tem voz e força para manter a paz ou mesmo impor cooperações pelo diálogo. Os conflitos, em um mundo globalizado, têm consequências socioeconômicas para quase todo o mundo, interdependente de comércio internacionais, do petróleo, de programas de cooperação, de ajuda econômica na saúde, educação e pesquisa científica. As nações, próximas a regiões de conflitos, voltam-se para armarem-se preventivamente, com gastos gastronômicos de uma corrida cada vez mais sofisticada, como mostra a guerra no ar, com misseis e drones, de sofisticada tecnologia. Produzir armamentos, capacitar-se preventivamente, frente a possíveis conflitos, passou a ser mais urgente do que as questões climáticas ou sociais.
Não bastasse a polaridade ideológica, que divide o mundo entre as ideologias capitalista e comunista e seus desdobramentos contemporâneos, o conflito de Israel e Iran apresenta dois novos componentes, o religioso e o ódio racial, que impedem convivência e descambam para as guerras de extermínio. E estes componentes são de difíceis solução, muito além dos debates políticos. A verdade é que Israel, em constante conflito desde sua criação, tornou um país armado com as mais ofensivas e modernas armas, com incondicional após dos EUA, que investe fortunas na corrida armamentista, com sofisticada tecnologia bélica, sustentada por indústria que consome fortunas.
O que pode acontecer em Israel, que tem hoje governo adepto da guerra e com ímpetos expansionistas em direção à Palestina, e que enfrenta inimigos em todo a sua região, ainda é incerto. E, neste xadrez mundial, surge agora a incerteza sobre os EUA, com o inopinado e surpreendente Donald Trump, que não parece encontrar mais condições de liderar a busca de um novo tempo de diálogo, paz entre nações e cooperação internacional. E a Rússia, é preciso também lembrar, sob a liderança de Putin, ainda rancorosa pela perda da União Soviética, também revela seu ímpeto guerreiro e expansionista, como mostra a guerra contra a Ucrânia. Neste clima de guerra fica em segundo plano a cooperação internacional para os inúmeros problemas que poderiam encontrar novos caminhos e soluções se esforços conjuntos pudessem ser feitos. Basta ver a grave e emergencial questão climática.
Fica também que organismos internacionais, como o G-7, que se reuniu no Canadá, ou os Brics, novo organismo internacional nas região Centro-Sul mundial, terão que ajustar seus programas. E há que se lamentar a inoperância da ONU que criou, desde seus primeiros tempos, o Conselho de Segurança que realiza reuniões infrutíferas porque não obtém consensos para decisões mais afirmativas. Nesta terceira década do terceiro milênio, a história mundial contraria todas as previsões realizadas, com otimismo, sobre os novos tempos quando se salientava que o avanço da Internet propiciaria um novo diálogo entre nações, com a difusão do conhecimento e da comunicação entre homens e nações de boa vontade.