O Liberal
Últimas Noticias
Carta aos Tempos
4 min

Alimentos e remédios são que mais afligem os brasileiros

Mauro Werkema

Os preços dos alimentos e dos medicamentos afligem todos os brasileiros, especialmente das classes sociais com menor aquisitivo. O debate em tornos destes preços envolve complexidades variadas. Mas constituem questão que precisa ser enfrentada no Brasil com objetividade e verdade até porque são preocupação básica de ampla maioria da população brasileira. A inflação dos preços dos alimentos não se explica nem se justifica à luz da realidade brasileira, país com muitas terras produtivas e um parque produtivo já consolidado em muitos anos. É claro que devemos considerar a crise climática que atingiu lavouras importantes com ocorrência de secas e enchentes decorrentes de uma crise climática que atinge a todo o mundo, alterando safras na produção e nos seus tempos. Mas sabemos que a crise é temporária e que já está passando.

Mas é preciso considerar, como nos mostra o IBGE, que ocorre aumento do poder aquisitivo da classe média brasileira, aquecendo a demanda pelo consumo ao lado de relativa redução da oferta, causando elevação de preços. E sabemos que o comerciante, nesta situação, adota também preços especulativos, aumentando suas margens de lucro. Mas a questão exige análise mais ampla, começando por justas críticas ao governo federal e até aos Estados por falta de um programa amplo de provisão de alimentos, do plantio ao transporte, do atacadista ao varejista. Falta plano nacional de armazenagem, de estoques reguladores e de armazenagem e uma política agrícola que passe por oferta de crédito, estímulos específicos à agricultura familiar como também uma reforma agrária com oferta terras a quem quer trabalhar.

O governo federal parece despertado para a questão, mas os resultados são de longo prazo. Uma boa safra é esperada e a normalização da oferta de certos produtos é anunciada. Mas ainda faltam programas de longo alcance, objetivos e estimuladores da cadeia produtiva alimentar. O desemprego baixou para 6,2%, a massa salarial aumentou 7%, o PIB de 2024 cresceu 3,4%, entre outros índices positivos. Mas o país continua num debate político-ideológico que acaba por paralisar a ação governamental. Mas a inflação é renitente, ultrapassou a meta de 4,5% e a taxa Selic é um absurdo, a encarecer e paralisar a atividade econômica. E é um remédio amargo para a economia nacional. E não há clima no Congresso, preocupado com suas emendas, para debater um moderno e eficiente plano nacional de desenvolvimento.

Na vida do brasileiro outra dificuldade do dia a dia são os preços dos medicamentos. O Brasil tem tudo para desenvolver uma forte indústria farmacêutica. Suas fórmulas são conhecidas e as universidades têm condições de avançar, em muito, na formulação de novos remédios. A indústria brasileira é cartelizada, ou seja, age em acordo com a indústria e é altamente especulativa, como todos sabemos. E muito dependente da indústria internacional e não tem interesse em quebrar patentes, como muitos países o fizeram em nome do interesse público. Há muitos anos a Câmara Federal realizou uma CPI sobre a indústria farmacêutica no Brasil, apontando várias distorções e ações especulativas. Seu compromisso não é com a saúde pública mas com os lucros, como é sobejamente conhecido.

O Brasil tem tudo para ofertar boa alimentação aos brasileiros. Muita terra produtiva. E tem conhecimento científico para produzir medicamentos mais baratos, como já ocorreu no passado. Dependemos, no entanto, de decisões corajosas, em nome do bem-estar da população. E, sobretudo, do objetivo maior de reduzir a pobreza que atinge grande parte da população brasileira.

maurowerkema@gmail.com

Todos os Direitos Reservados © 2025

Desenvolvido por Orni