O exercício do jornalismo tem como uma atividade inerente à profissão a formulação de previsões para o futuro a partir das análises e vetores que se apresentam no presente. Mas, para uma futurologia mais consistente, é essencial contarmos com parâmetros de maior confiabilidade e de uma estabilidade mínima que permita ver o futuro, mesmo que minimamente. O tema, em razão das sucessivas crises brasileiras e os conflitos políticos e pandêmicos, torna este debate muito difícil, quase impossível, embora seja assunto para todos os que acompanham o Brasil atual, evoluções e involuções, impasses, falta de iniciativas e propostas efetivas e viáveis de reforma dos governos e do setor público em geral, compreendendo os três poderes do sistema republicano, Executivo, Legislativo e Judiciário. De resto, a História Brasileira nos recomenda prudência sobre previsões sobre o nosso futuro.
Algumas respostas a perguntas básicas sobre os rumos próximos do Brasil são difíceis. Vejamos: quanto estará vacinada 70% da população brasileira e teremos “imunização de rebanho”? E a economia, a oferta de trabalho, a redução do desemprego, o retorno das atividades paralisadas pela pandemia, quando se dará? As reformas tão discutidas, política, tributária, administrativa etc, quando se realizarão? Quando, e sob que condições, o Brasil conseguirá ter investimentos produtivos, um mercado de capitais forte e não somente especulativo e além da ‘ciranda financeira” que nada produz? E as privatizações, tantas vezes prometidas, como prioridades, serão mesmo feitas? E a classe política brasileira, quanto estará efetivamente a serviço do País e não de si mesma? E as eleições de 2022, serão entre Bolsonaro, Lula, Ciro e outros candidatos que aspiram participar da disputa? Ou até mesmo se serão eletrônicas ou com a velha cédula de votação, como se discute?
Está difícil, mesmo para o exercício do jornalismo analítico, fazer considerações futurológicas ou mesmo dar alguma opinião, mesmo sobre questões já postas no debate diário ou que afligem a todos. A opinião dominante, seja entre esquerda, direita ou centro, é que está realmente muito difícil prever fatos e acontecimentos, mesmo em conversas especulativas. Não é possível nem ter uma certeza mínima sobre uma questão em pauta: e o governo Bolsonaro, terminará o mandato, conseguira realizar um programa mínimo de mudanças, como prometeu? O “centrão”, sempre tão volúvel quanto os interesses momentâneos, garantira mesmo maiorias no Congresso para a aprovação de pautas controversas?
Existem setores da economia que vão bem, a começar pelo agronegócio exportador. E também vão bem alguns ramos da indústria, não prejudicados pela retração dos mercados internos. Mas o custo de vida, medido por uma inflação que está próxima aos 5,5%, aumentando as dificuldades do brasileiro na provisão de suas necessidades básicas, até para a alimentação. E nada ainda garante que ocorra crescimento positivo ou mais expressivo em 2021, lembrando que o PIB brasileiro retrocedeu 4,1% em 2020. Mas, fica a advertência, de que não cabe, mesmo face aos enormes empecilhos que dificultam a evolução brasileira, um pessimismo paralisante. E fica uma última indagação: passada a epidemia o povo brasileiro sairá às ruas para pedir as mudanças que precisamos?
*Jornalista (maurowerkema@gmail.com)