A dramática situação que se encontra o Brasil, pela absoluta necessidade de combater com armas eficazes a epidemia mas também, dentro de uma realidade objetiva, evitar o colapso das atividades econômicas e empresariais, exige visão realista e pragmática de todos os envolvidos. Infelizmente, a opinião dominante entre os epidemiologistas é que o alcance de uma “imunização de rebanho”, com 70% da população brasileira vacinada com a segunda dose, só será obtida por volta de novembro próximo, se o país conseguir importar ou produzir vacinas no montante necessário, o que, por enquanto, ainda apresenta muitas incertezas. Impõe-se, neste momento grave, pensar objetivamente no futuro próximo, tarefa nem sempre fácil, como constatamos a cada dia no acompanhamento da epidemia e suas consequências.
Na realidade, tivemos até hoje as vacinas importadas da China, a Coronavac, pelo Butantân, e a conseguida pelo Instituto Manguinhos, da Índia, que por enquanto propiciaram a vacinação, em duas doses, de não mais do que 6% da população brasileira. O novo ministro da Saúde, um profissional da Medicina, reafirma seu prioritário objetivo de conseguir vacinas mas reitera que não é uma tarefa fácil pois todo o mundo também está tentando comprar e existem países mais pobres que ainda quase nada conseguiram. Enquanto isto, o vírus se mostra capaz de prosseguir na sua ação contagiante e já causou mais de 300 mil mortes e mata mais de 3.000 pessoas todo dia.
Apresenta-se, nesta equação, o dilema: ou o Brasil conseguirá vacinar pelo menos 70% de sua população de 210 milhões de pessoas, precisando de mais de 300 milhões de doses, ou terá que continuar realizando temporários fechamentos de todas as atividades, públicas e privadas, paralisando a economia, fechando empresas, aumentando drasticamente o desemprego e reduzindo as rendas públicas, em um terrível colapso sócio-econômico de gravíssimas proporções e consequências ainda imprevisíveis. É preciso pensar também que existem previsões de que a vacinação deverá prosseguir em 2022, pois existem riscos reais de novas cepas resistentes às vacinais atuais, que sejam eficazes contra um vírus mutante e ainda bastante desconhecido.
Há hoje plena consciência de que o Brasil não atuou, a tempo e hora, no combate à epidemia. O Ministério da Saúde, que deveria coordenar, com ações atuação forte, orientadora e diretiva, todo o território nacional, está no quarto ministro e o penúltimo, um general da ativa do Exército, não conseguiu estabelecer um efetivo e eficaz programa de combate à epidemia. Isto para falar pouco. O Brasil, que tem um comprovadamente competente programa de vacinação, reconhecido mundialmente, perdeu tempo, perdeu foco, titubeou na aquisição de vacinas e até de insumos básicos para tratamento dos doentes e hoje, por todo o país, Estados e municípios relatam falta de oxigênio e medicamentos usados na entubação de pacientes graves, nas UTI’s quase em colapso total. Os exemplos negacionistas do presidente da República, que o Ministério acobertou, tem imensa parcela de culpa na situação que vivemos.
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e a ABIH (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira), seções de Minas Gerais, acabam de divulgar relatórios dramáticos sobre os dois setores: quatro em cinco empresários dos dois ramos fecharam seus negócio ou tem dívidas pesadas. E o futuro da epidemia mostra que a situação vai se agravar nos próximos meses, se não houver uma mudança radical no controle do vírus. Infelizmente, porém, a previsão é negativa. Pesquisa revelou que 90% dos empresários alegam problemas para pagar integralmente os salários de abril. E 82% das empresas alegam estar trabalhando no prejuízo. Em BH cercas de 60 hotéis fecharam e um bem maior número de restaurantes, mesmo os mais ricos. Calcula-se que 39 mil bares e restaurantes estão fechados no Estado, desde meados do ano passado, com a perda de 250 mil empregos.
As cidades históricas vivem crise ainda pior, infelizmente. Dependem em parte do turismo, que reduziu-se drasticamente. O fechamento das agências de viagem mostra a real e dramática situação do setor. Cidades de economia terciária, de prestação de serviços, sem atividade industrial forte, estão mais penalizadas. Hotéis e restaurantes obrigam-se a fechamentos constantes e seus atrativos turísticos e culturais, igrejas, museus, também se fecham para visitantes. E caem as receitas municipais pela pouca movimentação da cadeia econômica, especialmente o comércio. A tomada de consciência de todos sobre a situação que vivemos, com atitudes realistas e responsáveis, é o que nos resta para enfrentar todas estas adversidades.
*Jornalista (maurowerkema@gmail.com)