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Carta aos Tempos
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A ferrovia de BH a Ouro Preto

Na década de 1980, sob o autoritarismo concentrador do regime ditatorial, o Brasil cometeu um reconhecido e grave erro de planejamento econômico: privilegiou a rodovia em detrimento da ferrovia. Hoje, somente 20,7% do transporte de cargas no Brasil é feito por ferrovias enquanto 61,1% é por rodovias (CNT/2018), que tem custo 25% maior, entre outras consequências negativas, entre elas o congestionamento das estradas.  Com a extinção da Rede Ferroviária Nacional cerca de 80% da malha ferroviária nacional foi sucateada, com perda de extenso e valioso patrimônio por todo o país. Destruiu-se o que terá sido o legado maior de Dom Pedro II que, com visão de futuro, atuou decididamente na construção de ferrovias na segunda metade do Século XIX.

Um exemplo bastante expressivo desta perda é a extinção do ramal ferroviário que ligava Belo Horizonte a Ouro Preto, Mariana e Ponte Nova, passando por General Carneiro, Sabará, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Honório Bicalho, Itabirito, Engenheiro Correia, Rodrigo Silva e Miguel Burnier, numa extensão de 160 km. No princípio de 1889, Dom Pedro, que seu nome a esta ferrovia, esteve em Ouro Preto para inaugurar a Estação Ferroviária e o ramal que vinha de Miguel Burnier (que então se chamava São Julião), que permitia a então capital de Minas ligar-se ao Rio de Janeiro.  Resta, hoje, reativado há poucos anos, o ramal turístico entre Ouro Preto e Mariana. No leito da antiga ferrovia pontilhões, tuneis e velhas estações, em ruinas, permanecem como testemunhos do descaso brasileiro.  Restabelecida a ferrovia, o impacto seria altamente positivo para a reabilitação de Ouro Preto, Mariana e vários distritos, incentivando o turismo através de uma viagem por regiões e trechos de grande beleza natural.

Por isto, há que se saudar a proposta da Comissão Pro-Ferrovias mineiras da Assembleia Legislativa de reativar a ligação BH, Ouro Preto e Mariana, como parte das medidas compensatórias a serem cumpridas pela Vale, que já opera na região a Ferrovia do Aço, de Timpopeba, em Mariana, ao Espírito Santo. E que tem a Vitória a Minas e a Ferrovia Centro Atlântica, concessão do Governo Federal, que cobra da Vale indenização por vários trechos abandonados. A linha, reativada, aliviaria a BR-356, a Rodovia dos Inconfidentes, bastante congestionada, antiga e perigosa por seus trechos montanhosos.  E que está ameaçada por duas barragens de minério, Vargem Grande e Maravilhas, na região de Itabirito, ambas da Vale, que já causaram interrupção da estrada. Uma duplicação da BR-356 seria muito cara e certamente não é obra prevista no atual horizonte de dificuldades financeiras.

A Agência Metropolitana de BH tem pronto programa de reativação da ferrovia, com estudo de viabilidade econômica e de custos e indicação de benefícios para a extensa e povoada região que percorreria.  Prevê seu uso regular para passageiros, especialmente os turistas que visitam as cidades históricas, como também para o transporte de cargas. E sustenta que poderia ser fator de ativação econômica e social para as cidades do seu percurso, hoje economicamente em crise, em especial pela restrição atual e o declínio previsto da mineração, atividade principal da região. A proposta, que precisa ser adotada pelo Governo do Estado, que já determinou à Advocacia Geral do Estado a negociação com a Vale, seria encampada pela empresa que já tem as concessões e a experiência na gestão ferroviária.

*Jornalista e escritor (mwerkema@uol.com.br)

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