O Brasil vem batendo recordes de média móvel de mortes por covid nos últimos dias. E os prognósticos de especialistas, epidemiologistas e médicos da linha de frente no combate e tratamento da epidemia, é que o vírus está adquirindo maior poder de contágio, com mutações já encontradas no Brasil, assim como também ocorre em vários países. Em alguns Estados governadores e prefeitos já anunciam colapsos na capacidade de atendimento aos doentes, faltando leitos para internamento de pacientes mais graves e insuficiência de aparelhos. No entanto, apensar de todas estas notícias muito negativas sobre a epidemia e sua propagação, continuam ocorrendo, pelo País, aglomerações e exposições perigosas, desprezo ao uso preventivo de máscaras, higiene das mãos e outras atitudes preventivas.
Há que se indagar porque o brasileiro é resistente a estas condutas de prevenção contra a epidemia. Não é, certamente, a falta de informação ou de conhecimento da gravidade da doença. Falta consciência social, ou seja, de responsabilidade coletiva e solidária? É difícil admitir que as aglomerações decorrem somente por absoluta necessidade de comparecimento ao trabalho ou outras obrigações inadiáveis. Ou por não acreditarem na mortalidade que causa, por algum tipo de desinformação ideológica, religiosa, preconceitos tolos, indução desonesta de pessoas ignorantes? Afinal, cabe indagar, o que o brasileiro, cujo país é o terceiro em todo o mundo nas mortes pelo covid, ainda não temer a doença e se expor irresponsavelmente, como vemos diariamente, mesmo quando as determinações pela não aglomeração são amplas, inclusive com ameaças policiais?
Afirmam os especialistas que o Brasil poderia estar produzindo vacinas. O Butantan, Manguinhos e mesmo a Funed, em Minas, poderiam perfeitamente produzir se tivesse o Ministério da Saúde tomado esta decisão com apoio financeiro, científico e tecnológico, inclusive com ajuda internacional. Afinal, alegam, além destes institutos, que já produziram várias vacinas, Brasil tem um dos melhores e mais bem sucedidos sistemas de vacinação do mundo, com experiência e êxito pleno em várias epidemias. E tem o SUS, organizado por todo o país, já com reconhecida experiência em campanhas de vacinação.
Faltou, no que concordam todos os especialistas, a orientação objetiva e eficaz do Ministério da Saúde, que coordena o Programa Nacional de Vacinação. E que tem os recursos financeiros e mantém relações com os grandes institutos e instituições farmacêuticas de todo o mundo, capazes de fornecer subsídios tecnológicos e científicos no caso de alguma insuficiência brasileira. O Ministério, como é hoje opinião abalizada, perdeu tempo na orientação de uma política nacional de vacinação contra o covid, o que é sua atribuição básica. Trocou ministros, afastou especialistas, incentivou medicamentos comprovadamente ineficazes, adotou, em várias momentos, atitudes negacionistas, não realizou uma campanha nacional de esclarecimento da população, foi surpreendido por crises diversas, como a de Manaus. E continua sendo surpreendido por notícias de colapsos em Estados e municípios.
E, o que é mais grave, como constatamos agora, retardou muito as decisões de compra de vacinas, obrigando-se agora a adquiri-las por preços mais elevados e em cotas menores, além da necessidade urgente de termos quantidades suficientes, em tempo curto, capaz de imunizar parcela considerável da população.
Num país de 215 milhões de pessoas, vacinamos até agora perto de 4% da população e um maior número de vacinas parece que só vamos conseguir a partir de abril ou maio. Estamos, portanto, longe de atingir, mesmo até o final do ano, um percentual de vacinação que garanta a redução da propagação da doença.
Não há como desculpar também a conduta do presidente da República, que vai além da omissão e por menosprezar ou desdenhar a pandemia, com atitudes que não colaboram para a prevenção do vírus e atitudes mais cautelosas da população. Médicos calculam que pelo menos um terço das 250 mil mortes poderiam ter sido evitadas se tivesse o Governo Federal, sob a liderança de um presidente ativo e atuante no combate à epidemia, realizasse campanha ampla de informação com recomendações a toda a população.
O resultado de todas estas atitudes é que nos encontramos hoje vivendo incertezas graves, quando à propagação da epidemia, o aumento do número de mortes, o colapso do sistema hospitalar que já ocorre em vários Estados e munilcípios, a insuficiência da vacinação. E o que é igualmente grave: a paralização econômica, com o fechamento do comércio e falência de empresas, paralisação de escolas e do próprio setor público e uma crise social consequente, com o desemprego. Resta esperar que a população brasileira respeite o isolamento social, evite exposições desnecessárias, use máscaras evitando a contaminação que se dá pelas vias respiratórias. Tome, enfim, as precauções em favor da sua vida e da sua família. E de todos.
*Jornalista (mauro.werkema@gmail.com)