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Queijo Minas Artesanal: um patrimônio mineiro que conquista o mundo

Queijo Minas Artesanal: um patrimônio mineiro que conquista o mundo

Imagens: Marlon de Paula

Reportagem: Lucas Porfírio

É a primeira vez que um produto da cultura alimentar brasileira recebe o título

Café coado, pão de queijo, doce de leite e o famoso Queijo Minas Artesanal (QMA). Esses itens são mais que alimentos, são símbolos da cultura mineira. No último dia 4 de dezembro, o mundo reconheceu essa tradição, quando a Unesco declarou os modos de fazer do QMA como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

“O Queijo Minas Artesanal, os modos de fazer, simboliza o coração de todos nós. Simboliza a mineiridade. Que Minas Gerais e o mundo conheçam a grandeza da nossa terra, a grandeza, muito mais importante do que tudo, da nossa gente”, declarou o secretário estadual de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira.

Segundo a Emater, Minas Gerais conta com mais de 3 mil produtores de queijo. Esse alimento feito com leite cru faz parte da história mineira há mais de 300 anos. “Para nós é um orgulho muito grande sermos reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. Mas, sem dúvida, o maior legado é o modo de fazer, é o nosso queijo, o sentimento que o mineiro tem. O sangue do mineiro corre o queijo”, declarou Thales Fernandes, secretário estadual de Agricultura.

O pedido de reconhecimento foi feito pelo Iphan à Unesco em março de 2023. A demanda foi aprovada durante a 19ª Sessão do Comitê para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial da Unesco, realizada em Assunção, capital do Paraguai. São 10 as regiões produtoras desse “ouro branco” em todo o estado: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Diamantina, Entre Serras da Piedade ao Caraça, Serra do Salitre, Serro, Triângulo Mineiro e Serras da Ibitipoca.

Vivendo o queijo

Formada pelos municípios de Araguari, Cascalho Rico, Estrela do Sul, Indianópolis, Monte Alegre de Minas, Monte Carmelo, Nova Ponte, Romaria, Tupaciguara e Uberlândia, a região do Triângulo Mineiro se destaca pela fertilidade de seu solo e pela abundância de água de boa qualidade, características que influenciam na produção do Queijo Minas Artesanal.

A convite da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG), o Jornal O Liberal Inconfidentes desembarcou em Uberlândia para conhecer de perto o modo de preparo do Queijo Minas Artesanal, agora patrimônio da humanidade.

Foi na Fazenda Terra Aprazível e na queijaria Ouro Gerais, que chega a produzir 17 mil kg de QMA por ano, que iniciamos a nossa jornada. Lá, o produtor e afinador de queijo Thiago Borges nos explicou em que consiste a produção deste produto que faz parte da mesa mineira.

“A fabricação de queijo consiste em juntar alguns ingredientes. Pro Minas Artesanal, você vai ter o leite cru, o pingo, o coalho e o sal. A gente salga a seco o produto depois dele finalizado e envasado. A gente faz esses queijos e eles ficam curando na prateleira de madeira por 22 dias”, explicou o produtor e afinador de queijo.

O pingo, citado pelo Thiago, é uma espécie de soro fermentado, que escorre do queijo na noite anterior. É ele quem vai dar as características da produção seguinte.

Um reconhecimento que fortalece tradições

Mais do que fabricar o Queijo Minas Artesanal, essa é uma tradição que passa de geração para geração, de modo que esse saber tricentenário não se perca jamais. “Meus pais tinham uma propriedade média. A minha mãe fazia queijos. Ela tinha uma casinha onde ela fazia os queijos e tinha um quartinho que era onde guardava os queijos para maturar. A gente sempre viu aquele modo de fazer, acompanhava aquele processo”, conta a produtora rural e proprietária da Fazenda Terra Aprazível e queijaria Ouro Gerais, Walkiria Naves.

Walkiria não é a única que puxa na memória a lembrança do QMA desde a infância. Na Fazenda Rio das Pedras, onde fica a Queijaria Gomes, a produtora rural e proprietária Inez Gomes Rosa Borges mantém viva a tradição do QMA. Responsável pela produção, ela chega a fazer até 80 queijos por dia. “Eu produzo queijo há 12 anos. A gente vem de uma família tradicional de produtores de queijo. A minha avó produziu por muitos anos, até ficar velhinha. Depois que meu pai casou, a mamãe fez queijo por alguns anos. E, em 2012, peguei essa responsabilidade de fazer o queijo, com o queijo já registrado”, relembra Inez Gomes.

Desde 2014, o Triângulo Mineiro é reconhecido como uma microrregião produtora do Queijo Minas Artesanal. “Quem trabalha com o QMA quer resgatar a cultura, quer resgatar o Queijo Minas Artesanal. Quem está no QMA é porque gosta. Com esse reconhecimento como patrimônio imaterial, pelo menos a gente vai sentir que o nosso trabalho vale a pena”, afirma Walkiria Naves.

QMA Ouro de Minas

Partindo para Araguari, que se destaca por possuir mais de 200 cachoeiras, visitamos a Fazenda Retiro Velho e a Queijaria Oliveira, onde conversamos com Sandra Lúcia Alves de Oliveira. Premiada na Expo Queijo 2021, em Araxá, Sandra é a única produtora do Triângulo Mineiro a conquistar o título de Ouro.

“Valorizou muito o meu queijo, fez muito bem pra mim mesma. Me deu uma segurança em trabalhar, em fazer o meu queijo, é muito gratificante. […] Foi muito bom, foi só abrindo as portas. […] Eram mais de 900 queijos. […] O meu queijo é considerado o mais bonito do Triângulo Mineiro”, diz com orgulho Sandra Lúcia Alves de Oliveira.

Futuro promissor para o Queijo Minas Artesanal

Com maior visibilidade ao QMA, o queijo se tornou um dos motes principais dos circuitos turísticos do Triângulo Mineiro. “A gente espera que com um título como esse as pessoas se interessem mais para conhecer como o queijo é fabricado, como surgem essas famílias. Ao mesmo tempo, por ser uma fundação de educação, queremos ampliar ainda mais o número de queijarias e produtores que estejam a fim de certificar”, ressalta o presidente da Fundação Araguarina de Educação e Cultura, Diogo Machado Cunha e Sousa.

Para que isso aconteça, o trabalho será multissetorial. “Nós temos a Secretaria do Agronegócio, que tem todo um corpo técnico que pode ajudar. Eu tenho certeza de que a produção de queijo na nossa região vai aumentar”, pontua o secretário de agronegócio, economia e inovação de Uberlândia, Luiz Eduardo Peppe.

O Queijo Minas Artesanal é, sem dúvida, motivo de orgulho para os mineiros. E Minas Gerais convida o mundo a saborear essa tradição com um bom cafezinho coado e um pedaço de queijo da melhor qualidade.

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