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700 mil alunos da rede estadual de ensino devem ficar sem acesso às aulas remotas

As atividades online terão início no dia 11 de maio
Por Glauciene Oliveira
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação, a partir do dia 11 de maio, os alunos da rede estadual de ensino, cujas atividades presenciais estão suspensas em virtude da pandemia do novo coronavírus, receberão aulas remotas. Porém, cerca de 700 mil alunos ficarão sem acesso às disciplinas online.
A medida foi anunciada no dia 15 de abril, pela Secretária de Estado de Educação, Júlia Sant’Anna. As transmissões fazem parte de um Plano de Estudos Tutorado apresentado por Júlia durante reunião com deputados estaduais, na Assembleia Legislativa.
As teleaulas vão ser transmitidas pela TV, através do canal Rede Minas. Ao todo, cinco horas de programação da emissora serão destinadas às atividades, sendo uma hora para resposta de dúvidas dos estudantes. As aulas serão disponibilizadas também pelo canal do governo estadual no Youtube. 
Alcance falho e desigualdade
O sinal da Rede Minas chega apenas a 186 das 853 cidades de Minas Gerais, o que representa uma cobertura de apenas 22% dos municípios mineiros. A expectativa é que as aulas atinjam cerca de 1 milhão dos 1,7 milhão de estudantes mineiros, deixando cerca de 42% dos alunos sem acesso às atividades remotas propostas pelo governo.
A decisão deixou muitos professores e profissionais em educação insatisfeitos e preocupados. De acordo com o diretor do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) professor Fábio Garrido, desde o início da pandemia do COVID-19 no Brasil, e consequente suspensão das aulas na rede estadual de ensino do estado, o governo vem defendendo a realização de atividades não presenciais, porém a maioria dos professores e das entidades sindicais se posicionam de forma contrária a medida. “Na última semana a secretaria de educação finalmente apresentou sua proposta, que foi elaborada a portas fechadas e em momento algum dialogada com os profissionais de educação”, destacou.
O professor ressaltou ainda que o cumprimento das 800 horas letivas previstas para o ano de 2020 não será possível, por conta da alta porcentagem de estudantes que serão excluídos na modalidade de ensino não presencial proposta pelo governo.
Obstáculos e perigos
De acordo com Júlia Sant’Anna, embora haja muitos alunos sem acesso aos meios digitais de comunicação, a proposta é realizar diversas formas de repasse dos conteúdos. Por isso, o estado quer articular, junto aos municípios, formas de entregar os materiais aos estudantes que não têm internet em casa. “Estamos bastante otimistas sobre as distintas estratégias de cobertura. Sabemos que nenhuma estratégia vai alcançar todos os alunos, mas nossa ideia é sobrepor as soluções”, disse.
A proposta de Júlia entra em conflito com uma decisão liminar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que suspendeu a deliberação, editada pelo comitê extraordinário contra a COVID-19, que determinava a volta ao trabalho dos trabalhadores da rede estadual de ensino. A decisão partiu de um ofício enviado pelo Sind-UTE/MG.
Segundo Fábio, a medida do governo fará com que estudantes que não têm acesso online se dirijam até as escolas para receber o Plano de Estudos Tutorados. O que significa, necessariamente, trabalho presencial nas escolas para atender milhares de estudantes, quebrando o isolamento social e as medidas preventivas ao COVID-19.  “Reitero minha preocupação com a vida de toda comunidade escolar. Trabalhadores em educação serão colocados em risco e famílias ficarão expostas ao contágio pelo coronavírus ao irem até às escolas para buscarem um material didático de qualidade questionável.”, apontou.

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