Por Valdete Braga
Depois de um bom tempo, resolvi aproveitar o feriado prolongado para uma viagem. Fui, junto com amigos, passar uns dias no campo, longe das aglomerações pelo aniversário da cidade, devido aos shows públicos que trouxeram a Ouro Preto milhares de turistas, além de moradores que foram à Praça Tiradentes para curtir os shows.
Vacinados e com a vida chegando ao normal, muitos já participam, mas no meu caso específico, ainda não me sinto segura.
O retorno à vida normal já está bastante adiantado, mas é importante que cada um siga o seu ritmo, por isso viajamos para local arejado e ficamos ao ar livre, de acordo com o que acreditamos.
Na divisão dos carros, coube a mim viajar com um casal de amigos e o filho deles, de oito anos de idade. Em determinado ponto da estrada, um carro nos ultrapassou, em local proibido, numa manobra arriscada. O meu amigo falou:
– Que louco, colocando em risco sua vida e a dos outros, ultrapassando deste jeito.
Assim que ouviu o comentário do pai, o filho disse:
– Dá um tiro no pneu do carro dele, papai.
Fiquei sem palavras com a frase do menino, mas o pai respondeu de imediato que ele não usa armas e, em uma linguagem própria para a idade do garoto, fez um minidiscurso sobre o perigo de agir com violência, ao que de vez em quando, se surgia oportunidade, tanto a mãe como eu fazíamos alguma intervenção.
O garoto ouviu atentamente e retrucou:
– Mas foi ele que começou, pai.
Novamente os adultos esclareceram o menino, que ouvia também atentamente, e mais tarde, longe da presença dele, comentamos sobre o ponto a que chegamos. Nesta onda assustadora de violência que nos assola, para uma criança de oito anos, “dar um tiro” seria uma resposta do pai a algo que o desagradou, e pior ainda, na cabecinha infantil, o fato de atirar no pneu do carro e não no motorista justificaria o ato.
Sorte tem este garoto, cujos pais oferecem uma educação esclarecedora, tão necessária diante do que lhe é jogado pelo estilo de vida atual. Vivemos tempos de uma banalização absurda da violência, onde os responsáveis precisam ficar atentos a este tipo de pensamento. Atirar em alguém é visto por muitos como “resposta” ao que não lhe agrada, e estes muitos se acham certíssimos, o que banaliza ainda mais uma violência que pode chegar ao crime.
O mundo está doente de agressividade, e precisamos, a nível de sociedade, rever urgentemente estes valores.
Violência atrai violência, e isto fica claro quando este tipo de comentário sai da boca de uma criança. Quem dera todos os pais tivessem a mesma reação!