Reza a lenda que havia um garoto muito inteligente e esperto, que passava sérias dificuldades, pelo fato do pai estar desempregado e sem condições sequer de colocar comida à mesa. Viviam ele, o pai e a mãe em profunda miséria, apesar dos constantes e incansáveis esforços do pai para conseguir emprego. O pequeno passara o ano todo muito abalado, chegando a passar fome e frio, junto com os pais, e a tristeza reinava naquela casa.
O menino freqüentava a escola de sua pequena cidade e, com a aproximação do Natal, a professora pediu aos alunos que fizessem, a título de redação, uma cartinha ao Papai Noel, solicitando o presente que gostariam de ganhar.
Pegando papel e lápis, o garoto escreveu:
– Querido Menino Jesus, vou escrever para você e não para o Papai Noel. Eu sei que quem dá os presentes aos filhos são os pais e não o Papai Noel, como dizem. Mas eu gostaria que quem desse os presentes fosse você, Menino Jesus, porque eu tenho certeza de que daria a todos e, principalmente, aos mais pobres. Sim, eu tenho a certeza de que seria assim, pois você nasceu pobre e também pobre morreu.
Então, não vou pedir nada para mim. O meu pai está há um ano sem trabalho e precisa ganhar dinheiro para nos sustentar. Por isso, peço que arranje um emprego para ele. Eu sei que Natal quer dizer nascimento e, olha, nós também nascemos e, com certeza, não foi para que morrêssemos já, sem dar testemunho sobre a terra. Se assim fosse, como é que poderíamos dar os parabéns pelo seu aniversário?
Ao ler a carta, a professora se emocionou e, sabendo que havia uma vaga para porteiro da escola, levou-a à diretora, que também se emocionou e prometeu a vaga para o pai do garoto. Pouco antes de as férias começarem, a professora o chamou e disse-lhe que tinha arranjado trabalho para o seu pai e que ele poderia começar a trabalhar no princípio de janeiro do próximo ano. Foi tal a alegria da criança que ela chorou copiosamente e, desde então, passou a andar tão contente, que os pais não sabiam o que dizer. No entanto, ele não contou o porquê de sua alegria.
Na véspera de Natal, todos se deitaram cedo, pois o jantar consistira em sopa e pão, doados pelo dono da mercearia.
O menino não adormeceu logo. Depois de ter verificado que os pais estavam dormindo, colocou o seu sapatinho à porta do quarto dos pais, com um bilhete dentro.
No dia de Natal, a mãe, que era sempre a primeira a levantar-se, ao sair do quarto tropeçou no sapato do filho. Abaixou-se para pegá-lo e viu o bilhete. Leu-o: “Pai, a partir de janeiro vai ter trabalho. Foi a minha professora que o arranjou, por causa da minha redação ao Menino Jesus. É o nosso presente de Natal”.
Com lágrimas nos olhos, o casal entrou, pé ante pé, no quarto do filho. Ao vê-lo profundamente adormecido e sorrindo, ambos disseram: “eis aqui o nosso Menino Jesus”.